terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Retrospectiva 2010

Então é Natal, e o que você fez? O ano termina e começa outra vez...

Bom, Simone, em 2010 eu fiz uma porção de coisas. Foi um ano bem movimentado. Não sei dizer se foi bom ou ruim. Foi... diferente. Foi um ano de primeiras vezes, de mudanças, de jogar fora um monte de coisa velha, de ficar cansada e de aprender um monte de coisas novas. E como toda as mudanças, elas são sofridas, mas também trazem o crescimento que não teríamos caso elas não acontecessem.

Chega de papo furado, é hora de encarar a câmera de segurança do Cefet (piada interna - pois é, apesar de todas as mudanças eu ainda continuo bem nostálgica) e apresentar a Retrospectiva 2010.

Em 2010 eu...

•    Arranjei um estágio
•    Renovei o estágio
•    Arranjei outro estágio
•    Fiquei em 10º lugar num concurso tendo estudado só 4 dias (infelizmente só eram 3 vagas e também não ia rolar de tomar posse porque ainda faltava 1 ano e meio pra acabar a faculdade. Agora falta só um).
•    Fiz aula à noite da faculdade pra fugir da doida de Moda
•    Tive aula com um professor totalmente caquético que corrigia as provas do jeito que ele bem entendia e calculava as médias da mesma maneira (isso já no outro período)
•    Tive que implorar ponto pra esse professor caquético pra não ir pra prova final, mesmo que esse ponto fosse meu de direito porque ele tinha me roubado antes.
•    Consegui manter o blog atualizado, mesmo com o tempo livre bastante reduzido.
•    Conheci pessoas legais por causa do blog e recebi meus primeiros selinhos
•    “Fiz” um amigo virar blogueiro.
•     Esse amigo “me fez” criar um Twitter, meio contra a minha vontade (junto com mais outros dois amigos de Cefet twitteiros que tem até fake. Pronto, Felipe, rs!).
•    Aprendi a gostar do Twitter
•    Re-econtrei um amigo que eu já não via havia, deixa eu fazer as contas, 7 anos!!!!! (Pronto, Douglas! rs)
•    Instalei tv a Cabo na minha casa
•    Assisti aos Jogos da Copa na praia de Copa (quando mostrou aquela multidão lá em Brasil e Coréia do Norte, e em Brasil e Portugal – eu tava lá no meio! Ôooooo!)
•    Quase não assisti a Brasil e Costa do Marfim porque uma estofaria pegou fogo aqui perto de casa e a Light cortou a luz das redondezas.
•    Comemorei os gols atrasados por causa do delay da TV a cabo. (Os vizinhos gritavam quando o Robinho ainda estava entrando na área, a gente já sabia que era gol).
•    Tive que ir trabalhar depois de ver o Brasil perder da Holanda.
•    Torci pro Uruguai no melhor jogo da Copa (2º tempo da prorrogação. Soarez tira a bola com a mão no último minuto. Pênalti para Gana. Gana PERDE o pênalti e a disputa vai para... os pênaltis. Loco Abreu de cavadinhaaaa!)
•    Fui ao Engenhão ver Botafogo x Palmeiras (0x0)
•    Ganhei um celular novo (o antigo já estava pedindo arrego)
•    Ganhei uma cama nova (a antiga também já estava pedindo arrego)
•    Ganhei uma cômoda nova (idem)
•    Acompanhei a última temporada de Lost “ao vivo” pela 1ª vez.
•    Me decepcionei com o final de Lost
•    Presenciei um acidente de carro diante dos meus olhos, enquanto esperava para atraverssar a rua
•    Chorei com os desenhos da Pixar
•    Terminei o curso de Espanhol
•    Experimentei a sensação de pagar as coisas com cartão
•    Votei e encontrei meus companheiros de mesa em 2008 (não fui chamada esse ano)
•    Tive que votar de novo no 2º turno
•    Sofri com as piadinhas da Eliza Samúdio
•    Fiquei ilhada no Rio de Janeiro e achei que não ia chegar em casa nunca mais (esse NÃO foi o dia da enchente histórica)
•    Voltei pra casa na boa no dia da enchente histórica. Só fui ficar sabendo da enchente no dia seguinte, quase chegando na faculdade. Aí eu tive que voltar de metrô cheio sentido Pavuna às 10 da manhã, brincando de Tetris Humano (o metrô nesse sentido nunca fica desse jeito) – foi recorde de passageiros do metrô. Eu estava lá!
•    Aprendi a pegar um monte de ônibus diferentes
•    Aprendi a andar no Centro do Rio
•    Aprendi a falar ao telefone com gente que eu nem conheço...

E a lista poderia continuar com muitas outras coisas insignificantes (ou não), mas eu vou parar por aqui.

O ano novo já está batendo na porta e eu não faço a mínima do que ele me reserva. Só sei que em 2011 tem Bienal do Livro (e pra manter a tradição é claro que eu vou) e Rock In Rio no Rio (e pra manter a tradição é claro que eu não vou) e no final do ano, se Deus quiser, estarei formada (pois é, passou rapidinho. Parece que foi ontem que tinha medo de trote e me fazia malabarismo de matérias do Cefet e da Uerj...). Ah, sim, e tem a Anne apresentando o Oscar também (de suma importância isso, como eu pude me esquecer?).

De resto, vamos ver. Não faço promessas de ano novo porque sei que não cumpro, mas se tem uma coisa que eu vou fazer apesar dos meus maiores medos é continuar escrevendo pra cá pro Inútil porque é algo que me faz bem à beça. E espero que faça bem pra quem o visita também.

Porque aí quando a Simone vier perguntar no final do ano que vem o que foi que eu fiz, eu vou poder responder que fiz a diferença na vida de alguém, mesmo que semanalmente e por alguns minutos enquanto a pessoa lia o post.

Feliz 2011 pra você!
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domingo, 19 de dezembro de 2010

Desabafo

Acho que já falei aqui que de não ter controle das coisas. Não gosto de ter que me adaptar a uma nova situação. Não gosto de não saber onde estou pisando e de não saber como agir.

Não gosto de ser a garota nova, nem de ficar fazendo média o tempo todo até descobrir qual é a da pessoa de verdade. Por isso também não gosto quando me tratam como melhor amiga 5 minutos depois de terem me conhecido, esperando o mesmo tratamento íntimo. Acho estranho e medonho.

Não gosto de não poder falar besteira com medo de ser mal interpretada. Não gosto de ser mal interpretada, aliás, e por isso não saio contando tudo da minha vida para qualquer um que apareça. Também por não gostar que me julguem errado, não gosto de julgar os outros. E por isso demoro um século até admitir que talvez aquela pessoa realmente não preste.

Não gosto da sensação de saber que alguém não presta porque não gosto de fingir que está tudo bem quando não está. Não gosto de não saber se eu estou certa sobre essa sensação ou se é tudo paranóia minha. Na maioria das vezes, prefiro ser amiga dos meninos do que das meninas. Eles são menos complicados.

Não gosto que falem de mim pelas costas. E também não gosto de falar mal dos outros pelas costas. Acho feio, mesquinho e covarde. Não gosto de fofoca, nem de ficar por fora das piadinhas internas dos outros, aliás. Não gosto gente que fica mandando indiretas, nem de gente que não sabe guardar a sua opinião pra si porque ela pode magoar alguém.

Não gosto que se metam na minha vida quando não pedi opinião. Não gosto de gente mentirosa. Não gosto de gente que fala mais do que escuta. Nem de gente que não tem senso de humor e não entende (ou finge que não entende) e pra tudo tem que arranjar um motivo para discutir. Não gosto de ficar doente.

Não gosto quando não gostam de mim, mesmo sabendo que é impossível agradar a todos. Não gosto de me sentir deslocada e sozinha.

Não gosto de ter de convencer as pessoas de quem eu sou em alguns minutos (como se isso fosse possível) e não gosto de ter de falar o que as pessoas querem ouvir se aquilo não é a verdade também. Não gosto quando elas fazem isso o tempo todo, aliás. Acho uma babaquice como esse tipo de comportamento é considerado imprescindível em determinadas situações.

Não gosto de ser culpada por algo que não fiz e nem de injustiças em geral. E detesto ficar no meio de um conflito com o qual eu não tenho nada a ver.

Não gosto que pensem que sei tudo, mas realmente às vezes me incomoda o fato de não o saber. Não gosto de não saber a resposta certa. Prefiro ser perguntada do que perguntar. Não me importo em estar errada, mas não suporto errar (se é que isso faz algum sentido).

Não gosto de depender dos outros para qualquer coisa e nem de ficar devendo favores. Detesto que me olhem com ar de desdém e quando não confiam em mim. E também não gosto de saber que não posso confiar em alguém.

Não gosto de gente que se acha melhor que os outros por qualquer motivo. Nem de gente que se aproveita para pisar nos outros porque aí ela pode se sentir melhor.

Não gosto da sensação de não gostar. Remói por dentro, dá trabalho e me faz mal. Preferia ser indiferente a tudo isso e não sofrer, mas nem sempre isso é possível ou demora demais pra acontecer.
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quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Tão Ontem

Capítulo Zero – Parece que foi ontem

Minha história com esse livro foi de amor à primeira vista. Porque um livro com um nome desses e com essa capa super bacana* para uma nostálgica como eu não tinha como causar outro sentimento.
*Até o autor ficou orgulhoso do trabalho do Fábio Lyra - o designer. Tem razão, seu Scott. A capa do Brasil dá de 10 na americana.

Comprei-o na Bienal de 2007 e logo ele se tornou um dos meus livros preferidos. O engraçado é que da primeira vez que eu li, não entendi o final.  E isso nem fez muita diferença, porque continuei a gostar MUITO dele mesmo assim. (Pra você ver como o negócio é bom.). Aí a minha irmã leu e também não entendeu. Procurava alguém na Internet pra discutir o livro, alguma resenha interessante que contasse alguma coisa e NADA! Um absurdo um livro bom desses não ter a publicidade merecida.

A partir daí, passei a emprestá-lo para todo mundo por duas razões:
1) Era um livro unissex, inteligente, e que merecia que outras pessoas tomassem conhecimento dele, e
2) Pra ver se alguém entendia o final e me explicava o que tinha acontecido.

E é por isso também que ele já está meio desgastadinho, coitado.  É um dos meus livros mais rodados.

Capítulo Um – Tão Bom

A essa altura você deve estar se perguntando: “Mas que raios esse livro tem de Tão Especial? Por que você insiste tanto em dizer que ele é Tão Bom? Por que essa leitura é Tão Obrigatória?”. Bom, vamos deixar de papo fiado e falar um pouquinho do livro, então, né!

Hunter (do inglês, Caçador) é um Caçador de Tendências (Ha, valeu Scott!). Seu trabalho é observar as pessoas na rua e descobrir aquilo que tem potencial de se tornar a próxima moda. Num belo dia, ele conhece Jen, uma menina que amarrou os tênis de um jeito totalmente novo. Uma Inovadora, obviamente. A dupla é chamada para uma reunião misteriosa com Mandy, chefe de Hunter. Mas o encontro não acontece e tudo que descobrem é o celular de Mandy em um prédio abandonado. A partir daí, os dois vão enfrentar muitas confusões numa aventura imprevisível que dá um passeio pela cultura pop como a conhecemos.

Tão Ontem parece ser mais um livro juvenil, mas é muito mais que isso. É uma prova de que existe vida inteligente na adolescência e a equação perfeita entre diversão e informação. Pra começar, o livro é uma verdadeira aula de marketing. Todo aluno da disciplina devia ler, porque se aprende um monte* sobre coisas como a Pirâmide de Consumo, Pesquisas de Opinião, Regras de Negócios – e de um jeito absolutamente divertido.
* De verdade, durante as aulinhas de Marketing da faculdade eu lembrava de Tão Ontem direto.

Pra mostrar como eu aprendi direitinho, uma amostra grátis pra você experimentar:
Apesar disso, não se pode culpar o cliente por seguir a regra número um do consumismo: nunca dê aos consumidores o que eles realmente querem. Reduza o sonho a pedaços e espalhe-os como cinzas. Distribua promessas vazias. Embale as aspirações dos consumidores e lhes venda, assegurando-se de que elas acabem se desfazendo no ar.

Bacana, né?

Ironicamente, Scott Westerfeld não seguiu a regra número um do consumismo, e ao longo da narativa  encontramos de um pouco de tudo. O autor nos dá de uma só vez tudo aquilo que se pode esperar de uma excelente e envolvente história (aí a gente fica mal-acostumado...). Romance, mistério, ação, diálogos afiados, senso de humor, personagens legais e inusitados, uma boa reflexão sobre o mercado consumidor, e um bocado de conhecimentos gerais que vão de Fenícios a Franceses, de Pikachu a Pneumonia. Sabe aquilo que eu falei que ele ficou devendo em Feios? Tá tudo aqui...

Capítulo Dois – Missão Impossível

Mas voltando à minha história com Tão Ontem. Depois de anos, eu tomei vergonha na cara e resolvi relê-lo (porque quando eu emprestava o livro, ou ninguém entendia também, ou eu é que não lembrava mais da história e ficava sem base pra debater). E aí eu entendi TUDO! A emoção foi tanta que na época até enviei um email ao Felipe explicando tudo, porque:
1)    Ele também se perguntava o que tinha acontecido e
2)    Assim eu teria a explicação registrada para verificar a qualquer hora e poder discutir com alguém depois.

E a segunda leitura foi ainda mais legal que a primeira porque, além de eu ter entendido o final, pesquei algumas “piadas internas” (o toque do celular da Mandy e nomes de marcas sempre citadas como se fosse o "Leilão de Notas Musicais" daquele programa com o Silvio Santos em que os artistas testam seus conhecimentos de música popular, por exemplo) que só são possíveis de serem captadas depois de algum conhecimento de mundo.

É por isso que eu gosto de revisitar meus livros, filmes, músicas preferidos. Depois de grande, com outra cabeça, a gente percebe um monte de coisas que não tinha reparado antes. E é ainda mais legal quando a gente enxerga a mesma história com outros olhos.

Enfim, só para você não ficar com medo, Tão Ontem não é essa complicação toda. Ele explica tudo, só que tem de ter muita atenção no final (anota aí: VER CAPÍTULO 31!!!). E se você não entender, acredite em mim, a jornada é o que importa.
*Qualquer coisa, me passa um email que aí eu te encaminho a explicação, rs.

Capítulo Qualquer Coisa Muito Tempo Depois

Durante muito tempo fiquei imaginando como era o jeito Inovador de amarrar o cadarço da Jen. Aí um dia eu bem vi no metrô um menino com um cadarço amarrado de um jeito inovador. Fiquei com uma vontade imensa de pedir pra tirar uma foto do tênis da pessoa, mas me segurei. Pensei em disfarçar e tirar assim mesmo, mas achei que ia ficar muito na cara. As pessoas iam achar no mínimo que eu era doida.

E depois eu até CONHECI um Inovador que amarra o cadarço como se fosse um sol nascente (era assim o da Jen, né?). Quase fiz "O Gesto" quando vi.

Tão Ontem também teve seus direitos comprados para virar filme, mas desde 2006 não se tem notícias de a quantas anda a produção. Deve subir no telhado. Uma pena porque esse livro é daqueles que não precisa fazer nada. É só filmar.

O título do Tão Ontem em Francês ficou em inglês: Code Cool... A capa também ficou legal, mas a do Brasil ainda é mais cool.

Sério, gente, essa arte do livro não é apaixonante? 
Dá a maior vontade de brincar de dolls.
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quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

Passaporte para palavras

É engraçado perceber como a cultura de cada povo se reflete na língua e no seu jeito de falar. E não precisa nem ir muito longe. Aqui mesmo, no nosso próprio país, vemos o baiano, que fala como se o tempo não existisse; o carioca, que se acha o ixperrrrto; o gaúcho, que mais parece estar cantando o tempo todo; e sem esquecer do mineiro, que de tão matuto come o final das palavras tudin’.

Atravessando as fronteiras, a gente vê a língua portuguesa com todas as suas regras, conjugações, acentos, concordâncias e um monte de nerdismos lingüísticos que na oralidade todo mundo ignora, mas nem por isso a língua fica menos gostosa e poética aos ouvidos. Não por acaso, dá até pra entender um bocado de coisa dita por nossos vizinhos hispanohablantes, afinal, o berço das duas línguas se deu dentro da mesma península – há quem diga até que o espanhol é o português mal falado.

Ali do lado da tal península encontramos os franceses, que se acham ‘tre chic’ e falam fazendo biquinho e os russos e alemães, que parecem sempre com raiva – talvez por culpa do frio - e qualquer palavra banal nos faz ter vontade de responder: “É a sua mãe, tá legal?”. Já os italianos, na verdade, falam é com as mãos, e, se amarrados, creio eu que sentiriam muita dificuldade de se expressar. (Imagino como deve ser difícil extrair qualquer informação de um mafioso italiano algemado. Vai ver é por isso que o Berlusconi está solto até hoje...).

E finalmente, a língua inglesa, que em qualquer lugar do mundo se destaca pela praticidade. É quase como comida congelada. As palavras curtinhas, quase sempre monossílabas (e eles ainda tem a coragem de abreviá-las!), a ausência da concordância de gêneros, praticamente nenhuma desinência verbal e, acima de tudo, a facilidade que se tem em transformar qualquer substantivo em verbo sem nenhum tipo de esforço ou modificação.

E se num passado não muito distante as pessoas e as palavras transitavam pelo mundo com muita dificuldade, hoje em dia, a interação entre as pessoas passou a um nível mundial e quantidade de informação, além de infinita, está a apenas um clique.

Ao contrário das pessoas, as palavras não precisam de passaporte, e nesse contexto, mais uma vez a tradução/adaptação se faz importante tanto por sua presença, quanto pela sua ausência, uma vez que parece que entramos numa Torre de Babel contemporânea. Engraçado notar que aquilo que serviria para unificar (a tal globalização) acaba por segregar e confundir as pessoas.

Exemplo:
Em Contabilidade de Custos, temos 2 tipos de custeio: por ordem e por processo. O custeio por processo é feito de acordo com os processos pelos quais passa o produto e por ordem de acordo com os pedidos. Ora, se o custeio por processo é feito levando em conta, obviamente, os processos, por que diabos o custeio por ordem tem a ver com os pedidos e não com a ordem na linha de produção? Depois de muito tempo, percebi que o caso do custeio por ordem é igualmente óbvio, só que TALVEZ seja derivado de uma tradução preguiçosa, porque ORDER em inglês, nesse contexto significaria PEDIDO.

Em ambientes acadêmicos, esse tipo de coisa dificulta o entendimento e o aprendizado das coisas. E numa empresa em que o jargão corporativo (muita vezes também preguiçoso e até idiota) domina também é comum ver expressões como schedular, asap* (as soon as possible), entre outras, que podem causar um problema até maior de comunicação entre os empregados. Tudo porque a pessoa não quis escrever “agendar” e “o mais rápido possível”.
*Microsoft é mestre nessas abreviações. Uma vez vi uma palestra dela em que o cara dizia que lá eles abreviavam até o nome das pessoas, colocando a primeira letra do primeiro nome junto com o último sobrenome. Nesse dia eu e meus colegas ficamos pensando que alguém que se chamasse Alberto Rocha (A Rocha) ia sofrer por lá...

E mesmo fora dos lugares “obrigatórios”, é comum a prática por parte da população dita mais esclarecida desse tipo de adaptação besta e desnecessária ou mesmo a total importação de termos estrangeiros principalmente por culpa da Internet. Aí você põe aí na lista expressões como guilty pleasure, shame on me, cool, plot, flop, losers, ever, a.k.a., que não só têm substitutos totalmente aceitáveis em nossa língua materna (prazer com culpa, ai que vergonha, descolado, enredo, fracasso, manés/otários, de todos os tempos, ou) como às vezes são utilizados sem nem saber direito o que significam, ou sem se preocupar se o seu interlocutor sabe o que significa.

Isso quando não aparecem uns neologismos horrendos tipo beliviando, começam a utilizar uma palavra com sentido de outra - como no caso do order/pedido/ordem (que não está só nos livros e realmente faz parte de todas as relações comerciais) ou no caso do realizar usado com sentido de perceber (realize) -, abusam do gerundismo por causa do future continuous, e aí vai.
Obs.: Um das maiores culpados pelos estrangeirismos são os termos ligados à informática, geralmente órfãos de palavras que os definam, uma vez que quase sempre tratam de alguma novidade no mundo. Mas deletar, setar e restartar são palavras gringas que com alguma maquiagem ainda enganam de nacionais. Agora upar, printar, reloadear, deployar, downloadar, atachar (etc) são MUITO feios, pelo amor de Deus!

Pois é, eu sei que isso é fruto da dominação cultural-econômico-midiática estadunidense e que por vezes a língua inglesa é muito mais prática que a nossa (lembra que eu falei lá em cima que inglês é igual comida congelada?) e que às vezes as pessoas em seu dia-a-dia têm dificuldade de encontrar uma expressão similar assim de supetão durante uma conversa sobre aquele artigo maravilhoso que elas leram no New York Times (ou em qualquer outro veículo de comunicação), e até que a fonética de algumas delas pode alterar sua intensidade, mas, sinceramente, eu não estou nem aí.

Eu sou muito chata com essas coisas. Não vou dizer que não as use, mas as evito ao máximo. Acho essa história de “ah, mas eu penso em inglês” uma desculpa muito esfarrapada de gente prepotente e digna de Luciana Gimenez. E eu não sei você, mas eu acho que ser associado à Luciana Gimenez não é exatamente uma coisa tão in assim. Acho muito mais elegante buscar uma palavra no nosso próprio idioma, que cá pra nós tem vocábulos muito mais bonitos (fala aí, “vocábulo” é muito lindo, né não?), principalmente se a intenção for essa de “ficar por cima da carne seca”.

Então, fica a dica: toda vez que você estiver escrevendo e pensar num termo in ingrish, tente trocar para um nacional. Busque na memória, no dicionário ou no Google uma outra expressão com significado semelhante. E se ela, por acaso, for uma expressão antiga, caipira, fora de uso, ou um regionalismo, melhor ainda. O texto corre o risco de além de ficar mais bonito, ficar mais engraçado também. E se a intenção for parecer mais descontraído, a gente tem um monte de sufixos para adicionar nas palavras ditas sérias. Não precisa importar uma e colocar o nosso sufixo mesmo assim... Sei lá, fica muito artificial, sabe?

Mas o pior de tudo é que eu entendo que isso não é de hoje e que não temos para onde fugir. Se não fossem os estrangeirismos, não seríamos o país do futebol e sim do ludopédio. Um dia a língua considerada chique era o francês (aliás, chique deve vir francês também, né?) e dela pegamos emprestado os buquês, o abajur e o sutiã. E o que seria do português (do Brasil, pelo menos) sem a influência tupi do abacaxi (rimou!)? Aliás, até que ponto o português é português? Até que ponto ele não é latim, grego, galelo, sei lá? Até que ponto as palavras que a gente está acostumado a usar não são importadas de outros lugares? Até que ponto elas não são oriundas de alguma tradução miserável infeliz? Aliás, até ponto isso importa mesmo?

Essas são algumas das coisas que eu também fico me perguntando às vezes. Porque as palavras não precisam de passaporte. E apesar de todo esse texto, não sei dizer se isso é bom ou ruim. Acho que é bom, desde que elas se adequem a nós e não nós a elas. Pra variar é uma questão de costume. Só que tem coisas que eu não consigo me acostumar.
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quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

FMF3 e as 3 regras dos romances adolescentes

Fazendo Meu Filme 3 é o terceiro (dããã!) e penúltimo volume da quadrilogia – trilogia é para os fracos! - que conta a saga da mineirinha fissurada em cinema Fani Belluz e a paixão por seu melhor amigo Leo.

Quem gosta de livros/seriados adolescentes sabe, mesmo que inconscientemente, que existem alguns temas/regrinhas que devem ser considerados(as) à medida em que os personagens se aproximam da passagem para a vida adulta. Fazem parte do roteiro:

Regra nº1 - A Palavra com S (Sequiço!)
Estão lá as dúvidas, o desejo, as inseguranças, a espera, a dificuldade em lidar com o assunto e um pouquinho da aula de Educação Sexual também, porque tem gente que não tem mãe em casa e aí o livro tem que “ensinar” essas coisas.
Se FMF3 fosse realmente um filme, a classificação etária seria de uns 12 a 14 anos por Insinuação de Sexo. Mas se bobeasse, ganhava até uma censura livre, porque o assunto é tratado com a sutileza esperada de um livro juvenil.
Eu particularmente não gosto muito da Regra nº 1, porque quase sempre o assunto vem à tona de forma gratuita e dificilmente acrescenta algo à trama, sendo abordado na maioria das vezes apenas para cumprir tabela e fazer o papel dos pais ausentes  – Não é o caso de FMF3 - Mas continuemos.

Regra nº 2: Vestibular/Faculdade
Na terra do Tio Sam o problema é em qual universidade serão aceitos e se o amor do colegial sobreviverá à distância das faculdades, cada uma em um canto do país. Por aqui a crise mesmo é com a escolha do curso. Sempre o filho quer ser artista e o pai quer que seja administrador/advogado/farmacêutico... Nunca vi um conflito em que fosse o contrário. Quando o Seu Francisco mandava filho comer ovo cru, você não via o Zezé reclamando: "Não, pai! Eu não quero ser cantor! Eu quero ser ENGENHEIRO! Quero me matar de estudar física e matemática! Quero aprender limite, derivada e integral!!!!". Nunca é assim.

E nessas horas, me desculpa, eu meio que fico do lado dos pais. Porque muitas vezes as pessoas que seguem esse tipo de carreira NEM estudam e são as que se dão melhor na vida (simplesmente porque tem um rostinho bonito...). Na minha opinião, não é errado ter sonhos, mas não custa nada ter um plano B. Porque tudo bem que o filho tenha talento, mas nem sempre isso coloca o leite na mesa. De verdade. Por exemplo, a própria Paula escreve porque gosta. Porque se ela dependesse do que ganha com FMF, não pagava nem a viagem aqui pro Rio. Por isso a gente lançou a campanha: 
NÃO PEÇA LIVROS DE GRAÇA! COMPRE! 
AJUDE A PAULA A PAGAR A PASSAGEM PELO MENOS ATÉ A RODOVIÁRIA. 
Ela podia estar matando, ela podia estar roubando...

Regra nº 3 – O conflito
AVISO: Olha, eu pensei muito se devia escrever sobre a regra nº 3, com medo de dar algum Spoiler, mas o que eu vou falar não é nada do que aquela cartomante descarada já não tenha adiantado em plena metade do livro. Se você quiser, pode pular essa parte, mas eu acho que não tem nada demais.
A Regra nº3 diz que “Se você quer um final que seja relevante, deve criar um conflito de difícil resolução”. E por “difícil resolução”, leia-se: Tem de ser sofrido, tem de ser doído e tem de ser... complicado. De preferência deve ser uma situação em que quanto mais se pergunta “E se...?”, na tentativa de arranjar um culpado para tudo, mais se percebe que ambos na realidade são vítimas e o grande responsável não é um “quem” e sim um “quando”. O tempo é que na verdade acaba sendo o maior vilão no final das contas, por ter criado uma armadilha da qual não havia escapatória. E por mais dolorido que seja admitir, fez seu trabalho da melhor forma. E exatamente por isso, só o próprio tempo é que pode curar as feridas que ele fez questão de abrir.

Fazendo meu Filme 3 consegue numa tacada só arrebanhar os dramas de um vestibulando tanto à falta de tempo, quanto à escolha de curso e supreendentemente até quanto ao lugar onde estudar – coisa que não se vê muito aqui na nossa terrinha (Regra nº2). Mistura tudo com a Regra nº1 e, no final, ainda amarra toda a série com a Regra nº3 (e olha que isso não é um trabalho NADA fácil!).

E assim como em qualquer comédia romântica (ou “filmes de amorzinho”, como a Fani gosta de chamar), seguir a receita de bolo não é nenhum defeito. O que difere as boas histórias das ruins não é aquilo que acontece em si, mas o jeito de contá-las e a maneira como as coisas serão conduzidas até o final. Por mais esperado que seja o roteiro, as boas histórias são aquelas que nos "enganam" na medida certa, conseguindo assim nos surpreender e atender nossas expectativas ao mesmo tempo.

Felizmente, FMF3 faz parte do time das histórias boas. Em algumas horas você pode até ter a sensação de que "já viu esse filme”, mas em nenhum momento se sente desapontado com isso, porque mesmo assim parece um filme diferente, honesto, com suas próprias reviravoltas e sem a intenção de copiar as ideias alheias.

Os personagens continuam mineiros como sempre (e comendo todos os pronomes reflexivos) e a Internet continua a se fazer presente em seu cotidiano, assim como faz parte do nosso – adorei o blog da Fani, e me senti dentro da história com ele – e o melhor de tudo, trazendo conseqüências narrativas para o enredo. Estão de volta também os CDs, os filmes e inclusive aquelas coisas que me fazem pensar “Ai, Deus, só a Paula mesmo!”*. Agora o resto de "como" a história se desenrola, isso você vai ter que ler pra descobrir.

Extras:
Como todo DVD tem que ter comentários bônus, então lá vai:
- Pela madrugada que a Fani teve coragem de ver A incrível Jornada. Pior mesmo só pegasse pra ver aquele filme que passa na Sessão da Tarde do Cachorro Radiotivo (o cachorro, abandonado pela família, sofre um acidente nuclear e depois volta para se VINGAR!!!). Dica de filmes de cachorro legais: Bethoven (clássico!) e Perdido pra Cachorro (parece bobinho, mas tem umas boas tiradas, tipo a do Coiote que ajuda a ultrapassar a fronteira dos EUA).
- Falando em cachorro, Fani ganhando cachorro me lembra Chispita/Luz Clarita (seu remake), fato! Pensei que ela fosse ter que esconder o totó igual na novela...

- Aliás, achei muita injustiça ela levar o cachorro e deixa a tartaruga. Senti falta da Josefina no livro. Prontofalei.
- Adorei a parte que o Christian fala do Garry Marshall*. Adoro o jeito como o Garry dirige. Ele consegue transformar aquilo que podia ser vulgar em algo... doce! E adoro também como ele sempre coloca os próprios amigos/familiares nos filmes (nepotismo, haha!!!! Eu e minhas amigas apelidamos esse pessoal de “Amigos do Garry”, rs!), como ele faz um monte de piadinhas internas nos filmes, como ele fica fazendo festa nos sets de filmagem, como TODOS os atores gostam de ficar imitando ele (não à toa chamaram ele pra dublar O Galinho de Chicken Little)... Fala sério, ele tem a maior cara de vô legal! Assistir aos filmes do Garry é sempre um negócio engraçado. Primeiro porque a gente fica reconhecendo os Amigos do Garry, e depois porque dá pra ficar brincando de "Onde está Wally?", porque, anota aí, filme do Garry sempre tem Freiras, Beisebol e Malabares. Ah, e Hector Elizondo também. Pode procurar, de verdade. SEMPRE tem! Ele já falou que coloca de propósito! (Esse pessoal que fica lendo IMDb e assiste os filmes comentados não tem mais o que fazer mesmo... Hahaha!)
- Sr. e Sra. Smith é um filme maldito. Fato! Primeiro separou a Jen do Brad, e no FMF3, bom, aí você tem que ler.
- Ai, o Leo é tããão legal! Mandou flores pra Fani no Dia do Aniversário... Fani, ingrata, ficou reclamando, dizendo que ficou com vergonha. Da próxima vez o Leo devia mandar um carro de tele-mensagem pra ela ver o que é mico!
- O que foi a revista Rostos? Ri à beça. Christian amigo do Brad Pitt, encontrando com a Anne Hathaway.*.. Adooooro essas coisas!

- O livro não fala, mas o Leo queria vir pro Rio de verdade é porque o sonho de infância dele era trabalhar no Meia Hora, o jornal com as manchetes mais legais do país. Sério, trabalhar no Meia Hora deve ser diversão total! Vai nessa, Leo! (Brincadeira isso, viu gente! Só umas piadinhas pra descontrair).

E, mais uma vez, só pra não perder o hábito, um FAQzinho básico:
- Não, continuo não sendo a Elisa da página de agradecimentos.
- Sim, é óbvio que vai ter um FMF4.
- Sim, ele vai ser o último da série.
- Não, eu não tenho nem idéia do que a Paula preparou pro volume final, mas fica um aviso pra você que já leu o 3, e pra você que não leu também: Quando tiver uma parte que parece enrolação, mas na verdade é preparação, e um conflito dolorido assim, pode ter certeza de que o final está de arrebentar, porque quanto maior a dor, maior a redenção. Que venha o FMF4!
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