quinta-feira, 28 de abril de 2011

Rio

Depois de três A Era do Gelo, Carlos Saldanha cansou da friaca e resolveu voltar para o calor do Rio de Janeiro, sua terra natal. E Rio é isso mesmo. Uma declaração de amor à Cidade Maravilhosa.

Antes de mesmo de assistir, eu já tinha um carinho muito especial por Rio. Não só por se passar nessa Cidade Maravilhosa que eu vivo e amo, mas porque, graças a Rio, eu pude encontrar pessoalmente com ninguém menos do que minha atriz favorita Anne Hathaway (*-* *-* *-*), que estava por aqui promovendo o filme da ararinha azul, numa das sagas mais fantásticas da minha vida. Durante mais ou menos um mês, eu não só vivi no Rio, eu vivi PARA o Rio. E a recompensa foi tão inacreditável que, não precisa nem dizer, serei eternamente grata ao filme.

E exatamente por todo esse carinho especial antecipado, sentia até medo de não gostar do filme. Porque eu tenho muito orgulho do Saldanha, mas A Era do Gelo nunca ocupou um lugar no meu coração do mesmo jeito que Toy Story, por exemplo.

Felizmente, esse medo só durou até os 10 primeiros segundos da projeção. Rio é apaixonante desde a primeira cena. O delicado canto dos pássaros que surgia como prelúdio à história de Blu e Cia e dava início ao lindo balé de cores do samba de abertura foi o suficiente para me conquistar e pôr um sorriso em minha face.

Passarinho, que som é esse?
All the birds of the feathers
Move through the gap of the morning

E já que estamos falando de música, a trilha de Rio é contagiante, com variações do tema inicial por toda a película. Chega a lembrar um pouco até a fórmula Disney (mesmo Rio sendo da BlueSky), com direito a um número musical do vilão (todo vilão Disney que se preze tem que ter um número musical próprio!) e uma canção à la Beije a Moça da Pequena Sereia (Sha la la la la la la, Vai não vai, olha o rapaz não vai, Não vai beijar a moça), Fly Love, para unir os dois pombinhos, quer dizer, as duas araras. Isso tudo, porém, com um toque todo especial de brasilidade.
*  E já que estamos falando em Disney, alguém mais achou que a dulpa Pedro e Nico também tem um quê de Timão e Pumba? E agora que eu falei de Timão e Pumba, lembrei que Fly Love também tem tudo a ver com Nessa Noite o Amor Chegou (Neeeeessa noite o amor chegou, chegou pra fiiiicar, e tudo está em haaaaarmonia e paz; romance está no aaaar).

Wasn't really thinking, wasn't looking, wasn't searching for an answer

A trilha apresenta uma mistura perfeita de bossa, samba e hip hop, que entrou no lugar do funk carioca (acho que o Saldanha pensou que o funk poderia sensualizar demais, e deu pra perceber que, mesmo toda a história se passando em pleno Carnaval, ele tomou o maior cuidado para não associar a imagem do Rio ao turismo sexual), e dá vontade de sair sambando de dentro do cinema. Ah, sim, esqueci de falar. Em Hot Wings, eu cantei até o “laialaiá” da Anne amarradona como se tivesse letra (pois é, né, gente, eu disse que durante um mês eu VIVI o Rio, então, eu já cheguei ao cinema escolada).

Laialaialailaiáaaaa

E também por já ter ‘estudado’ Rio antes, ao assistir o filme, entendi porque o Rodrigo Santoro falava em uma entrevista que tinha estudado a língua dos pássaros e sugeria que toda a conversa fosse feita assim (eu achava que era só piada, mas ele deve ter estudado mesmo), entendi porque a Anne foi passear em Santa Tereza, entendi porque o Eduardo Paes patrocinou um carro alegórico do filme para o Salgueiro, e entendi também porque levaram o pessoal do elenco pro Alemão.

E falando em elenco, vou te contar, que elenco! Como não podia deixar de ser, fui conferir a versão legendada do filme (hello, os caras VIERAM aqui no Rio. Quando é que isso acontece com animações? NUNCA!). Rodrigo Santoro falou inglês - e passarês - muito bem (Santoro já está acostumado com dublagem, né? Ele fez o Stuart Little, e de vez em quando dubla a si mesmo nos filmes que faz lá fora. Só assim pra ele falar também), Jesse Eisenberg estava nerd até a alma como o Blu (tem uma hora que, além de ararês, ele fala latim-do também, vocês vão ver), Anne Hathaway falou duas frases em português (penou pra fazer o chiado carioca, mas falou! Fofaaaa!), e cantou o “laialaiá” mais lindo de todos em Hot Wings, Jamie Foxx e Will.I.am além de dublarem, cantam... E ainda tem George Lopez, Tracy Morgan (aquele de 30 Rock) e Bebel Gilberto e Jane Lynch (isso mesmo, a Sue Sylvester de Glee!) fazendo ponta.

Essa é só a galera que veio pra cá! 
E o melhor de tudo é lembrar de tudo o que eu aprontei nesse dia aí! Hahaha


Uma coisa legal de ver legendado é que de vez em quando você escuta umas frases soltas em português tipo “Caramba”, “Merrrmão” (“meu irmão” em carioquês bem nítido) e principalmente na cena da Sapucaí em que o carinha, que depois eu vi nos créditos que foi dublado pelo Sérgio Mendes, fica falando: “Rebooola! Reboola!” – também em carioquês bem nítido. (Só faltou o “Perdeu, Prayboy!”, hehe). Fora os nomes dos personagens que fazem até massagem nos ouvidos: Pedro, Nico, Luiz, Rafael, Fernando...

E aí, meu Rio???

Tem uma galera aí que reclamou que o filme deu a entender que o povo do Brasil só quer saber de Carnaval e futebol em detrimento do trabalho e que os macaquinhos ladrões denigrem a imagem dos cariocas. Bom, não vi nada disso. A dentista fantasiada que o povo tanto chiou só estava fantasiada porque ERA CARNAVAL MESMO. E não é nenhuma mentira dizer que no Carnaval, a cidade para! E mesmo em seu horário de folga, a mulher provou que era uma profissional muito competente e preocupada e não deixou de lembrar o Túlio para ele passar o fio dental.

Já os macacos, bom, eles são ladrões não porque são cariocas, mas porque são MACACOS!!!! Da mesma forma que o guaxinim da Pocahontas pegava as coisinhas do John Smith porque era guaxinim, e não porque convivia com os índios! E o filme está cheio de personagens legais para provar que aqui não tem só ladrão e que o povo é muito hospitaleiro e está sempre disposto a ajudar (não à toa, os cariocas são considerados o povo mais simpático do mundo). O Rafael então é a maior prova do carioca que só quer voltar pra casa em segurança depois de um dia de trabalho.

Alô, Rio de Janeiro, aquele abraço!

Só ficou meio esquisito aquela cena do segurança (que mesmo assim, eu não achei tão irreal, e nem tão agressiva) e os flamingos na Floresta da Tijuca (que são meramente figurantes). Mesmo assim, não foi nada que eu saísse do cinema me remoendo e preocupada: “Ó, meu Deus, e agora? O que vão pensar da minha cidade?”). E acho que o pessoal da sessão também saiu com a mesma impressão que eu, porque, de novo, a galera aplaudiu o filme no final (isso está ficando mais comum do que eu pensava, mas eu quando eu fui ver Cisne Negro, os únicos aplausos que eu ouvi foram os da tela...).

Mas tem que aplaudir mesmo! Olha que que coisa mais linda, mais cheia de graça...

É um filme cheio de clichês? Claro! O Rio que mostram é aquele “pra gringo ver”? Lógico!

Mas foi legal demais ver tudo isso na tela do ponto de vista de um carioca e ninguém pode dizer que o cara falou um monte de mentiras. O realismo da paisagem e a precisão geográfica são de cair o queixo (alô, carioca falando!). Adorei ver lugares por onde eu passo ou passava todo dia ou visito de vez em quando como o Aterro, a Lagoa, o Maracanã (não entendi o Brasil e Argentina em pleno Carnaval, mas tudo bem!), a Catedral de São Sebastião, o Prédio da Petrobrás, os Arcos da Lapa, a praia e o calçadão de Copacabana (quando o Blu atravessa a ciclovia, eu me senti dentro do filme. E eu juro pra você que teve uma hora que achei que era Ipanema e vi o Fasano ali atrás, hahaha!). E ainda teve bondinho de Santa Tereza, Cristo Redentor, Jardim Botânico, Floresta da Tijuca... Sério, eu estava completamente dentro da tela (ah, é, eu também fiz questão de ver o filme em 3D, apesar de ver o Rio em 3D todo dia).

 
Olha lá, isso é perto de onde eu almoço todo dia!

Isso fora as referências à nossa cultura tipo churrasco (por isso que a Anne passou fome aqui, rs!*), água de coco (repara só como o carinha corta o coco em três facadas! Muito real!), futebol (gritei “Goooool!” na cena do futebol, de verdade!), Garota de Ipanema, mamão, manga e o desfile na Sapucaí com os carros alegóricos, carnavalescos estressados e alas coreografadas...
*Vocês não noção da quantidade de piadas que a gente fez por causa dessa declaração dela! Acho que foram mais de 10. Eu ria sozinha a cada nova bobagem que inventávamos.

 (Adorei os jacarés que se moviam de skate! É o tipo de coisa que REALMENTE os caras fazem. Não precisa nem ser Paulo Barros pra pensar nisso. Aliás, aquela escola do filme corria o sério risco de ser rebaixada. Que bagunça! Se fosse a Beija-Flor, já até visualizo o Laíla descendo a bronca na galera aqui de Nilópolis). Ah, sim, o uniforme e o carro da polícia também estavam idênticos!

Interessante notar que Rio mostra as partes boas da cidade, mas não fecha os olhos para a realidade ao mostrar a favela, o menino pobre, e até os bandidos que fazem contrabando de animais. E o mais legal é que é tudo contextualizado e não passa uma imagem negativa do Rio. Foi tudo feito com uma delicadeza que só quem morou aqui tem para retratar tão bem que o Rio é sim uma cidade de contrastes (repare na linda cena do menino na favela com o Pão de Açúcar ao fundo. Não é licença poética. O Rio é assim mesmo!). E problemas toda a cidade tem, mas, no final das contas, as coisas boas do Rio se sobressaem sobre as ruins.

Quem foi que disse que só Cidade de Deus pode mostrar favela, hein?

Rio é um filme lindo e envolvente. Os personagens cativam facilmente e a história combina muito bem romance, ação (a cena do avião no final foi TENSA. Me identifiquei totalmente, por que será?) e crítica social, ao mesmo tempo em que diverte com um roteiro inspiradíssimo em que todas as piadas funcionam. É de longe o melhor filme do Saldanha, e um dos desenhos mais legais dos últimos anos. É claro que não é assim um Pixar. Mas em nenhum momento Rio tenta ser mais do que propõe, e entrega um feijão com arroz (que, aliás, não podem faltar no prato do brasileiro) muito gostoso.

Brasil, o país do futebol. 
Rio, a cidade do futvôlei.

(E já que estamos falando de Pixar, Carros 2 vai ter que ser muito bom pra tirar a minha torcida de Rio para o Oscar. Porque eu sou bairrista mesmo, e vou torcer pra minha cidade do coração. E já que estamos falando de continuações, desde já estou torcendo também para que tenha Rio 2 e a Anne voltar, haha!)

Rio é um filme para sentir orgulho de ser carioca. E se você não é, pra sentir vontade de ser um. E que me desculpem as outras cidades, mas todo mundo sabe que o xodó do povo é o Rio.

E o Rio de Janeiro continua lindo

Obs. Da série “Coisas que só eu reparo”: Na parte em que o Pedro e o Nico vão avisar ao Blu que a Jade foi seqüestrada, quase no final, e eles ficam imitando a cacatua: “Aí ele chegou e ficou falando: ‘Fica quieta, princesa! Perdeu, princesa!’”, #eurisozinha! Às vezes eu acho que eles fazem essas coisas só pra pessoas como eu ficarem reparando, ou então para eles poderem adicionar alguma coisa na lista de curiosidades do filme no IMDb.
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sábado, 23 de abril de 2011

Bolsonaro, blablablá e um pouquinho de matemática

Opa, voltei! Queria deixar uma réplica lá nos comentários mesmo pra acabar de vez com esse assunto, mas quando comecei a minha argumentação, o texto foi ficando comprido e legal demais pra ficar restrito à caixa de comentários.

Antes de tudo, gostaria de parabenizar os leitores por protagonizarem um debate civilizado e bonito pra caramba aqui na semana passada. Vocês são a prova de que existe vida inteligente na blogosfera, e que não só de trollagem vive a internet. E já que o juridiquês tomou conta e espantou a galera das exatas, enquanto escrevia, sem querer apelei para as metáforas matemáticas.

Pois bem, no post anterior, deixei um monte de perguntas e joguei pra galera mesmo, pra vocês se degladiarem lá na caixa de comentários. E olha só que engraçado, eu, que sempre achei as aulas de filosofia a maior bobagem no colégio e que falava que estudar Direito devia ser muito chato, estava aqui puxando uma discussão pautada em filosofia e legislação. Devo confessar até que fiquei com a maior vontade de cursar Direito ou de pelo menos assistir uma aula dessas assim, num estilo debate, igual àquela aula que a Rory invade enquanto visita Harvard, agora. Mas tinha que ser com objetivo igual estávamos fazendo aqui. Não gostava das aulas do colégio porque nunca se chegava a lugar nenhum.

E ao contrário do que eu também achei que ia acontecer por aqui, até que chegamos a algum lugar, sim. Pode não ser o lugar final, mas certamente já é um outro lugar mais à frente daquele cheios de pontos de interrogações do início (agora já um pouco menos de interrogações do que antes). O que corrobora ainda mais a citação do comercial do Futura muito bem lembrada pela Fê, de que “não são as respostas que movem o mundo, são as perguntas”.

Pois então, a Annie veio aqui e me provou por absurdo que liberdade tem limite, sim! E por mais paradoxal que seja, esses limites não são aquilo que nos tornam menos livres, como eu pensava, mas justamente o contrário! (Depois vocês catam o comentário dela pra ver que argumentação bonita de cair o queixo).

Coexistência só existe através do pacto “Você faz o que quiser com a sua vida, que eu faço o que quiser da minha”. Só que a vida em sociedade não deixa que isso sempre ocorra, porque às vezes o que você quer vai de encontro àquilo que eu quero.

Fisicamente falando, dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço. Aritimeticamente falando, o único subconjunto que faz parte de todos os outros é o vazio. E a menos que você tenha alguma coisa dentro, não dá pra concordar com tudo. Não dá pra ficar em cima do muro e aceitar o que os outros pensam sempre.

(Aliás, eu posso até aceitar a pessoa, mas não seus atos, como muito bem colocou a Cíntia. Até porque Jesus mandou amar - e ama - os pecadores, mas não seus pecados. O que, no fundo, é a Regra Número Um da política da coexistência e da boa vizinhança.)

Mas e agora, se eu quero A e você quer B, e os conjuntos são mutuamente exclusivos, comofaz? Aí eu acho que entra a política e o jurídico pra decidir o que é certo e o que é errado.

Então, sim, a liberdade tem limites, e sim, é claro que existe certo e errado! É claro que existe!

Posso não concordar com uma palavra que tu dizes, mas defenderei até o fim o direito de dizê-las (Voltaire)  

Será?

A gente até tenta levar essa filosofia hippie de convivência em harmonia a maior parte do tempo porque, imagina só se todo mundo resolve ficar ofendido só porque o outro pensa diferente de você, mas tem certas coisas que É CLARO que causam indignação, porque obviamente estão do lado considerado errado. São coisas que não dá pra aceitar. São intoleráveis mesmo. Quer exemplo? Pedofilia. Racismo. Violência. Assédio Sexual.

Aparece na TV defendendo alguma dessas coisas pra você ver o que acontece contigo.

O problema está em quando todos os assuntos, seguindo o raciocínio da regra da exceção da Annie, se tornam intoleráveis por causa da tolerância. Claro, todo mundo tem o direito de “falar o que quiser”, contanto que arque com as conseqüências depois, porque eu também tenho o direito de me sentir ofendida e apelar pra justiça para que você seja punido.

(E, pois é, tolerância tem limite também!)

E a-há, aqui a porca torce o rabo de novo porque esses conceitos do que é tolerável ou não MUDAM de acordo com o que a justiça determinar! Pois é, o Direito muda, porque, adivinha só, a sociedade TAMBÉM muda! E aí a gente entra num loop infinito porque o Direito muda para acompanhar a sociedade, ao mesmo tempo em que a sociedade muda para acompanhar o Direito. (Isso falando em justiça dos homens. Porque na justiça de Deus, o papo é bem outro)

O lance está realmente na parte de ser punido, porque a justiça, dependendo do caso, também está do lado da opinião pública (essa mesma que muda de acordo com o vento ou com a novela na TV). E qualquer coisinha pode ser considerada racismo, preconceito, ou a palavrinha da moda: homofobia. Ao mesmo tempo em que outras, não pertencentes ao grupinho dos intocáveis, permanecem incólumes por aí.

E então, finalmente, voltamos ao Bolsonaro. Há um projeto de lei para que se aprove (acho até que já foi aprovado) um kit de combate à homofobia nas escolas. Assunto MEGA polêmico. Só porque o cara se manifestou contra o projeto tem que ser linchado? Eu acho que não. Afinal de contas, é pra isso que serve a democracia. Existem aqueles que são a favor, existem aqueles que são contra. A gente vota e decide! Agora, ele perde a razão por causa da maneira como se manifesta. Como já foi amplamente discutido aqui na semana passada, e eu claramente me posicionei contra seus argumentos infundados.

E realmente, tudo depende do modo como você se expressar. Eu mesma vim aqui semana passada e explanei por que sou contra as cotas, sem ofender ninguém. Mas quando você está lidando com esses temas intocáveis, não é a mesma coisa que discutir se você gosta de Crepúsculo ou não. E, como eu disse, qualquer deslize que for, já é motivo para que a outra parte se sinta ofendida. E mesmo que você não diga nada ou nada de mais, mesmo assim ainda é capaz de a pessoa se sentir ofendida! É a parte chata do politicamente correto. Todo mundo SEMPRE vai se sentir ofendido com tudo. Mas, fazer o quê? Nem todo sistema é perfeito, né?

Mas, é exatamente por isso que ninguém discute o tal projeto na TV! Discutimos muitas coisas interessantes aqui a partir do caso Bolsonaro (o assunto foi fundo, foi parar na filosofia até), mas em nenhum momento você ouve falar de um debate se você é a favor ou contra o tal kit, e até que ponto o governo  tem o direito de meter o bedelho na educação dos nossos filhos. Porque qualquer argumento utilizado pode ser usado contra você.

E se a tolerância tem limite, a intolerância também tem! E do mesmo jeito que a gente discutiu com a liberdade, é justamente a falta de tolerância que permite que a tolerância exista e vice-versa, e quem define que limite é esse é a justiça e... (loop infinito de novo).

Resumindo: Lindsay Lohan estava errada. O limite existe, sim. Está na liberdade. E está na tolerância. E ele existe para que elas mesmas possam existir. Qual é o limite? Isso aí é com a justiça. Seja ela qual for.

Obs. Fui um pouco mais atrevida nesse post, e me aventurei a divagar um pouquinho até pelo Direito, que não é minha praia. Tive algumas aulinhas de Introdução ao Direito na faculdade (faço Contabilidade – uma ciência que tem um pouquinho das exatas e um pouquinho das humanas - e se você quiser trocar de faculdade mesmo, Fê, acho o curso uma boa pedida), mas não era nada excepcional e minha professora mais faltava do que ia, então... sou leiga mesmo. Se eu falei alguma coisa muito errada, a galera do Direito pode falar, que eu não vou ficar ofendida, não, ok?
Obs2. Annie e Marcus, mas é claro que em casos de guerra todo o ordenamento jurídico se altera! Até eu sei disso, rs! (Sei porque tem algo do tipo na exceção ao princípio da legalidade do Direito Tributário, e essa matéria aí eu aprendi direitinho :-))
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sábado, 16 de abril de 2011

Bolsonaro, opinião e intolerância

Se você não for um completo alienado, tenho certeza de que pelo menos ouviu falar da polêmica envolvendo o deputado federal Jair Bolsonaro nesse mês de abril. O deputado, no quadro “O Povo Quer Saber” do programa CQC, deu uma série de declarações que, no mínimo, careceram de um bocadinho mais de sabedoria, e acabaram resultando em acusações de racismo e homofobia.

Algumas delas por problemas de interpretação da pergunta, outras por interpretação da resposta, algumas outras porque, bom, pois é, o Bolsonaro é um idiota e fala demais.

O caso
Para começar, o deputado tem posições altamente questionáveis como a defesa da ditadura, simpatia pelo nazimo, etc, mas nem tuuuuudo o que ele falou no programa foi sem embasamento. O negócio todo é que ele passou dos limites, e não prestou atenção no que estava dizendo.

Na pergunta sobre se ele era a favor do sistema de cotas (uma questão polêmica que geralmente evoca discussões acaloradas), por exemplo, ele estava respondendo muito bem ao citar a Constituição, dizer que todos somos iguais perante à lei e que achava algo injusto um sistema que beneficia as pessoas só por causa da cor. Até aí eu estava concordando com ele até.

Sou contra as cotas também porque as acho injustas. Vi amigos meus ficarem reprovados no vestibular com notas duas vezes maior do que cotistas aprovados. Fora o problema de decidir quem é negro e quem não é, nesse país cheio de miscigenação. Outro dia passou no Fantástico o menino branco, passou no vestibular usando do sistema alegando que a AVÓ era negra. Ora, bolas, se é assim, eu sou negra também! Meu avô materno também era negro!

Só que aí ele pôs tudo a perder ao complementar que não aceitaria ser operado por um médico cotista. O deputado quis parecer racional, mas esse argumento não tem qualquer validade, uma vez que, a partir do momento em que o aluno cotista passa no vestibular, recebe A MESMA EDUCAÇÃO do cara que passou sem cotas. Foi pra isso, inclusive, que elas foram feitas. Não é porque o cara passa no vestibular com uma nota menor que signifique que ele é incapaz. Também tenho amigos na faculdade que são cotistas e são MUITO MAIS ESTUDIOSOS e tiram NOTAS MUITO MELHORES do que aqueles que entraram sem cota, e vão se formar COM HONRAS!

Dizer que não aceita ser operado por um cara que tirou uma nota inferior no vestibular (aí você pode incluir o cotista, o cara que passou em último lugar, o outro que passou na reclassificação...) é o mesmo que dizer que quem estava nas primeiras posições antes de entrar na faculdade foi um aluno melhor durante todo o curso. O que todo mundo sabe, não necessariamente é verdade. O vestibular é só um método de selecionar quem vai ENTRAR na faculdade. Se é justo ou não, aí já é outra discussão. Agora, quem vai SAIR um melhor profissional de lá não tem nada a ver com a prova feita 4, 5, 6 anos antes.

(Opinião pessoal: Sim, em parte acho o vestibular meio besta, pois é uma prova que vai testar um monte de conhecimentos que depois que passa o exame, todo mundo esquece. Mas também é extremamente eficaz porque é um sistema por mérito. A única coisa que se precisa ter é a nota. Simples assim. A prova não te olha com preconceito e ninguém precisa fazer doação pra faculdade, ter amigos na reitoria, parente político, etc. Não é um sistema perfeito, mas funciona).

Resumo: Falou demais, foi infeliz na resposta e ficou parecendo racismo.

Aí teve a outra pergunta da Preta Gil também. Logo que ele ouviu que era ela quem ia falar, deu uma risadinha. Ela perguntou “O que você faria se o seu filho se apaixonasse por uma negra?”, ou coisa parecida. E o IDIOTA respondeu algo totalmente NADA A VER! Chamou a Preta Gil de promíscua entre outras coisas GRATUITAMENTE. Ao meu ver, ele entendeu “O que você faria se o seu filho se apaixonasse por uma negra como eu?”. Quer dizer, o cara estava TÃO PREOCUPADO em esculachar com a mulher que nem esquentou em prestar atenção no que ela estava perguntando*. Resultado: ficou parecendo racismo de novo. Só que, se no caso anterior foi um exemplo de ignorância, nesse ele pagou a língua por querer desmerecer os outros. Também não acho que a Preta Gil seja santa, mas isso também não me dá o direito de sair por aí xingando ela em rede nacional. É, NO MÍNIMO, falta de educação. E, NO MÍNIMO, está merecendo todos os processos que está levando!
* Esse tipo de coisa acontece. Uma vez a Jami estava perguntando pra Fe se ela achava o Leonardo DiCaprio bonito, e a Fe ficava repetindo, e repetindo que A Praia era um filme muito ruim. Demorou um tempão até que a gente arrancasse um simples Sim ou Não dela.

E aí teve a pergunta do filho gay também. O deputado podia dizer que não ia gostar, mas que ia respeitar; que não concordaria com a opção do filho, mas que nem por isso todo homossexual é digno de repúdia... Mas não. Preferiu falar a primeira coisa que veio à mente. Dar a resposta mais estúpida possível. Porque todo mundo sabe que por mais bem educado que seja um filho, nunca é garantia de que ele vai seguir tudo o que você ensinou.


Criando polêmica

Ao contrário do nosso deputado, ao escrever esse post, estou prestando bastante atenção às palavras para que não haja problemas de interpretação ou acusações posteriores. Sei que os assuntos são complicados e que estou pisando em ovos aqui, e aí qualquer “movimento brusco” pode ser fatal, mas... vamos colocar um pouco mais de lenha na fogueira.

Acho que já ficou bem claro aqui que eu achei que as declarações do Bolsonaro não foram nada bonitas e que o cara não teve nem um pouco de sabedoria e responsabilidade com suas palavras. Mas em algumas partes da entrevista, o deputado só estava expressando a sua opinião, e em outros, como disse, foi completamente estúpido e passou dos limites. E aí é que o bicho pega. Que limites são esses?

Até que ponto o que o cara falou foi opinião? A partir de quando virou intolerância? Será que essa tendência de ficar sempre em cima do muro não está incapacitando as pessoas de formarem suas próprias opiniões? Será que não é permitido pensar diferente da maioria? Isso não é censura também? E se o problema não for pensar, mas falar?

Aí, até que ponto a gente tem que se calar pra não criar confusão? Porque é que aqueles que têm uma opinião diferente da geralmente aceita têm que ficar quietos sempre e achar bonito tudo o que os outros acham?

Esse discurso de tolerância é a maior furada, né? Porque se tudo é uma questão de opinião, por que se perde tanto tempo discutindo o que é certo e o que é errado? Se existe certo e errado, então nem tuuudo é questão de opinião, não é? Porque na realidade é assim, né, quando concordam comigo, está certo, quando não, está errado.

Que apoio à diversidade é esse em que homossexualismo é opção e virgindade é caretice? Por que “100% negro” é bacana e “100% branco” é racismo? Por que se comemora o Dia da Mulher e não tem o Dia do Homem? Aliás, por que é que todo mundo tem que ficar ofendido com tudo? Por que tudo tem que ser tão intocável? Será que essa tolerância toda não está virando intolerância a tudo também?

E a liberdade de expressão? Aliás, até que ponto a liberdade de expressão se justifica? Mas, se existe limite para a liberdade, então ela não é mais liberdade, certo?

E o que é que eu vou fazer com essa tal liberdade, se estou na solidão, pensando em você? (rs! Só pra contrariar, digo, pra descontrair um pouco).

São perguntas difíceis, que eu sinceramente não tenho a resposta. Peço ajuda aos universitários, ao pessoal que estuda/estudou Direito, à galera que teve aula de Filosofia e Sociologia, e a você, leitor não estudioso das ciências sociais como eu, para dar o seu pitaco. Só peço atenção às palavras porque, se vocês falarem alguma besteira, depois a culpa cai pra cima de mim, que administro o blog.

É bem provável que a gente também não chegue um denominador comum (como já diria o Sheldon, de The Big Bang Theory: “Os estudos das ciências sociais muitas vezes são inconclusivos”.* Mas, acho que nesse tipo de coisa, mais vale o debate do que a resposta final, não é?
*Esse episódio é ótiimo! Ele constrói um algoritmo da amizade que entra em loop infinito! Sensacional!
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sábado, 9 de abril de 2011

Juliet, Nua e Crua

Quando eu terminei de ler Alta Fidelidade, fiquei me perguntando como seria a relação do Rob Flemming com a música em tempos de MP3. A resposta para minhas divagações/dúvidas veio com o lançamento de Juliet, Nua e Crua – o livro.

Nick Hornby retoma o assunto que o tornou famoso e adiciona a internet no meio (com direito a Wikipédia, email, fóruns de discussão e MP3*), atualizando o perfil dos aficionados e retratando com exatidão o comportamento dos fãs na grande rede.
*Ao contrário do que eu – e metade do mundo – pensava, tio Nick dá a entender que, apesar de ser um apreciador do vinil, sente um imenso prazer ao ver as faixas ganharem nomes automaticamente quando coloca um CD no player do computador e mais prazer ainda em organizar e nomeá-las quando isso não acontece.

E tem fã para todos os tipos. Estão lá: o fã-nático (que faz tour por lugares importantes na carreira do ídolo), o Stevie Wonder (que não consegue enxergar que a obra talvez não seja tão perfeita assim), o xiita (que encontra o texto na internet por acaso e arruma confusão), o Sherlock (que se considera estudioso e inventa teorias conspiratórias), o Seguidor (que pede pra tirar foto e depois ainda sobe pra internet), o novato, etc. Acho que só não teve fã-#hashtag porque o livro foi escrito numa era pré-sucesso-do-Twitter.

Duncan é um fã-nático/Stevie Wonder/Xiita/Sherlock e é dono de um site especializado no roqueiro Tucker Crowe. Em tempos mais remotos, o fã de um músico semi-famoso que abandonou a carreira há 20 anos sem dar explicação seria somente mais um admirador isolado pensando que só ele no mundo conhecia o trabalho de Tucker. Mas com a Internet (ah, a Internet!), de repente, ninguém está mais sozinho e esse punhado de aficionados sem noção espalhados pelo mundo afora pode se encontrar e debater e fazer amizades e inventar teorias malucas nos fóruns de discussão!

Não precisa nem dizer que eu me identifiquei totalmente com o Duncan. Viciada em fóruns que sou, conheço algumas teorias conspiratórias – e dependendo do assunto, até crio as minhas também -, já fiz planos mirabolantes desse tipo de tour (me falta o dinheiro, mas um dia eu ainda faço a minha excursão por NY – com direito a plantão no Central Park*) e vejo o povo sedento por lançamentos de novos materiais, mesmo que seja com conteúdo de coisas velhas. Também fico angustiada, louca para comentar alguma obra com alguém, e procurando mensagens subliminares nas coisas de que gosto.
*Agora não precisa mais de plantão no Central Park, né? *-*

É claro que todo esse fanatismo começa a incomodar Annie, a esposa de Duncan, que até gosta do álbum mais famoso e reverenciado de Tucker, Juliet*, mas depois de 15 anos, o relacionamento começa a dar sinais de desgaste.
* Eu sei que os estilos não têm nada a ver, mas lembrei da Jane, que deu goodbye pro Adam e  inspirou o 1º álbum do Maroon 5, Songs About Jane. #prontofalei.

A gota d’água acontece quando uma cópia de um novo álbum com versões inacabadas das canções de Juliet, intitulado Juliet, Nua e Crua, chega à caixa de correios do casal como cortesia da gravadora* (pois é, o Duncan também tinha parceria. E está aí mais uma prova de que elas não são de Deus). Annie, só de provocação, ouve o CD primeiro. E o pior de tudo: diz que não gostou!
*Um belo golpe da gravadora, diga-se de passagem, mas que para os fãs, isso não faz a menor diferença.

Duncan, obcecado que é, acha aquilo um absurdo. Como ela pôde ouvir antes? Como ela teve a AUDÁCIA de criticar essa nova obra-prima de seu ídolo Tucker Crowe? E após escutar o álbum por uma única vez, extasiado pela sensação de possuir o privilégio de ouvir aquela raridade antes de todo mundo, escreve uma resenha apaixonada – dizendo que a nova versão chega a superar inclusive o seu álbum favorito de todos os tempos, Juliet original (que depois de Nua e Crua, virou simplesmente Um, pros íntimos) - e publica na internet para delírio e inveja do resto da comunidade Tuckermaníaca.

Annie, revoltada, também escreve a sua – bem mais racional – e coloca na grande rede. O que ela não esperava era que fosse receber uma resposta de ninguém menos do que o próprio Tucker, que assina embaixo de tudo o que ela falou! (Olha aí a Internet fazendo a diferença de novo!).

O resto eu não posso contar, porque senão a leitura fica sem graça. Mas posso adiantar que o estilo Hornibyniano está de volta com os sorrisos de canto de boca e seus personagens imperfeitos e ainda assim carismáticos (destaque para os dançarinos da boate sem noção e o psiquiatra excêntrico), aliados às reflexões sobre a vida, relacionamentos e família.

Contudo, é interessante notar que apesar da tecnologia ter papel quase que fundamental no desenvolvimento na trama, Juliet, Nua e Crua é um livro sobre personagens que ficaram presos ao passado. Todos os três protagonistas sentem-se, de certo modo, tendo desperdiçado boa parte de suas vidas. A cidade pacata onde moram Annie e Duncan parece ter parado no tempo e é o exemplo perfeito da ausência de progresso. E a protagonista, inclusive, trabalha num museu (uma ótima sacada do Tio Nick!).

Juliet, Nua e Crua tem um certo quê de comedia romântica, mas sem o final arrebatador (e eu nem senti falta disso). Porque, tal qual Alta Fidelidade, antes de tudo, ele é um livro sobre a relação das pessoas com a música, a relação das pessoas umas com as outras, e a relação das pessoas umas com as outras quando a música E a internet (a novidade de Juliet sobre seu "antecessor") estão no meio.

Certamente é uma leitura obrigatória para quem é fã, principalmente para aqueles que às vezes se esquecem que seus ídolos não são unanimidade, ao mostrar que, da mesma forma que essas criaturas obcecadas - apesar de não parecer- também têm vida (igual a todo mundo), aqueles os quais tanto admiramos também só são mais alguém tentando encontrar a sua própria estrada pra trilhar.

E em tempos de Internet, onde estamos todos navegando no mesmo barco tripulado por gente de todos os tipos e gostos, Hornby não poderia ser tão certeiro.

PS1. Olha só que legal que eu acabei de achar. Isso porque foi sem querer. Porque quando o fã obcecado quer, ele descobre muito mais...
PS2. Chega a ser engraçado ver o verbete de Juliet, Naked - o livro - na Wiki, depois de ter lido o de Juliet, Naked - o disco - no livro.
PS3. Próxima parada: Um Grande Garoto!

Edit: Comentei ali sobre a semelhança de Juliet e Jane, certo? 1 ano depois da resenha, o M5 lançou uma versão comemorativa de 10 anos do Songs About Jane, no estilo Juliet Nua e Crua. Sou profeta! Agora imagina que louco a namorada de um fã do Maroon 5 escrever uma resenha falando mal do "novo" álbum e acabar tendo um caso com o Adam Levine?
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