quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Especial 100 programas, digo, 100 posts

Olá! É isso aí, 100º post! Uhuuu!

Você sabe o que isso significa? Que antes dele vieram outros 99 e depois desse será o 101º. Hehe, brincadeirinha!

Na TV, sempre que algum programa chega a edição de número 100, eles fazem um bolinho para comemorar, afinal de contas, não é fácil para um programa ficar tanto tempo no ar, principalmente se ele for do SBT. E como 70% (não lembro ao certo a porcentagem) dos blogs acabam antes mesmo de completarem 3 meses, acho que nada mais justo do que comemorar com um bolinho também. Então chega mais e pega um pedaço!


E se prepare porque semana que vem tem mais festa, afinal o blog completará 2 anos!

E vai rolar a festa, vai rolar!

Pode parecer pouca coisa, 100 posts em 2 anos, mas, já falei aqui, tento manter as postagens com uma média de uma por semana e não pretendo aumentá-la, pelo menos por enquanto.

O esmero que tenho ao fazer cada post é bastante alto (leia-se: sou muito chata quanto aos meus textos) e para que eles fiquem o mais legais possível, sem deixar escapar nenhuma piada, ou abordando tudo o que o tema tem para oferecer, o tempo gasto com cada um deles é relativamente alto. Então, não dá pra postar todo dia. Pode não parecer, mas eu também tenho vida.

E eu AMO postar aqui, mas acho que o blog tem que viver para mim, e não eu para o blog.

Estou muito feliz com o blog do jeito que está, porque o criei por um motivo: eu gosto muito de escrever. E acho que a cada semana, o Inútil vem cumprindo o que prometeu lá no 1º post de fazer posts mezzo-sérios, mezzo-bobildos, e acima de tudo nostálgicos (não sei se você reparou, mas eu sempre dou um jeito de recuperar algumas memórias que me vem à mente de acordo com o assunto em questão), e sempre trazendo algo novo, diferente do que se vê por aí.

Também acho que estou escrevendo melhor do que antes (os textos estão mais livres, leves e soltos, e menos engessados naquele padrão redação da escola) e que em 100 posts e quase 2 anos, meu olhar sobre a vida está mais conformado em saber que as coisas nunca mais serão como antes e mais preocupado em aproveitar o que se tem agora – o que não significa que não sinta falta dos velhos temos, só que agora a cabeça está mais ocupada com outras coisas que não questões filosóficas. Crescer é isso aí, acho.

Nos últimos tempos, fiquei ainda mais chata com os meus textos, e uma coisa que aprendi foi que o formato talvez seja tão importante quanto o conteúdo. Muitas vezes o conteúdo está na ponta da língua, mas o texto fica travado, não possui a fluidez necessária para ser posto no papel – o na tela do computador, no caso, falta aquele algo a mais que magicamente faz tudo funcionar. Uma vez escolhido o formato adequado, o texto fica até mais interessante. O que não quer dizer que eu me cobre para fazer tudo de um jeito diferente toda a vez. É realmente uma questão de adequação do tema.

Mas, é o seguinte, semana que vem é aniversário do blog e hoje já rolou uma mini-reflexão/retrospectiva que eu nem estava planejando fazer (sabe como é, esse povo que gosta de escrever promete que vai fazer um negócio pequeno e quando vê, já escreveu um monte), então eu queria fazer um coisa diferente.

Se você pensou que eu ia fazer um sorteio, pode tirar o cavalinho da chuva. Eu não acho que essas coisas sejam de Deus. É meio idiota, mas eu acho que as pessoas tem que vir aqui porque gostam, não porque é um blog estilo programas do SBT que fica dando prêmios pra quem liga mais. A estratégia é até bem furada, porque esses programas nunca dão tanta audiência assim, e o Silvio faz o favor de tirar logo do ar. Não quero ficar me estressando igual a Galisteu, numa boa.

Como vai, Galisteu?

Também pensei em fazer uma gincana (Passa ou Repassa era muito legal, fala sério!), mas estou com a maior preguiça de armar uma (quem sabe pro ano vem?) e não faço a mínima ideia do que daria para o vencedor (uma tortada talvez?, Rs).

 Então, aliei a minha preguiça com vontade de fazer algo diferente, e resolvi transferir toda a responsabilidade para você, leitor, que reclama que falta interatividade neste espaço cibernético. Brincadeira, mas eu realmente vou precisar da sua ajuda para fazer o post especial do 2º aniversário do Inútil.

Não é nada do outro mundo, pode ficar tranquilo, até porque, acho que já deu pra perceber, ninguém vai ganhar nada com isso (hoje eu estou abusada, né?). Mas, ei, o blog é que está fazendo aniversário! Quem tinha que ganhar algum presente, era eu (ou ele), não é?

Enfim, tudo o que você tem que fazer para participar da festa de 2 anos do Inútil Nostalgia é... comentar. Só que hoje eu gostaria de um comentário mais específico que contivesse:

1) 2 posts do Inútil que você mais gostou e por quê (não precisa voltar e ler tudo de novo, nem procurar o título, pode pôr o que vier primeiro à mente).
2) Uma sugestão do que você acha que o blog poderia ter para ficar mais legal.

Viu só, facinho, né? Semana que vem eu coloco no post os depoimentos do povo e analiso para ver se dá pra atender as sugestões (quem sugerir sorteio, vai ganhar tortada, sério!). Aproveita que não é sempre que eu abro esse espaço interativo e sinta-se à vontade para colocar mais de 2 posts ou mais de uma sugestão (contanto que não seja sorteio).

Olha o que vai acontecer com quem sugerir Sorteio nos comentários
Até semana que vem. Eu vou lá encomendar os salgadinhos, vocês façam a sua parte e tragam os presentes (comentem). Vem Gente!

Abraços,
Lisa
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terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Disnerd

Quando eu assisti Encatada pela primeira vez em 2007, eu logo pensei: “Essa é a Disney pavimentando o caminho para a volta das princesas e dos desenhos 2D, porque no ano que vem A Princesa e o Sapo”.

Eu adoro Encatada. É um dos meus filmes favoritos de todos os tempos. Gosto tanto que assisti duas vezes no cinema, toda vez que passa na TV eu vejo, se deixar eu fico o dia inteiro no YouTube conferindo as músicas nos mais estranhos idiomas e recentemente pude finalmente comprar o DVD por uma bagatela de 17 pratas nas Lojas Americanas. E o melhor foi que a mulher do caixa que me atendeu no dia da compra também se chamava Elisa!

Essa é a magia da Disney, gente!

Encatada é um graça, é genial, é... encantador (com o perdão do trocadilho)! Como assim ninguém teve a ideia de fazer uma história sobre uma princesa que vem para o mundo real antes? É a mistura perfeita dos contos de fadas com a inovação! Acho que já deu pra perceber como eu fico animada quando eu falo desse filme, né?

Kevin Lima, o diretor que por acaso também dubla o esquilinho Pip, fez o dever de casa e salpicou referências das mais descaradas às mais ocultas. Estão lá A Bela e a Fera, A Pequena Sereia, Branca de Neve, A Bela Adormecida, A Dama e o Vagabundo, entre muiiiitas outras que se eu ficar contando aqui dá um post só pra isso. A cada vez que se assiste, nota-se algo diferente. (Agora eu descobri que tenho que comprar o Blueray desse negócio porque tem um aplicativo que mostra a inspiração de todas as cenas).

Ao contrário de Shrek, que também faz essas referências para tirar sarro dos contos de fadas, Encatada presta uma baita homenagem aos clássicos Disney que fizeram nossa infância mais feliz, com direito a príncipe, princesa, madrasta, bichinhos ajudantes, beijo no final e os famosos números musicais de perder o fôlego que só a Disney sabe fazer (canto os temas do filme animadérrima igual a uma maluca. Também o compositor era ninguém menos do que Alan Menken – anote esse nome. Ainda vamos falar muito dele hoje. Ele é o moço que fez as músicas da Bela e a Fera, Pequena Sereia e Aladdin.)

Tio Alan, eu te amo, tá?

O filme, obviamente, foi um sucesso. Também não tinha como não ser. Sabe quando você sai do cinema satisfeito, feliz e com um sorriso de orelha a orelha? Pois é, é isso o que Encantada faz com a gente. Se havia dúvidas que as crianças da atual geração ainda adoram um bom conto de fadas, Encantada veio para saná-las e ao que tudo indicava, a Disney podia lançar A Princesa e o Sapo confiante no ano seguinte.

Acontece que A Princesa e o Sapo não obteve o sucesso esperado. Que droga! Logo agora que o John Lasseter (Anote esse nome, também vamos falar mais dele depois. Ele é o diretor de Toy Story, da Pixar e manda-chuva criativo da Disney, desde que a mesma comprou os  premiados estúdios do Buzz) estava ressuscitando os desenhos 2D na Disney! A explicação que deram foi que o filme não atraiu os meninos por causa do “Princesa” do título e, então, o Rapunzel que estava em produção trocou de nome e virou Enrolados.

Ah, Disney! Você está sempre tirando conclusões erradas! Quando seus filmes não estavam fazendo sucesso no início da década, inventaram que a culpa era do 2D. Agora a culpa é do título...

Pura bobagem! A Princesa e o Sapo não foi bem porque era meio... chato. O filme tinha tudo para dar certo, mas dá errado. Ele carregava consigo a imensa responsabilidade de ser a volta do 2D da Disney, e ainda por cima apresentar a primeira princesa negra em seus desenhos, que representasse mais a mulher do século XXI, trouxesse novidades ao gênero, etc. E aí aquela fórmula que sempre funcionou passou a impressão de que foi tudo “pensado demais”..

Se uma estrelar aparecer...

O fator “primeira princesa negra” fez com que tudo fosse ser extremamente calculado para que não atiçasse os irritantemente corretos de plantão (The Princess Frog teve que mudar para The Princess and the Frog por causa disso, inclusive), os personagens não tinham tanto carisma assim, a história tinha umas coisas contra as regras dos contos de fadas (onde já se viu o beijo que não é do amor verdadeiro ser a solução?), as músicas eram sonolentas (Olha, eu gosto de jazz, mas jazz não é música de criança! Isso que dá o John Lasseter inventar moda e chamar o compositor do Toy Story ao invés do Alan Menken. E, tudo bem, Amigo Estou Aqui é linda de morrer, mas ela é muito... Pixar, deu pra entender?)...

Estavam lá a princesa, o príncipe e os bichinhos e os números musicais, mas o resultado é que ao invés de um conto de fadas moderno e envolvente, o que se viu foi um filme burocrático e empoeirado. Não tem nada a ver com ser “um filme de menina”. Eu lembro muito bem do entusiasmo do meu primo quando saiu Mulan: “Ela corta o cabelo com a espada!!!!”...
Ainda tem o problema de que A Princesa e o Sapo estreou praticamente junto com Avatar, que por sinal é a mesma história da Pocahontas, mas enfim...

Pois bem, eis que esse ano a Disney nos apresenta seu 50º desenho, Rapunzel, ops, Enrolados. E a minha sensação ao sair do cinema foi o mesmo sorrisão de orelha a orelha de Encantada* e das outras 49 animações do estúdio (e não foi só eu não, porque quando o filme acabou o povo todo aplaudiu e gritou "Uhuuu!!!"). Senhoras e Senhores, eu venho lhes informar que a magia Disney está de volta.
*Ah, em That's How You no Encantada (aquela música do Central Park - How does she knoooowwww you love her? How does she knoooowwww it's truuuuue?) a Giselle bem entra no meio de uma pecinha da Rapunzel. *-*

Cabelo, cabeleira, cabeludo, descabelada...

O filme da moça dos cabelos gigantes não fica devendo em nada para os antecessores do estúdio do Mickey. A animação é 3D, mas tem aquele jeitão de 2D que a gente adorava quando criança.

Além disso tem madrasta, princesa, bichinhos carismáticos, ótimas cenas cômicas, ação e musicais empolgantes (ah, sim, Tio Alan está de volta, Yes!). A cena do barquinho em meio às luzes flutuantes, inclusive, já figura como clássica ao lado da valsa da Bela e a Fera (Sentimentos são... Fáceis de mudar...) e de Aladdin e Jasmine em cima do tapete mágico entoando Um Mundo Ideal. Ela é tão linda que quase me fez chorar. Mas foi um choro diferente das lágrimas derramadas em meio a filmes da Pixar. Porque a Pixar nos faz chorar porque nos lembra que somos adultos, já a Disney nos faz chorar porque nos lembra que ainda somos um pouco crianças.

 Vejo enfim a luuuzz brilhaaaar, já passou o neeevoeiro...

O único defeito foi a dublagem brasileira do Flynn Rider, feita pelo Loucura, Loucura, Loucura Luciano Huck. Eu entendi que eles o escolheram por causa das piadinhas com o nariz do protagonista, além de atribuir um significado a mais para as falas: “E aí, loura?” – em alusão a sua esposa Angélica. Mas o Flynn é tipo um dos mocinhos mais gatos da Disney (e eu nem sou de ficar reparando nisso)! A voz dele não tem nada a ver e o Luciano simplesmente NÃO SABE dublar! Dava até uma dor no coração quando o Flynn cantava, com a voz linda do Raphael Rossato (nos trailers não tinha o Huck também, aliás!!!!). Bom, pelo menos não botaram o Luciano pra cantar também.

Olha como ele é lindo! Olha só como o Luciano Huck não é!

Muita gente aí anda dizendo que Rapunzel (ai, desculpa, não tô nem aí pro nome oficial. Eu até acho bacana, mas Rapunzel é muito mais prático) atualiza as histórias de princesas da Disney porque sua protagonista não é a típica mocinha indefesa que espera ser salva pelo príncipe encantado, lembrando inclusive a Fiona e porque o galã da vez, aliás, nem é príncipe, é ladrão.

Só que basta puxar pela memória e ver que já tem um tempinho que nem a Disney faz histórias assim: foi a Bela que salvou a Fera, a Mulan foi pra guerra, a Pocahontas praticava rafting, a Ariel fugiu de casa, o Aladdin também era ladrão e a Jasmine beijou o Jafar!!!! (Eu e minha irmã costumamos dizer que a Jasmine é a maior Maria Tapete Mágico. Repara só: quando o Aladdin vai lá na sacada dela, a Jasmine dá um super fora no cara. Mas bastou ele aparecer com um tapete mágico, pronto! Ela cantou até um dueto com ele!).

Jasmine = Maria Tapete Mágico 

Quer dizer, não tem nada de inovador. A gente já está cansado de ver essas mocinhas diferentes e os galãs bad boys nos próprios filmes da Disney. Enrolados não tenta inventar a roda e nem tinha essa responsabilidade como tinha A Princesa e o Sapo, e o resultado é um filme divertido pra caramba. E eu fico até emocionada quando vejo ainda dá pra fazer esse tipo de filme, por mais moderno que seja o mundo, e que as crianças de hoje podem ter SIM a oportunidade de curtir as princesas antigas, mas apreciar as novas também, por que não?

Só que aí a Disney vem e diz que não tem planos de lançar outros filmes de princesa num futuro próximo. Estão achando que histórias de princesa não dão mais dinheiro, que são ultrapassadas e que para fazê-las, é preciso que se façam releituras ‘góticas’ como Alice e o outro da Chapeuzinho da Summit. Ironicamente, o povo esquece que filme com mocinha indefesa hoje em dia está em outro gênero.

Vale a pena dar uma olhada no artigo da ótima Meg Cabot sobre o assunto. Porque de princesa ela entende.

Disney, querida, Enrolados está indo bem nas bilheterias, pare de inventar bobagem e volte a fazer filmes de contos de fadas. Não tente negar suas origens porque, mais do que nos deixar feliz, essas histórias nos fazem felizes para sempre.

Agora, dá licença, que eu vou lá procurar as músicas da Rapunzel em seus mais variados idiomas.

Jogue suas tranças de mel, Rapunzel, Rapunzel...

Não essa, claro!

PS. Faltou só mostrar no final da Rapunzel ela e o Fynn abrindo um salão de beleza: Rapunzel’s Coiffeur. Ele ia cortar [SPOILER](vocês repararam que numa navalhada, ele conseguiu fazer um corte super moderno?)[/SPOILER] e ela ia escovar, afinal, foram anos de prática. Aliás, a Mulan também podia entrar pro salão...
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terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A História sem Fim

Era uma vez uma menina que não gostava de livros de fantasia. Mas essa mesma menina era apaixonada por metalinguagem. Certo dia, ela assistiu um filme chamado Coração de Tinta e adorou aquela história de ver os personagens invadindo o mundo real e o escritor abobalhado encontrando suas criaturas.

Mas ela também achou muita inverosimilhança todo aquele estardalhaço atrás de um exemplar de livro lançado em 2003, quando o Brandan Fraser podia muito bem tê-lo encontrado digitalizado na Internet. Além do mais, a história parecia um pouco A História Sem Fim, o qual ela havia visto o filme há muito tempo e só se lembrava vagamente que tinha um dragão da sorte (mais conhecido como um cachorrão voador muito simpático), e que o terceiro filme da franquia tinha o menino de Free Willy com o cabelo arrepiado – ela adorava o garoto de Free Willy, e Free Willy também, obviamente. Mas essa é uma outra história e terá que ser contada em outra ocasião.

Trocando em miúdos, a menina não se lembrava da História Sem Fim, mas lembrava que tinha marcado a sua infância e que uma profª do colégio uma vez havia comentado que esse livro era uma aula de literatura. Naquele dia, a menina encontrou-o no Estante Virtual por apenas 16 pratas, não pensou duas vezes e o comprou.

Muitas vezes tem-se a impressão de que quem manda nas histórias são os autores. Não é. Quem realmente tem o poder sobre elas é o leitor. É ele quem escolhe largar o livro ou levá-lo até o final. É ele quem o imagina do jeito que quiser. E, principalmente, é ele quem o interpreta da maneira que lhe convir e dá o veredicto final se a tal história é boa ou ruim.

Em A História Sem Fim, o leitor (também conhecido como VOCÊ) é representado por um BBB: Bastian Baltasar Bux*. Bastian é um menino gordinho e imaginativo que sofre com o bullying no colégio. Certo dia, Bastian rouba um livro de capa de cobre com duas cobras em forma de círculo, cujo título é A História sem Fim - Pois é, A História sem Fim é livro que VOCÊ está lendo, que contém Bastian, que também o está lendo. Ficou confuso? É isso mesmo. Calma que a gente chega lá. – e como qualquer leitor viciado não consegue largá-lo.
* Atenção para o trocadilho, Bux, Books (livros), sacou?

E assim VOCÊ vai acompanhando as emoções que o livro causou em Bastian (em vermelho) e a história propriamente dita que Bastian está lendo (em verde) até mais ou menos metade do livro.

Em verde: O reino de Fantasia (Calor... Céu azul, verde mar! Vem comigo nesse dia lindo! – Hehe, Brincadeirinha) está sob ameaça. Uma vez que o mundo dos homens passa a não mais praticar a arte de inventar histórias, a cada dia que passa, o reino é tomado pelo Nada. E quem pode salvá-lo é ninguém menos que VOCÊ – o leitor – no caso Bastian – o BBB – que tem de adentrá-lo e impedir que ele o Nada invada toda Fantasia.

E tanto em vermelho quanto em verde, o destaque mesmo é a metalinguagem. É metáfora atrás de metáfora. E cada uma delas desperta um sorriso de canto de boca no leitor esperto. Há as brincadeiras mais simples como a tristeza de Bastian (em vermelho) quando os personagens ficavam tristes (em verde), as discussões que Bastian tinha com o próprio livro, a fome que ele enfrentava porque não conseguia largá-lo... E outras mais ocultas como quando leitor e personagem veem-se através de um espelho. Afinal, quando ocorre a identificação entre os dois não é como se VOCÊ se enxergasse dentro da história?

Apesar de a menina estar gostando do fator metalinguagem do livro, ela não conseguia avançar muito com a leitura (aquelas descrições dos livros de fantasia e a alternância de cores não estavam facilitando). Os dias para ela estavam difíceis e a menina sabia que, se continuasse com o livro, iria descontar seu desgosto nele. Logo chegou um outro livro mais divertido e menos reflexivo e ela largou A História Sem Fim por um tempo.

Acontece que o mundo não iria permitir que a menina desistisse da História Sem Fim assim tão fácil e começou a mandar indiretas para que ela retomasse a leitura. A última frase do livro divertido era justamente uma citação da História Sem Fim. Num outro dia, ela entrou no Twitter, e havia uma recomendação para que se assistisse A História Sem Fim. Ela decidiu obedecer o destino e voltar para o livro.

Como dito anteriormente, até que Bastian entre de vez na História Sem Fim, passam-se quase 200 páginas! E quando Atreiú, o personagem responsável por encontrar o Salvador de Fantasia, volta de mãos abanando encontrar com a Imperatriz Criança e esta diz que ele já o encontrou, e fica com o sentimento de “Mas que palhaçada é essa?”, posso dizer que a sensação foi mútua. A explicação para tal é de que “o leitor precisava de uma história cheia de aventuras para conduzi-lo até ali” e é aceitável. Mas se a Imperatriz Criança dependesse de mim, com essa estratégia aí, o reino de Fantasia teria o mesmo destino do Programa Fantasia do SBT – o limbo.

E mesmo com todas as pistas do que Bastian devia fazer e que era ele mesmo quem devia fazê-lo, o garoto ainda demorou mais um capítulo para tomar vergonha e dar um jeito naquela história. Mas isso aí, eu tenho que dar o braço a torcer, foi legal à beça de se ver. Porque foi justamente nessa parte em que fomos apresentadas ao Velho Sábio que escreve A História Sem Fim (a parte em vermelho e a em verde) e aí o negócio ficou tipo A Origem – a história dentro da história dentro da história... Num looping infinito que faria qualquer programador perder o emprego (ainda bem que era A História Sem Fim, e não Matrix).


E ali onde eu achei que a história ia começar a ficar boa, foi onde ela ficou menos interessante. Narrativamente, ela se tornou mais fácil de acompanhar, embora não tenha sido tão empolgante assim. E metaforicamente, o livro perdeu muito do seu brilho (ou continuou com ele, mas de um jeito diferente e mais sombrio, sem despertar mais o riso de canto de boca do início).

Sim, ainda há a parte em que o leitor, ao entrar na história, pode ser tudo o que quiser e imaginar tudo o que quiser e esquece do mundo real. Mas também fiquei com a impressão de que a metade final da História Sem Fim era mais uma caminhada errante, como muitos livros de fantasia (e eu não gosto dessas coisas de caminhadas errantes).

Aqui ainda pode-se até interpretar esse caminho sem rumo como uma metáfora para mostrar que o leitor não sabe o que fazer quando adquire tanto poder, mas também fica a sensação de que foi muita luta e muita caminhada quando tudo poderia ter sido resolvido umas 100 páginas antes. Faltou clímax e a lição final de que o amor é a chave de tudo, com direito a laguinho mágico passou do limite do piegas (foi mal, depois de Lost eu fiquei traumatizada).

Não é um livro sobre os personagens. É um livro sobre o poder de transformação da leitura, e o destaque, realmente é a metalinguagem. Mas, bom, metalinguagem por metalinguagem, prefiro Mais Estranho que a Ficção. E não é que eu não tenha gostado da leitura. Foi uma experiência interessante. Eu diria até mais, foi uma experiência MUITO interessante. Mas essa é uma outra história e terá de ser contada em outra ocasião...

Epílogo

Uma das coisas que a menina mais gostou na História sem Fim foi que, ironicamente, ela tem fim. Apesar de existirem 3 filmes (mais sobre isso depois), a História sem Fim, de 1979, é um livro só. E se ele fosse mais atual, ela tem CERTEZA de que ia ser uma série, porque ao final do livro não faltaram pontas soltas. E isso NÃO é um defeito. Foi de propósito. Quer dizer, o nome do negócio A História Sem Fim, não é? Ela só está comentando que dava pra virar série MOLE!

Sobre os filmes, não se baseiem nos mesmos, pois apenas o primeiro respeita o livro. E mesmo assim, só uma parte. De resto é tudo invenção hollywoodiana. (Hollywood não é boba e não ia deixar uma história promissora dessas ficar em um filme só. O chato foi descobrir que aquele filme com o menino de Free Willy não tem nada a ver...). Mas a menina acabou de saber que o Leonardo Di Caprio está pensando em fazer um remake nos próximos anos (ele gostou mesmo desse negócio da história dentro da história dentro da história, hein!). Vamos ver no dá.
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terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Carta ao ET Bilu

Caro ET Bilu,

Há muito tempo que eu queria falar sobre esse assunto, mas sinto que só agora encontrei a pessoa, digo, o ser certo para debatê-lo.

A história é a seguinte, Bilu: mesmo antes da sua aparição, eu venho me empenhando em “buscar conhecimento”, mas acontece que essa tarefa não é tão simples quanto parece.

Eu sei que agora temos a Internet e que o surgimento do olho-que-tudo-vê do Google facilitou muito na hora de procurar o que se quer (como reza a lenda, se o Google não achou o que você queria, é porque aquilo ainda não existe. E é por isso que eu acredito em você, Bilu. Você está no Google, pode procurar), mas em algumas situações toda essa tecnologia, ao invés de ajudar, atrapalha. Porque o que o Google tem, Bilu, não é conhecimento. É informação. E nem sempre de fontes confiáveis.

E não me leve a mal, eu ADORO o Google, mas de vez em quando fico meio chateada com o bordão do Christian Pior - um humorista de um programa chamado Pânico na TV! - que diz “Não sabe? Joga no Google”. Parece que o “não saber” virou sinônimo de preguiça de procurar. Dizer “Não sei” nos dias de hoje é algo que chega a ser constrangedor, entende? Quer dizer, todo mundo diz que “Ninguém é obrigado a saber tudo”, mas ao mesmo tempo em que afirmam isso, reclamam como se a sua ignorância para determinado assunto fosse quase um crime. Sabe aquela frase de Sócrates que diz que “Quanto mais sei, mais sei que nada sei”? Acho que tem a ver com isso.

Mas deixemos o Sócrates e o Google um pouco de lado - porque, como eu disse, o Google não acha conhecimento e sim informação – e falemos daqueles realmente responsáveis por facilitar o acesso ao conhecimento: as instituições de ensino.

Para começar aqui no Brasil, a educação nunca é prioridade dos governos: o orçamento desse ano prevê uma redução de R$ 500 milhões para a educação, ao passo que os gastos com salário de parlamentares acabaram de subir mais de 50%, e há pouco tempo havia uma lei aqui no Rio de Janeiro que proibia os professores da rede pública de reprovar os alunos. No ensino particular (e eu posso falar tanto da rede pública quanto da particular, porque já estudei nas duas), a coisa é um pouco melhor, mas também falta compromisso por parte dos educadores para com o futuro do nosso país.

Quer dizer, existe muito professor ruim por aí, Bilu. Professores que não aparecem para dar aula, professores que só querem saber de reprovar o máximo de alunos possível, professores que passam a aula inteira contando piadas ao invés de ensinar alguma coisa e até professores que lecionam uma disciplina sem sabê-la e nem têm o cuidado de preparar as aulas antes. Nesse último caso, eu não sei nem quem é pior: se é o professor que aceita um cargo desses ou o coordenador do curso que o coloca em sala de aula.

Não sei como é lá no seu planeta, Bilu, mas posso garantir a você que esse tipo de comportamento não é o correto, porque por algum acaso, também já tive o prazer de assistir aulas com bons professores e o rendimento das turmas era absurdamente superior quando estimulados por esses verdadeiros heróis.

E sabe como eu me sinto quando tenho aula com esse tipo de charlatão enrolador? Me sinto enganada e perdendo meu tempo! Porque eu acordo cedo e pego condução cheia por um motivo, Bilu, eu quero aprender. E fico morrendo de raiva quando todo esse esforço se mostra em vão. Não sou autodidata, e tenho lá minhas ressalvas para com a educação à distância, por isso faço o curso presencial. Mas no final de um curso com montes desses professores, o que se percebe é que foi tudo uma grande mentira e que para APRENDER de verdade, vai ser necessário pagar OUTRO cursinho por fora. E sinceramente, isso é muito desanimador!

Também é engraçado notar como ultimamente há uma corrente de educadores que defendem o que eu gosto de chamar de “terceirização da educação”.Veja bem, não sou pedagoga, e nem tenho pretensão de ser, mas sou aluna e vou falar como tal. Parece que quanto mais o tempo passa, e mais os currículos são atualizados, menos conhecimento eles se comprometem em transmitir.

A alegação para tal segue mais ou menos o seguinte raciocínio: “Hoje em dia a informação está em todo lugar. Temos de tornar o conhecimento útil para a vida do aluno. O professor deve ser apenas um facilitador na busca pelo conhecimento e promover o debate, o pensamento próprio, não pode ser apenas um transmissor do conteúdo, porque se for para isso, o aluno vai lá - adivinha onde – no Google”.

Quer dizer, a tendência é ensinar cada vez menos, porque cada vez mais o conhecimento adquirido recebe o rótulo de “inútil” pela meninada ou ele poderia ser facilmente encontrado na Internet. Mas como definir o que é importante? Como definir o que não é? Tudo bem que uma pessoa que quer ser artista plástica não queira estudar Equilíbrio Químico, e que um futuro químico não queira estudar Machado de Assis, mas como saber do que se gosta e do que não se gosta se não se experimentou antes?

Não seria melhor que as instituições ensinassem pelo menos um pouquinho de tudo, mesmo que o estudante decida esquecer aquilo tudo? Quer dizer, não seria melhor que elas ensinassem de uma vez ao invés de terceirizar a passagem de conhecimento e aí o aluno não teria de apelar para o Google (afinal, nem tudo o que se tem na Internet é assim tão confiável), ou buscar OUTRO curso para suprir a deficiência do primeiro? Aliás, até que ponto esse “pouquinho de tudo” vai? Porque o conhecimento é infinito, mas o tempo é escasso...

E já que estamos falando em escassez de tempo, é ainda mais engraçado ver que esses mesmos caras que defendem “menos conteúdo, mais debate” são aqueles que criam um monte de matérias “anexas”. Sabe aquelas matérias em que “todo mundo passa”, mas que só fazem o aluno perder mais tempo no colégio e fazer mais provas e mais trabalhos? Pois é, Bilu, como se não houvesse disciplinas suficientes na grade curricular, circulam no congresso alguns projetos de lei para que sejam incorporadas milhões de novas matérias no currículo escolar, inclusive um que defende o ensino de “Amor ao próximo”. Amor ao próximo, Bilu! Isso lá é matéria que se coloque no quadro negro?

Eu sinceramente odiava (e ainda odeio) essas matérias. Não só porque não tinham objetivo nenhum, mas porque elas poderiam muito bem ser abordadas dentro de alguma outra disciplina, sem a necessidade de mais tempo na escola e mais provas. Agora, me responde uma coisa, Bilu, como ter tempo para realmente estudar e ensinar Português e Matemática se o aluno está preso na própria escola ouvindo “Como o amor ao próximo é importante”? Depois reclamam que os estudantes não sabem ler e nem fazer conta! O professor de português e matemática às vezes já não é bom, e o aluno não consegue recuperar a matéria em casa porque está “aprendendo” a amar ao próximo... Assim fica difícil, você não acha, Bilu?

Bem, desculpe a revolta, mas é que esse assunto realmente me tira do sério. E o pior é ver que às vezes as pessoas estudam, estudam, estudam e na hora do ‘vamo ver’, o QI (Quem Indica), ou fatores totalmente alheios (como o corte do seu cabelo ou o lugar onde você mora) é que mandam mesmo...

Quer dizer, sabe aquela história de que falar uma língua estrangeira é fundamental pro mercado de trabalho atual? Bom, não é tãããão fundamental assim. Passou no Jornal Hoje outro dia – é um jornal da Globo que passa na hora do almoço esse, Bilu. A Globo, infelizmente, não acredita em você – que o domínio de uma língua estrangeira é só o 15º (ou algo próximo disso) quesito que avaliam num candidato a vaga de emprego. 15º, Bilu! Antes disso, tinham 14 OUTRAS qualidades consideradas mais importantes! Espero que essa pesquisa esteja errada – o que não seria lá uma novidade porque o Jornal Hoje coloca no ar um monte de pesquisas duvidosas todos os dias. Mas também o que esperar de uma emissora que não acredita em você?.

De qualquer forma, prefiro continuar seguindo o seu conselho e buscando bastante conhecimento. Porque também como dizia um outro filósofo grego (Aristóteles, dessa vez), “A educação tem raízes amargas, mas os seus frutos são doces”, e eu espero colhê-los muito em breve.

Desde já agradeço sua atenção,
Elisa

PS. Se não for pedir muito, será que num próximo pronunciamento, você não poderia tentar abrir os olhos da população e deixar essas raízes da educação um pouco menos amargas?
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