terça-feira, 27 de outubro de 2009

Grandpa viu a grapeuva

Fim de ano chegando e com ele as milhares de propagandas de colégios que tentam a qualquer custo convencer os senhores pais de que lá é o lugar que vai educar seu filho e colocá-lo no caminho do sucesso.

As propagandas agora começam cada vez mais cedo e além das tradicionais imagens de alunos felizes e atentos às aulas (ONDE É JÁ SE VIU UMA TURMA INTEIRA ASSISTIR AULA COMPENETRADA? A verdadeira turma é aquela com cara de entediada, passando bilhetinho, ou dormindo!) e dos usuais enaltecimentos para a infra-estrutura do colégio, o qual anuncia oferecer piscina, aula de informática, quadra poliesportiva, TV a cabo e equipamentos áudio-visuais de última geração, eu já vi escola anunciando até alfabetização semi-bilingue.

Os pais, ingênuos e pensando no melhor para o seu filho, adoram essas histórias, mas depois que as crianças entram na escola mesmo é que vêem quão furado era o papo da propaganda, uma vez que dificilmente as crianças terão acesso a tudo o que foi anunciado antes.

Isso daí até certo ponto é normal. As escolas têm o direito de vender o seu peixe do jeito que quiserem, cabe a nós julgar se aquilo faz sentido ou não. Mas tem umas coisas que não dá pra aguentar, tipo essa história da alfabetização semi-bilingue. Sem brincadeira, os caras estão passando dos limites. Educação Semi-bilingue é a coisa mais idiota que eu ouvi.

Diz aí: O que ser uma educação SEMI-bilingue? A criança vai aprender a ler normalmente em uma língua só, né? Afinal o prefixo semi- nos remete a idéia de metade e o prefixo bi- nos dá sentido de dobro, e se a metade de dois é um, logo o semi-bilingue não faria sentido algum. Ou será que a escola queria dizer mesmo é que a criança não vai ser alfabetizada direito em nenhuma das duas línguas, ficando com a educação dos dois idiomas pela metade?

Percebe-se que o diretor do colégio faltou não só a aula de português, como a de matemática também. E aí a gente chega a outra conclusão triste: Os diretores são seres ainda mais ingênuos que os pais, porque eles acreditam MESMO que todo esse papo de propaganda é verdade, afinal, eles é que apresentam o colégio para os pais atraídos pelo outdoor chamativo.

Se a escola for daquelas mais conservadoras, o diretor vai dizer que a escola é muito rigorosa e lá o aluno aprenderá a ter responsabilidades, etc. Uma bobagem, claro. A escola vai ter muitas regras idiotas, mas mal sabem eles que as escolas mais rigorosas são aquelas que têm os piores alunos. Já ouviu aquele papo de que o que é proibido é mais gostoso? Pois é, os alunos das escolas conservadoras são os que mais aprontam.

Agora se a escola for mais modernosa, o diretor vai tentar convencer de que o ambiente ali é de liberdade (mas com limites) e que vai incentivar a criatividade e o desenvolvimento da aprendizagem da criança de maneira lúdica e construtivista (como eu odeio essa palavra!), com o objetivo de torná-la um cidadão muito melhor. Essa história de ludicismo pode até funcionar por um tempo, mas essa filosofia não sobrevive ao fim do primário, que é quando, por mais boa vontade que tenha a escola, ela não pode evitar parecer com as conservadoras ali de cima.

Ainda há os colégios que prometem aos pais que se seu filhote estudar por lá, a aprovação no vestibular será garantida porque, segundo eles, são a instituição que mais que mais aprova no vestibular ou o primeiro lugar em tal, ou tais, universidades públicas, instigando até uma certa rivalidade entre as escolas próximas da região.

Bom, se todas elas alegam ser aquela que ocupa mais e melhores posições nas classificações do vestibular, você já deve ter percebido que alguma delas deve estar mentindo. Algumas conquistam sim esse mérito, mas não por ter o melhor sistema de ensino que moldou o aluno desde cedo com todo aquele papo de diretor de escola. Não vou negar que elas têm excelentes professores, mas também, catando os quase aprovados em medicina no ano anterior e oferecendo bolsas a eles para estudarem lá depois fica fácil colocar a foto do cabeçudo no outdoor do ano seguinte.

A essa altura, você já deve ter percebido que toda a metodologia e ideologia e infra-estrutura da escola pouco tem a ver com o processo de aprendizagem.(Eu, particularmente, não acredito nessas metodologias todas.) O que faz a diferença mesmo é o material humano da sala de aula: professores e alunos. Se o mestre souber e quiser ensinar, ele vai lá, dá a sua aula (que pode até ser inventiva, mas por mérito próprio, não por causa da filosofia da instituição) e o estudante se quiser, também vai aprender. Os melhores colégios não são aqueles que têm piscina, TV a cabo e ar condicionado. São os que têm os melhores professores e os melhores alunos.

Prova disso é o anual resultado do ENEM. As escolas públicas com melhores notas ficam na frente de muito colégio particular que tem isso tudo aí. Por quê? Porque, apesar de não ter essas coisas e até enfrentarem goteiras, paredes caindo, etc, eles têm os melhores professores e os melhores alunos (ambos concursados).

E isso não tem nada a ver com a filosofia da escola, porque eu já estudei em colégio tradicional e decorei tabuada e fiquei muito bem, e fui para uma outra escola que tinha muito discurso, mas no fim não era lá muito diferente da outra e também aprendi bastante, e depois fui estudar numa dessas escolas públicas precárias de infra-estrutura e que não dava nem bola pra vestibular e a gente quase não tinha regras, mas que influenciou muito mais o meu caráter do que as outras que faziam propaganda e ainda me proporcionou uma ótima educação que me deu condições de passar no vestibular sem precisar de cursinho.

Mas os senhores diretores não sabem disso e nem podem apresentar isso aos pais, porque diretores geralmente não sacam muita coisa. Eles nem pensam quais significados podem ser atribuídos à expressão “alfabetização semi-bilingue”. Eles acreditam naquilo tudo que eles dizem sobre os equipamentos e regras e filosofias da escola e não lembram mais como é ser aluno e muitas vezes também não sabem como é ser professor. E mesmo que soubessem, eles não podem garantir que ali eles têm o melhor material humano dentro da sala de aula na hora de fazer a propaganda (pior mesmo é quando o diretor se gaba dizendo que a escola dele tem os melhores professores, ou ainda, os melhores alunos. Oh, ilusão!), então têm que apelar para essas técnicas de convencimento baratas já bastante conhecidas a fim de justificar as caríssimas mensalidades.

E é claro que TV, computador, quadro dinâmico e esse montão de coisas é muito bom, mas de nada vão adiantar se não forem usados ou se não tiver um bom mestre para orientar e uma turma dedicada para aproveitá-los. Afinal de contas, até pouco tempo atrás não tinha nada disso e os alunos aprendiam tanto quanto hoje (ou até mais). E em uma língua inteira de cada vez...

A verdadeira sala de aula
2 x 0,5 = 1

4 comentários:

  1. Putz, tive que rir com o semi bilingue... :P

    Muito bom seu post! ;)

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  2. A minha escola do ginásio também era assim! Inventava um monte de mentira pra atrair as pessoas. A última deles era que a escola agora era golden, um novo nível de educação... no final das contas a única coisa q mudou foi a cor das paredes ¬¬

    PS: Crise de riso por causa do semi-bilingue kkkkkk

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  3. Olá,
    è bom ver que existem pessoas que refletem sobre aquilo que lhes é proposto e se engajam a ponto de levantar esses questionamentos em um texto da internet. De fato é preocupante a comercialização do ensino e o fato de as instituições e também os PAIS e ALUNOS verem o ensino como um produto a ser adquirido. Concordo com vários pontos como como o fato de que o crucial no processo é o "material humano" e que a melhor escola não é a que tem os melhores computadores. na verdade, muitas vezes tendem a ser as piores, pois o dinheiro investido nas propagandas é repassado para o aluno e não vai para o professor, o que compromete muito a qualidade do profissional, seja por sobrecarga de trabalho porque os profissionais que aceitarão trabalhar por menos podem não ser muito bons. Entretanto, seu texto vem confundir muito mais que esclarecer os alunos , você pareceu criticar coisas como "construtivisto" e o conceito de semi bilinguismo quase ignorando a lógica do uso do prefixo, entre outras coisas. Com certeza, com seu pensamento crítico e com esse espaço na net, você pode influenciar muitas pessoas, então deveria fazer isso com maior responsabilidade. o que você disse sobre semi bilinguismo, por exemplo, ficou engraçadinho e pra quem não é especialista seja em processos de aprendizagem ou em línguas, "faz sentido". Mas sugiro que pesquise um pouco mais a fundo, leia trabalhos, estudos e experimentos realizados, vivencie as teorias e aí então você pode formular uma opinião concreta sobre diferentes métodos e sua eficácia. O termo bilinguismo é usado já há muitos anos, não pelo diretor de uma escola, mas por estudos em lexicografia e também no trabalho com surdos. , para citar apenas alguns exemplos. Opinião todo mundo tem, mas conhecimento de causa e embasamento para as opiniões já é coisa rarea de se achar.

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  4. Denise, o termo bilinguismo realmente é usado há muitos anos, mas semi-bilinguismo, pra mim é novidade. (Uma das professoras de português dessa escola, q é minha amiga, tb achou "semi-bilingue" um negócio absurdo, aliás).

    No caso que eu citei, educação semi-bilingue é um termo tão inapropriado que a própria escola trocou a propaganda no ano seguinte para "educação bilingue".

    E pode até ser que em algumas instituições, eles sejam utilizados verdadeiramente como deveriam ser tratados na teoria. Mas no caso citado e na maioria das vezes, é só mais um truque para enganar pais bobos. O que eles querem dizer é que as crianças terão aulas de inglês desde cedo. Mas aprender umas palavrinhas em inglês é bem diferente de ser alfabetizado em inglês.

    No meu tempo, o termo da moda era "aula de informática". (Até parece que alguma escola ensinou alguma coisa de informática para alguém...) Hj é a tal da educação bilingue.

    Quanto aos processos de aprendizagem, eu realmente não acredito em métodos inovadores. Acredito em professores inovadores. Eles sim é que fazem a diferença numa escola, com formas diferentes de ensinar, por que não?

    Acho que o construtivismo é muito bonito na teoria, mas na prática, é difícil de ser seguido. É importante que o aluno se envolva no processo, e aprenda brincando, etc, mas é inadimissível que uma criança chegue a 5ª série sem saber quanto é 4x8, porque não a obrigaram a decorar a tabuada.

    Admito que não sou estudiosa do assunto e falei somente por experiência própria no texto, mas acho muito mais irresponsável um colégio anunciar "educação bilingue" quando só poderá oferecer umas aulinhas de inglês 2 vezes por semana.

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