quinta-feira, 30 de junho de 2011

Baile de Máscaras

Todo super-herói que se preze, na hora de ir lá e enfrentar os bandidos e acabar com as mazelas da sociedade, trata de assumir a personalidade de seu alter-ego ao colocar aquele figurino caprichado com direito a collant customizado e principalmente máscara.

A fantasia permite que o herói esconda a sua verdadeira identidade e que o vejam como aquela pessoa frágil que geralmente é o herói longe do combate ao crime, separando assim a sua vida “pessoal” da “profissional”.


Como disse no início do mês, comecei no novo trabalho e embora eu não seja super-heroina nem nada, todo dia coloco a minha fantasia de “jovem executiva casual”*, uma vez que por lá jeans e tênis** (basicamente minha combinação de roupa para qualquer coisa) são EXPRESSAMENTE PROIBIDOS.
*Até que o figurino não é tão ruim como eu imaginava e dá pra se sentir confortável com o “uniforme de trabalho” durante o dia. O sapato que eu comprei é molinho e não machuca o pé (mas na ida eu vou de tênis e troco no caminho, porque ele esquenta o pé no frio do amanhecer e tipo assim, eu pego trem, né!). Só a camisa social de manga comprida que é meio sufocante e aprisionadora, mas pode usar blusa de manga curta também.
**Terça passada foi tão legal! Liberaram jeans e tênis porque ia ser final da gincana do treinamento. Todo mundo aproveitou, porque depois disso, NUNCA MAIS!

Ainda bem que eu não tenho que usar capa e nem calcinha por cima da calça. Aí também já ia ser demais.

Não é como se ao vestir a roupa, eu me tornasse outra pessoa totalmente diferente ou me fizesse mais ou menos competente. Eu pessoalmente acho que as pessoas num geral deveriam olhar conteúdo, e não CARA de conteúdo, mas já que o povo faz questão e acha que transmite seriedade e credibilidade e tem uns babacas que vão ficar te olhando torto por causa da sua roupa, quando até parece que eles são tão sérios e compenetrados o tempo todo ou que a máscara de trabalho é que faz um profissional de sucesso, fazer o quê, né? Manda quem pode, obedece quem tem juízo.


Sabe aquela coisa de ser você mesmo e não julgue um livro pela capa e beleza interior é o que importa que a gente cansou de ouvir na infância? Pois é, às vezes dá a impressão de que num ambiente corporativo isso não vale de nada. Pelo menos num primeiro momento. Porque o que tem de livros cheios de verbos no imperativo ensinando você a ser extremamente calculista e esquecer de ser você mesmo não está no gibi.

O pessoal do CRUJ também usava máscara, mas era por uma causa nobre

Mas assim como no trabalho existe a necessidade de se colocar a máscara de profissional sério, já reparou em como a gente tem que vestir diferentes máscaras todo o dia de acordo com a situação?

Porque a máscara está lá também como forma de proteção. E a gente às vezes pra esconder aquela cicatriz que não quer que ninguém veja, seja por vergonha, medo de não ser aceito, ou simplesmente um jeito mais prático e fácil de enfrentar as situações.

Vestir a máscara de felicidade quando se está triste, a da paciência quando na verdade se está com vontade de estrangular o pescoço da pessoa, ou a de bravo para exigir respeito. A de quietinho-come-quieto quando num lugar cheio de gente que você acabou de conhecer, ou até mesmo a de extremamente descolado no meio de gente desconhecida para que as pessoas não reparem a sua infinita timidez.

E no fundo, no fundo, se a gente parar pra pensar, todos nós somos um pouco atores, não é?

Sim, tem gente que usa máscara de um jeito nada altruísta porque quando está na sua frente te trata de forma super-gentil, mas basta virar as costas para que as verrugas e narigões apareçam. Mas o uso de diversas máscaras não significa necessariamente uma coisa ruim. Ao contrário, pode indicar, por exemplo, uma pessoa multi-facetada. Porque ninguém se comporta da mesma forma o tempo todo. E muitas vezes as tais máscaras são apenas uma variação do nosso próprio eu. Afinal de contas, quando o Zorro coloca a roupa e a máscara, não deixa de ser Diego Alejandro*.
* Minha irmã já estudou com um menino que chamava Diego Alerrandro. A mãe deve ter quisto fazer uma homenagem ao Zorro, mas o escrivão não colaborou!

Tira, a máscara que cobre o seu rosto...
Aliás, bota! Bota uma máscara aí, Ronaldinho!

E aí, acontece que, assim como qualquer (super-)herói, também caímos nas armadilhas das máscaras de conveniência, porque, exatamente do jeito que a gente queria, cada pessoa passa a nos enxergar de um jeito diferente. E então fica impossível tirar a máscara depois de um certo tempo e a gente tem de administrá-las o tempo inteiro.


E às vezes vestir uma máscara de uma das personalidades é menos cansativo do que passar o dia dando explicações. Mas acontece também que qualquer máscara, fantasia ou maquiagem pesada, quando chega no final do dia, cansa. Elas nos sufocam e aprisionam nosso corpo. E, apesar de necessárias, não tem coisa melhor do que eventualmente se despir de toda essa parafernalha e revelar sua identidade secreta.
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quinta-feira, 23 de junho de 2011

Balanço no Busão (2)

Minha irmã tem aversão a transporte público. Vou falar até pra ela fazer uma coluna Eu Odeio Transporte Público aqui pro blog. Quando eu falo pra ela pra gente ir a algum lugar e acrescento que a gente tem de ir de ônibus, ou trem, ou qualquer outro meio de transporte em que se tenha que pagar passagem, ela descarta na hora. Vocês tinham que ver a cara de espanto dela quando visitou a Central do Brasil outro dia e viu que lá tinha Mc Donald’s, supermercado, loja de bolsas, entre outras coisas. A única coisa que não tinha era a Fernanda Montenegro escrevendo cartas para pessoas iletradas.

Mas, ao contrário da Esther, eu gosto de andar de trem. Ela até fica me sacaneando dizendo que eu tenho espírito de pobre porque pra tudo quero pegar o Japera, mas acontece que é o meio de transporte mais rápido e mais divertido que existe. Quem nunca pegou trem não sabe o que é vida.

Ano passado eu fiz um post mais ou menos nessa linha depois de ter presenciado um pocket-bus-show e um palhaço (é, um palhaço de verdade, daqueles de circo) no ônibus, mas acontece que depois dele me lembrei de algumas outras situações, escutei outras de amigos e principalmente (vi)vi mais algumas histórias absurdas que só quem freqüenta o transporte público pode contar.

Apertem os cintos, o piloto sumiu!
Mentira, ele não sumiu. Mas era um piloto do barulho. Quem passa ali no Aterro do Flamengo no sentido Centro sabe que tem uma curva bem fechada que se passar muito rápido, sentimos na pele a 1ª Lei de Newton de que “Um corpo em movimento tende a permanecer em movimento”. Eis que um dia um motorista engraçadinho passa ali por aquela curva tão empolgado que fala lá da frente: “Atenção Senhores passageiros, apertem os cintos. Máscaras de ar cairão acima de suas cabeças...”

Saudades do São José
Antes do Lindberg conceder o passe para os alunos das escolas federais também poderem pegar os ônibus municipais de Nova Iguaçu (na época quem operava as linhas municipais que passavam lá em frente ao Cefet era a falecida Elmar), os estudantes tinham que lotar o famoso São José “vermelho”, que fazia aquela volta lá por Ponto Chic, já que este era intermunicipal.

Gente, o São José era muito velho. Teve uma vez que eu olhei um daqueles documentos que ficam grudados ali perto do motorista a respeito da documentação do carro e vi um negócio datado de 1990 e tal! Não que o Elmar fosse muito melhor, mas o São José era brabo.

Mas enfim. Num dia como outro qualquer, o São José cheio pra caramba e os alunos entulhados como sardinhas enlatadas, quando estávamos ali quase chegando no Cefet, virando na esquina do atualmente moribundo Colégio Atual, eis que o São José, PRA VARIAR, enguiça. O motorista briga com a marcha, tentando fazer o motor voltar à vida.
Eu abro a mochila pra pegar alguma coisa e como o negócio não tinha espaço, acabo por deixá-la um pouco aberta. Eu estava lá na frente, perto do motorista - já que a roleta era atrás (eu falei que o ônibus era velho), os estudantes entravam pela frente e como fui uma das últimas a entrar não deu pra ir muito pra trás – e o piloto avisa que a bolsa estava aberta e que tinha um biscoito ali dentro. Até aí tudo bem, o problema foi que o cara simplesmente PEGOU O MEU BISCOITO E COMEU!

Acabou que o ônibus conseguiu pegar de novo e a gente não teve que ir andando até a escola. Mas quem disse que eu não gostava do São José? Apesar de velho e com motoristas abusados, o ônibus tinha um serviço diferenciado para seus passageiros. Nunca vou esquecer do Rafael comentando sobre um banco que estava com as costas caindo: “Olha só, depois vocês reclamam do São José. O ônibus tem até poltrona reclinável! Tá melhor até que o Tinguá!”.

Condutor Carlos
Essa quem me contou foi o Juliano (se eu contar errado, pode corrigir, Juliano). Quem é PhD em metrô/trem sabe que antes de dar sua partida, o maquinista sempre se apresenta, diz pra onde vai, quanto tempo leva de viagem, e desejam um bom dia. Acontece que em horários de pico, aquele tempo estimado nunca é cumprido, mas os caras o falam mesmo assim. Mas Condutor Carlos não está no meio desses caras.

Bom dia, eu sou o Condutor Carlos, e esta composição tem como destino a estação final Pavuna. Tempo Estimado de Viagem... Hmmm... Hmmm... Tenham todos uma boa viagem” Hahahahahaha!

Condutor Carlos, o sincero! Depois disso fiquei até torcendo pra pegar um metrô com ele só pra poder dizer que “conhecia” o famoso Condutor Carlos!

O verdadeiro trem bala
Teve um dia que foi engraçado também, eu estava voltando pra casa, partindo da Central, e aí o maquinista foi fazer essa saudaçãozinha e se enrolou todo:

“Boa noite, senhores passageiros, eu sou o maquinista José (não lembro o nome dele), este trem é direto para Japeri. Próxima parada: estação Engenheiro Pedreira...”

O povo do trem ficou tudo espantado, porque tipo, Engenheiro Pedreira é a última estação antes de Japeri. Logo depois o cara se consertou, dizendo que a próxima estação seria Engenho de Dentro, mas aí a galera já estava zoando horrores: “Aê, galera! Quem vai descer em Nova Iguaçu é melhor sair antes de o trem dar a partida, porque esse aqui só para em Engenheiro Pedreira. Esse aqui é o verdadeiro trem bala!”

Vagão Feminino
Há alguns anos, Rosinha Garotinho aprovou uma lei que reservava um vagão para as mulheres viajarem tranqüilas nos horários de pico. Durante muito tempo a tal lei foi simplesmente ignorada, mas no fim de 2010, depois de uma reportagem no RJTV, a SuperVia resolveu fiscalizar os Vagões Femininos.

Então, com o apoio dos guardinhas que expulsavam os caras do trem, as mulheres se encheram de atitude e também começaram a colocar os homens para fora. Agora até que todo mundo já se acostumou mais com a idéia e os próprios homens quando vêem que é Vagão Feminino desistem de entrar porque sabem que vão ter que sair e acabar perdendo o trem, mas antes, tinha que ver, era muito engraçado a mulherada gritando: “Tarado! Tarado! Tarado!”  ou então “Só mulher! Só mulher! Só mulher!” e se unindo “Alô, Tropa de Elite, não vamos deixar os homens entrar, não!”.  Hilário.

Teve uma vez que rolou até um debate de que o cartaz de aviso do vagão feminino era muito pequeno e que aí os homens não viam e acabavam entrando, e então uma moça deu a idéia de fazer um carro patrocinado pela Marisa todo rosa pra ninguém mais confundir.

Eu sou a favor! SuperVia tem que ouvir mais seus clientes, tá cheio de idéia boa!

Balada Ambulante
Além do Vagão Feminino, em determinados horários, o trem também é quase como aquela parte de Meninas Malvadas em que são mostradas as várias panelinhas da escola. Porque, sem brincadeira, tem uma galera que sempre pega o trem junto e acaba ficando amiga e vão conversando o caminho inteiro, mas isso aí é o de menos. Outro dia eu vi uma Festinha de Aniversário que aconteceu antes de o trem partir! Isso fora os já conhecidos Vagões do Culto, Vagão do Carteado e até o Vagão do Pagode!

(Quando eu vi o Vagão do Pagode pela primeira vez, lembrei de um .ppt que  Fe fez há muuuuuito tempo atrás, quando ela não tinha mais o que fazer e ficava fazer .ppts, sobre a diferença entre o transporte rodoviário e o transporte ferroviário – a matéria do bimestre na época – em que ela falava que de ônibus não dava pra levar a galera toda e fazer um pagode. Na época eu não sabia que realmente tinha um Vagão do Pagode, mas quando eu vi que existia, tive que rir por conta dessa lembrança). 

Sério, e quem acha que só tem gente inculta, eu já presenciei uma discussão sobre Nietzsche e Kafka em pleno Japeri!!!

Casal Preso na Roleta
Estava eu chegando na faculdade cedinho ali na estação da Mangueira quando escuto uns gemidos estranhos vindo da roleta de entrada. “Ai, ai, ai” À princípio nada, né, porque aquela roleta machuca mesmo e eu já fiquei com alguns hematomas por causa da minha pressa em passar e a preguiça dela em girar. Mas acontece que os gemidos não vinham de uma pessoa, mas de duas, e elas ainda pediam ajuda: “Ai, ai, socorro! A gente não consegue sair daqui”. Me virei pra ver o que estava acontecendo e vi um casal preso na roleta. E eles gemiam e riam de si mesmos porque a situação era bem ridícula, mas a melhor parte mesmo foi que eles ainda estavam brigando. “A culpa é sua! Eu falei pra comprar 2 passagens! Mas não! Quis economizar, agora a gente tá aqui preso”. Hahahahaha! Histórias do trem...

Gordo Chato
Se você pega trem todo dia, provavelmente conhece o Gordo Chato do Trem (e é assim mesmo que ele se apresenta). O Gordo Chato do Trem é simplesmente o vendedor MAIS LEGAL da SuperVia. O cara é um showman! Quando ele entra, a galera já começa a rir. É a alegria da viagem. Ele diz que só vai embora quando acabar o estoque e acredite, o maluco VENDE TUDOOOO! Um dia filmaram ele e colocaram no YouTube, agora ele se despede sempre falando: “Acessem o meu vídeo no YouTube – O Gordo Chato do Trem”. Confira você mesmo:



(Tem vários vídeos dele. Eu vi num comentário no Youtube que o cara uma vez fez um casal se beijar DENTRO DO TREM!)

Vendedor que imita gay
Mas é bom o Gordão se ligar porque a concorrência tá chegando. Agora tem um outro cara que vai vendendo imitando homossesexual, chamando as mulheres de amigas e os homens de bofe que está fazendo o maior sucesso também. O cara vende 5 escovas de dente por 4 reais!!!! (Cara, como assim? 5 escovas por 4 reais! Não sai nem 1 real cada escova!)

E aí ele mesmo completa: “Gente, não é roubado. Olha pra minha cara! Vê se eu tenho cara de ladrão” Aí o povo que já nem gosta de gastar com ele faz cara de tipo “Tem sim!”. E ele completa: “Eu juro pela minha sogra mortinha debaixo do Japeri que não é roubado”. E assim ele vai passando pelo vagão cheio, vendendo e fazendo o povo rir. Tem gente que nem quer comprar nada, mas o cara é tão engraçado que leva só pela cara de pau.

Teve um dia que o cara desafiou com piada: “Tá bom, tá bom, antes de tudo tem que contar uma piada, né? Olha só, eu vou fazer a pergunta e quem acertar, leva uma escova de graça! O que a galinha foi fazer na igreja?” Uma mulher acertou: “Assistir à missa do galo!” e ele teve que dar a escova.

Tem gente que reclama do preço do transporte público, mas sério, um pouco mais de 2 reais e ainda assistir a praticamente um show de stand up, eu acho digno. Aliás, acho até que os donos das concessionárias deviam dar uma porcentagem pra esses caras, por fazerem das nossas viagens mais divertidas. Esther não sabe o que é bom.

Mas então, chega mais e conte você também a sua história inusitada de transporte público. Porque vida de pobre é sofrida, mas pelo menos a gente tem esses causos pra contar.
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quinta-feira, 16 de junho de 2011

Viciados em Becky Bloom Anônimos

Becky Bloom é um daqueles livros que eu não posso ler em público. Eu rio tanto através das páginas da despirocada da protagonista que tenho certeza que as pessoas ao redor iriam pensar: “Tadinha, é maluca!”

Há muito tempo que eu vinha devendo um post sobre a Becky Bloom aqui no blog. Já cheguei até a esboçar alguma coisa, mas por alguma razão, sentia que ainda faltava alguma coisa no texto... E nesse último mês, acho que encontrei o que estava faltando: experiência pessoal. Mas, antes disso, vamos começar do começo.

Amor à 58413ª vista
Apesar de ser uma série e uma personagem apaixonantes, minha história com a Becky não foi de amor à primeira vista. Na verdade, sempre passei pelas livrarias e via algum novo lançamento da Shopaholic e nunca lhe dei a devida atenção porque sua capa e fonte do título pareciam demais com as de outra colega de chick-lit que todo mundo adora menos eu, Bridget Jones.

Foi só em 2009, com o lançamento do filme, que eu fui dar a atenção que a Srta. Bloom merece. Aquela história de uma jornalista financeira que dá conselhos de como os outros devem aplicar o dinheiro e ironicamente não sabe controlar os próprios gastos parecia boa demais. O trailer também era bem engraçado e além de tudo, o elenco tinha o fofo do Hugh Dancy (motivo pelo qual eu fiquei sabendo da existência do filme, aliás. Acho). Para variar, o filme não passou aqui por perto. Mas antes de assisti-lo*, preferi dar uma chance ao livro.
* Pra variar, o filme tomou um monte de liberdades criativas. Mas nem por isso deixa de ser ótimo. Isla Fischer nasceu pra ser Becky Bloom e há várias situações engraçadíssimas (tiradas do livro ou não). Eu recomendo.  

Quando o vi na livraria, agora com uma capa contendo a Isla Fischer e muito mais chamativa, resolvi dar uma olhada nas primeiras páginas e... MORRI DE RIR! Pronto, foi o suficiente para a Becky ganhar meu coração. Mas não levei o livro de uma vez. Fui pesquisar os preços, porque eu podia até ter adorado a Srta. Bloom, mas nunca tive esse desejo compulsivo por compras. Acho um saco ficar olhando vitrine, experimentando roupa e sapatos. A única coisa que me faz perder a cabeça são livros a 10 reais. Nem os de 5 pratas me atraem tanto. Fico louca mesmo é quando o preço é de 10 mangos.

E valeu a pena a espera porque depois apareceu uma promoção no Submarino em que vendia o livro por um preço de APENAS 20 reais. Não era 10, mas ainda ganhava UMA LINDA BOLSA EXCLUSIVA!!!! Aí sim, eu comprei, rs!


E pra quem diz que não dá pra tirar nada de bom dos livros da Becky, antes mesmo de lê-los eu já tinha aprendido uma lição valiosa: “Não julgue um livro pela capa”.

Porque a série da Srta. Bloom em nada lembra o outro sucesso da literatura feminina contemporânea de que eu não gosto. Becky é exatamente o tipo de heroína que eu adoro encontrar nas páginas de livros: absolutamente tresloucada, mas com o coração gigante e que no final faz tudo dar certo. Diferente da sua prima, Bridget Jones, Becky tem carisma e personalidade únicos que te fazem torcer por ela até a última página, mesmo fazendo burrada em cima de burrada. Isso sem contar os personagens secundários igualmente cativantes e situações que em todos os capítulos fazem a gente se estragar de rir (aquelas cartas pros gerentes de banco são óóóótimas. Principalmente aquelas em finlandês. HILÁAÁRIAAAS!).

Um é pouco, dois é bom, e quando o assunto é Becky, Nunca é demais
Em alguns meses, já tinha comprado todos os outros volumes. Mas de uma maneira muito consciente. Como os livros de Dona Sophie Kinsella quase sempre são verdadeiros tijolinhos*, os preços também são diretamente proporcionais à quantidade de páginas, e estão frequentemente na faixa dos 40, 50 reais (e sem nenhum brinde). Então, comprei tudo pela metade do preço (ou menos) nas feirinhas de livros usados que eu adoro.
*Acho até que se não fosse escritora e ex-jornalista-financeira-tal-qual-Becky, Sophie Kinsella deveria tentar a sorte mesmo era como pedreira, não só pelo formato de seus livros, mas pelo capricho como constrói suas histórias e personagens. E já que suas narrativas também são muito bem amarradas, também acho que a autora seria um sucesso no mercado da costura.

40 reais, 50 reais... 35... 10 pratas! Vou levar!


Ao contrário de muitas séries por aí, Becky Bloom tem fim. Na verdade, tem fins. E o que geralmente eu consideraria um defeito e jogada de marketing, com a Becky, acho bacana e natural. E não é só porque eu sou completamente viciada na série da compradora compulsiva. Há aqueles que reclamam que a protagonista pouco amadurece com o passar dos livros, mas eu sou do time que acha que Becky Bloom sem Delírios de Consumo, não é Becky Bloom. Fiquei até com dó dela no final do 1º volume, quando tudo parecia perfeito e feliz.

Pra começar, a série funciona no estilo seriado americano em que cada volume tem uma historinha que sobrevive mais ou menos independente dos outros episódios. Sendo assim, o objetivo aqui não é fazer uma saga da Becky Bloom. É se aproveitar de todas as situações envolvendo aventuras consumistas que vão desde gôndolas de supermercados (Os Delírios de Consumo de Becky Bloom - vol.1), viagens (Delírios de Consumo na 5ª avenida – vol.2) e casamentos (As listas de Casamento da Becky Bloom – vol. 3) até compras pela internet* (A irmã da Becky Bloom – vol. 4**) e enxoval do bebê (O chá de bebê da Becky Bloom – vol. 5), e se divertir, pura e simplesmente. Sem se preocupar com um grande final, e sem amarrar o leitor durante anos à espera desse final também, porque aqui ele é o que menos importa.
* Uma coisa que não era tão popular assim quando a série começou e que É CLARO que tinha de ser abordada em algum momento.
**Fiz uma busca por Becky Bloom no meu email e achei uma resposta de Record contendo uma propaganda da Irmã da Becky Bloom e do, na época aguardado, Menino Encontra Menina, que virou Garoto Encontra Garota, haha! Nossa, nem sonhava com Becky nessa época!


E exatamente por fazer o estilo seriado americano, essa é uma coleção que anda sem pressa. Se tiver alguma coisa que faça valer a pena uma continuação, continua. Senão, deixa a personagem lá, feliz e em paz. Deixa eu fazer um histórico de como a Becky acabou com 6 volumes (até agora) então.


Como também acontece com muitas séries por aí, Becky Bloom não foi concebida inicialmente como série. Era só pra ser o Os Delírios de Consumo de Becky Bloom (2000), mas aí a autora e a editora (provavelmente) perceberam que a Becky era uma personagem muito legal pra ficar lá presa a um só livro. Daí vieram o segundo e o terceiro volumes, fechando o final feliz da Becky, claro, com um casamento. Porque final que se preze tem que ter um casamento! (Minha irmã, inclusive, achou essa decisão de mostrar o casamento da Becky muito acertada. Segundo ela, todas as séries deveriam mostrar suas protagonistas casando e tendo filhinhos)

Acontece que aí a autora ficou com saudades da Becky nesse meio tempo e calhou ainda de ficar grávida. Então ela teve uma recaída escreveu em sequência A irmã da Becky Bloom (que todo mundo diz que é o mais fraco, mas é o meu preferido das continuações. Depois do 1º, é o que tem a melhor trama e quando eu li, fiquei toda: “Como é que ela não pensou nisso antes? Genial essa personalidade da irmã da Becky!”) e mais um final com O Chá de bebê da Becky Bloom. Porque melhor que final com casamento, só final com nascimento!

E pois é, Becky Bloom estava lá feliz e em paz com a sua família desde 2007 quando o mundo inteiro passou por uma crise financeira no fim do ano seguinte. E aí tenho certeza que a autora teve aquele lapso de genialidade: “O que seria da Becky, uma viciada em compras e ex-jornalista financeira tendo que economizar em plena crise, hein?” e decidiu revisitar sua personagem favorita no sexto volume, ainda inédito no Brasil, Mini Shopaholic* (um belo de um trocadilho com o nome da filhinha, diga-se de passagem).

E eu achei ótima essa iniciativa, porque adoro essas intertextualidades na literatura e realmente me peguei pensando o que seria da Becky durante a crise. A gente acha que só os clássicos é que registraram momentos históricos da sociedade, mas olha aí a Becky Bloom sofrendo algo que talvez tenha mudado o rumo da economia mundial!
* A Record prometeu lançá-lo ainda esse ano. É um dos meus mais aguardados do ano.

Deu pra perceber que não é só uma questão de dinheiro, mas também de registro histórico daqueles personagens que a gente adora revisitar?

Being Becky
Então, né, como eu estava falando, adoro a Becky, mas ao contrário dela, acho um saco fazer compras de roupas e sapatos e nunca fui muito de gastar sem pensar. Quer dizer, nunca fui muito de gastar sem pensar até outro dia em que me senti A PRÓPRIA Becky Bloom.

Quando tenho algum bem em vista, fico namorando durante um tempão até o negócio entrar em promoção e ficar num preço mais acessível. Como disse, meu único fraco são livros a 10 reais. Mas deixa eu contar a história.

Numa de nossas conversas ao telefone, eu e Jamille chegamos à conclusão essa semana de que tínhamos que encontrar a 1ª edição de DP1 porque a que eu tenho, a quinta, já é pós-11 de setembro e veio com o capítulo final, que falava do WTC, cortado. Essa parte foi cortada em inglês também, inclusive, nas edições seguintes, para evitar de o livro ficar datado e tal.

(Pausa para você ficar chocado porque não sabia disso até hoje.

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Tudo bem, não se sinta mal. Eu também fiquei um bom tempo sem saber. Descobri, por acaso, numa dessas discussões de tradução no Orkut – isso foi mais ou menos na época do email perdido eu achei outro dia - e acabou que só quando a Paula foi escrever o “final verdadeiro” pra mim é que descobrimos razão do corte.)


Mas então, decidimos que tínhamos que encontrar essa bagaça também porque é muito legal procurar as primeiras edições das coisas, e todo romance que se preze tem uma história dessas de achar essas raridades e tal. Entrou para a nossa lista de Coisas a se Fazer na Vida:

1.    Encontrar com a Meg
2.    Encontrar com a Anne
3.    Ir a NY e visitar a Fundação Follieri
4.    Mandar um email para o Carlos Saldanha com as nossas sugestões para um roteiro de Rio 2
5.    Descobrir como é a voz do Adam
6.    Encontrar a 1ª edição de DP1

Umas duas semanas depois, eis que eu vejo um DP1 lá na feirinha e fui ver qual era a edição, só de brincadeira e... ERA A 1ª EDIÇÃO MESMO!!! Aí eu olhei atrás toda empolgada, vi um final alegre, eram 15 reais, eu só tinha 10 no bolso, minha Becky Bloom interior gritou, pedi pra fazer a 10, o moço deixou e aí liguei pra Jami:

- Jami, acho que a gente precisa arranjar outro sonho.
- Ai, Deus! O que houve?
- Eu estava aqui andando pela feirinha e achei o livro! E foram só 10 reais!
- Mas é o livro mesmo?
- É. É a 1ª edição. E eu olhei atrás. O final estava lá.

Continuamos o papo animadérrimas, já planejando agora mandar o email pro Carlos Saldanha, porque não duvidávamos mais de nada nessa vida, todas felizes. Quando eu estou descendo na estação do metrô, eu me lembro de olhar a última página de novo pra ver se o final era aquele que a gente queria. Não era.

- Jami, não é o livro.
- O quê?
- Não é. Eu olhei agora de novo. Pensei que tinha visto a parte que a gente queria, mas não. É igual ao que a gente tem.
- Mas não é a 1ª edição?
- Acho que é, mas não tem a parte especial. O que é que eu vou fazer com 2 desse em casa agora?
(Nessa hora já estávamos rindo de mim mesma por ser tão retardada)
- Ah, dá pra alguém de presente. Dá pra Fe.
- Pois é, né. Quem é que a próxima das meninas a fazer aniversário?
- A Esther! Dá pra Esther (rindo).
- Tá doida? A Esther vai me matar quando eu contar que comprei outro livro igual! Ainda mais nessas condições. Se ainda fosse a 1ª edição-raridade, eu ainda podia argumentar...

Fiquei me sentindo a própria Becky Bloom. Mas, pelo menos foram só 10 reais. E eu ainda consegui desconto, né! E também pelo menos a gente logo descobriu que o livro aqui no Brasil já saiu editado. Viu, gente, não adianta procurar! Pensei em fazer um sorteio dele aqui, mas como eu tenho uma política anti-sorteios, desculpa, gente, não vai rolar.

Escondi o livro quando cheguei em casa. Esther ainda não sabe q eu comprei (até hoje). Mas, um dia ela vai ter que descobrir porque acho que vou fazer uma surpresa e dar pra Fe de aniversário mesmo. Aí, acho que vão ser duas. Uma pra Fe, e outra pra minha irmã. Isso se nenhuma das duas ler isso aqui primeiro.

É, acho que agora o melhor a fazer é entrar pro clube:

-Oi, meu nome é Elisa.
- (Oi, Elisa!)
- E eu acabei de descobrir que além de viciada na Becky, também sou viciada em compras, e preciso de ajuda. Obrigada.
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quarta-feira, 8 de junho de 2011

Um Grande Garoto

É engraçado como a cada livro que leio de Nick Hornby, a última leitura se torna a minha preferida do escritor, mesmo que eu não tenha seguido a ordem cronológica da obra.

Comecei com Uma Longa Queda (2005) e gostei. Peguei seu maior sucesso Alta Fidelidade (1995) e vi por que ele é considerado o pai da literatura pop. Adorei e me identifiquei totalmente em Juliet Nua e Crua (2009). Mas só agora pude colocar as mãos em Um Grande Garoto (1998), o motivo pelo qual me interessei pelo trabalho de Hornby, uma vez que, como já havia comentado, o filme homônimo (2002) estrelado por Hugh Grant, Toni Collete e Rachel Weiz é um dos meus preferidos.

E Um Grande Garoto (livro) também entrou para o hall dos meus livros favoritos. É o melhor de Hornby que eu já li (e me arrisco a dizer até que seja o seu melhor trabalho, mesmo sem ter lido seus outros livros), porque se em outras experiências nossos encontros sempre tiveram ligeiros momentos de oposição de ideias, nesse não houve nada disso e aprovei as escolhas do Tio Nick do início ao fim. Um Grande Garoto é coração puro.

Will tem 36 anos e não faz nada. É isso aí. Nada! Seu pai escreveu uma canção de natal muito famosa e ele não precisa trabalhar, pois sobrevive da grana dos direitos autorais da tal música. É descolado, detesta compromissos e tem pavor de paternidade.

Um dia ele vai a uma loja de discos de um cara pra lá de rabugento que se mete no gosto dos clientes chamada Championship Vynil (dá-lhe meta-referências, hein, Nick!) e avista uma mulher bonita. Num outro dia, ele pensa ter encontrado a mesma mulher numa sorveteria e resolve puxar papo. Não era a mesma mulher, mas era inegavelmente interessante. Ela só tinha um problema: era mãe solteira. Mas, Will resolve arriscar e logo percebe que se relacionar com mães solteiras é... ótimo! A partir daí, ele coloca na cabeça que esse é um nicho a ser explorado. É por isso que Will passa a freqüentar as reuniões da PSU (Pais Solteiros Unidos) - seu filho se chama Ned, tem 2 anos, e sua mulher o abandonou com a criança - e é também por causa disso que ele tem sua vidinha perfeita invadida por...Marcus.

Marcus tem 12 anos, é avoado, esperto e esquisito. Tem uma mãe totalmente alternativa que canta músicas com os olhos fechados, e sofre de bullyng na escola principalmente porque de vez em quando é pego cantando de olhos fechados também no meio da aula, no meio do corredor, no meio da rua... Mas o maior problema de Marcus mesmo são os números. Não, na verdade ele é bom em matemática. O negócio todo é que ele vive sozinho com a mãe. E, quando esta não só começa a apresentar sinais de depressão, como de fato tenta suicídio na fatídica Manhã do Marreco Morto (pois é, quem tenta se matar é a mãe, mas quem morreu no dia, foi um marreco. Ótima a cena do marreco!), ele percebe que 2 é um número muito pequeno.

Marcus junta (1 + 2) e chega à conclusão de que Will é um bom partido para sua mãe. Porém, posteriormente, mesmo descobrindo que Ned na verdade não existe, ele passa a freqüentar a casa do cara e, ironicamente, Will – que vive como um adolescente - de certa forma ganha um filho que vai ensiná-lo a ser adulto e Marcus – que se comporta como adulto - ganha uma espécie de pai que vai ensiná-lo a ser adolescente.

Um Grande Garoto é o livro que melhor equilibra drama, comédia e cultura pop do escritor inglês Nick Hornby. Porque no meio disso tudo ainda tem o sucesso do Nirvana com Nevermind e a morte trágica de Kurt Cobain, que não só mostra a influência de um rockstar para um adolescente como faz um paralelo muito legal com a história da mãe do Marcus, para começo de conversa. Aliás, o título original (About a boy) é o mesmo de uma canção de sucesso do Nirvana da qual tenho uma divertida memória na 7ª série*, e, por isso mesmo, torna qualquer esforço de tradução ineficiente, muito embora, o título em português tenha sido uma escolha bastante sensível e inteligente (afinal, o “garoto” do título –em inglês E em português – pode ser tanto Will, como Marcus).
* Festival de Poesia do colégio. Durante os intervalos, apresentações artísticas de alunos que cantam, dançam, tocam algum instrumento. Um aluno, vamos chamá-lo de Kurt (como ele mesmo mandou chamar numa primeira aula de geografia com a professora nova naquele ano. É claro que nessa hora a turma caiu na risada porque ele não tinha nada a ver com vocalista do Nirvana! Não custa nada acrescentar que ele já era o mais zoado da escola antes disso por outros motivos ainda mais absurdos, e que, sim, suas atitudes pediam para que fosse zoado – taí o exemplo da aula de geografia que não me deixa mentir!), canta About a boy – numa versão traduzida que ele achou numa biografia do cantor, mas disse ter sido escrita por ele num momento de intimidade entre ele e a namorada.(Deu pra entender que ele era o tipo de menino que nenhuma garota ia se interessar, né?) Pronto! O povo se estragou de rir. A professora de português durante toda a apresentação se escondia atrás da plantinha na mesa porque não se aguentava. Ninguém levou a apresentação a sério. Histórico, simplesmente histórico esse dia.

Assim como o filme, o livro é ótimo. E a versão cinematográfica é bastante fiel, com vários diálogos literalmente transcritos na tela, a não ser pela época (o livro se passa em 1993 e o filme nos dias atuais, o que eliminou toda a trama do Nirvana). Ah, sim, também senti falta da frase antológica do Will no filme “Todo Homem é uma ilha. Eu sou Ibiza”. Mas, embora, o finais sejam diferentes por conta dessa diferença de 10 anos no tempo, ambos os fins são igualmente bons. O do filme é até um pouco mais climático.

Concluindo, Um Grande Garoto tem uma história que na mão de outra pessoa podia ficar piegas, moralista e didática, mas as situações inusitadas, os personagens envolventes e a prosa aconchegante de Nick Hornby cativam o leitor de tal maneira que é impossível não se apaixonar logo no capítulo.

E pra ninguém dizer que me pagaram pra falar bem do livro, a Rocco bem que podia trocar essa capa, hein! Não tem nada do espírito do livro, por favor! É só olhar essas outras que eu espalhei pelo post pra ver como são muito mais legais... Minha preferida é essa do Marreco Morto. Muito boa!
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quarta-feira, 1 de junho de 2011

Maktub

Você acredita em destino? Aquela coisa de ter alguém planejando a sua vida para você? A sensação de que ‘estava escrito’? Eu acredito.

Porque quanto mais eu penso que minha vida tem que ir por um caminho, Deus vai lá e faz um desvio e me coloca na outra estrada que eu nem pensava em entrar. E aí um monte de coisas que você tinha planejado mais ou menos vai por água abaixo, porque aquilo que você tinha em mente de repente não é mais o melhor pra você. Pelo menos não naquela hora que você achava que era. Ou então, você fica pensando no outro monte de coisas que deram errado antes, mas que na verdade eram só o plano de Deus para que outra coisa muito melhor viesse depois. Na hora certa.

Bom, o objetivo do post não é ser tão filosófico quanto parece. Na verdade, é mais um comunicado do que uma reflexão.

Certo dia, abri a minha caixa de emails do Gmail, que eu só abro de vez em quando porque sabe-como-é, naquele email nunca tem nada de interessante. Só Spam. Mas nesse dia tinha um email falando que uma grande empresa de auditoria estava iniciando o processo seletivo para contratação de trainees. Acontece que eu já estava cansada desses processos seletivos. Perde-se um tempão naquelas dinâmicas que nunca dão em nada. Tinha prometido a mim mesma nem entrar mais nessas coisas, que no final das contas também nem são lá essas coisas. Mas também acontece que desde a vinda da Anne ao Brasil, eu tinha adotado uma nova filosofia de vida que diz que “Se você não tentar, nunca vai saber se poderia ter dado certo”. Então, para não quebrar o meu juramento, fui lá e cliquei em Participar.

Muito tempo depois, eu já tinha até esquecido desse negócio, abri a caixa de emails de novo e lá estava um outro email da empresa me chamando pra fazer uma prova de classificação lá tipo dois ou três dias depois, tendo que confirmar até o dia seguinte. Fui lá e agendei.

A prova foi moleza. Vou te falar uma coisa sem falsa modéstia: eu sou boa nesse negócio de prova. Se ela estiver bem feita e com o conteúdo que eu já tenha estudado, eu não dou mole e acerto as questões mesmo e aí as chances de eu tirar uma nota bem acima da média são muito grandes.

Fiquei só aguardando eles chamarem para a dinâmica, porque tinha certeza de que tinha quase gabaritado aquela bagaça. Mas não fiquei colocando todas as esperanças da minha vida nisso, porque, aí vou te falar uma outra coisa, sem falsa modéstia: Detesto esse negócio de dinâmica. Nunca passo, e acho isso um troço bobo e subjetivo. Porque nas provas eu vou lá e marco as respostas, e se eu não passar, a incompetência é toda minha. Por isso acho que os processos ‘impessoais’, em que somente aquilo que é ‘preto no branco’ vale, são os mais justos.

Mas em dinâmica impera aquela falsidade em que as pessoas querem parecer sérias e responsáveis e falam aquele monte de mentiras que os gerentes de recursos humanos gostam de escutar. Eu não sei o que ele quer ouvir. Tudo o que você disser pode ser usado contra você ou a favor de você. Depende muito de quem esteja escutando. O que eu posso considerar ‘não saber trabalhar em equipe’, outra pessoa pode achar que é ‘espírito de liderança’. Vai entender.

Acontece que eu fui lá pra tal da dinâmica e agi mais ou menos do mesmo jeito que em todas as outras. A mulher disse que eles queriam contratar 1º de junho, período em que eu ainda estaria em aulas, e eu fiz questão de frisar que estudava pela manhã. Porque eu faço questão de me formar no fim desse ano. E não vai ser qualquer coisinha que me faça perder o período. Segundo ela, o resultado sairia em duas semanas e como eu já tinha avisado que estaria estudando na data em que eles queriam contratar e a resposta da outra vez demorou realmente duas semanas para chegar, não abri aquele email do Spam nos dois dias seguintes.

Mas quando eu abri tinha um email lá, enviado duas horas depois da dinâmica: Parabéns, você foi aprovado para a próxima etapa, favor responder esse email até ontem. PUTZ, GRILA! QUE AZAR! EU NÃO TINHA NADA QUE TER PASSADO NESSE TRECO. EU FALEI QUE ESTUDAVA DE MANHÃ. ELES NÃO ESCUTARAM, NÃO? Mais uma vez seguindo o meu mais novo lema, mandei o email atrasado mesmo. A essa altura eu já não sabia se eu não ter aberto o email antes era uma coisa boa ou ruim e decidi entregar nas mãos de Deus. Ele é que sabe o que é melhor para nós.

Aí, mais de uma semana depois, eles entraram em contato para marcar a entrevista. Fiquei agoniada, não pela expectativa de passar ou não, mas com o que ia acontecer com a minha vida caso o resultado fosse positivo e eles me quisessem mesmo. E eu só conseguia pensar nos aspectos negativos dessa mudança. Depois de um tempo, coloquei nas mãos de Deus de novo. O que quer que acontecesse seria para o bem.

O resultado, se você ainda não adivinhou, foi que num dia em que eu esqueci meu celular em casa, eles ligaram e informaram ao meu pai que eu tinha sido contratada. Quando ele me falou, a primeira reação foi de preocupação com a faculdade. Depois de um tempo, percebi que pra tudo dá-se um jeito, e que se eles me quiseram, mesmo eu falando a verdade o tempo inteiro, estavam cientes da minha disponibilidade também, e então consegui relaxar e aproveitar a alegria da vitória. Meu 1º emprego! E numa grande empresa! Carteira assinada, um montão de benefícios! (Vou te dizer mais uma coisa sem falsa modéstia: Eles são muito chiques. Só isso. É, até que esse negócio de estudar dá futuro, viu!)

Bom, e se Deus quis assim, quem sou eu pra discordar? Por maiores que sejam as minhas preocupações, já entendi que essa vai ser uma ótima oportunidade e que devo aproveitá-la enquanto ela estiver ótima também. Depois dessa história toda mais uma vez ficou comprovado que só perde quem não corre atrás, quem não joga o jogo, por ter medo de errar. Então, se você me perguntar o que vai ser do meu futuuuuro, eu faço igual a Sandy e digo que não sei. Só sei que espero que a vida me mande algo bom, só sei que eu não quero cantar minha trilha fora do tom.

A essa hora em que o post está programado para ir ao ar, eu estarei lá no meu 1º dia de treinamento, descobrindo se entrei ou não numa furada. É provável que as postagens no blog fiquem um pouco mais escassas porque dizem que lá o trabalho consome a gente pra caramba. (Não chorem, não chorem!) Mas farei de tudo para que isso não aconteça, porque postar aqui no Inútil é uma das coisas que eu mais gosto nessa vida.

A julgar por umas experiências nessa minha vida, algumas até inicialmente indesejadas que se tornaram a melhor coisa que já me aconteceu, tenho certeza de que Deus tem tudo lá planejadinho pra mim. O negócio é esperar em nEle. Ele é que sabe o que é melhor pra nós e o melhor momento pra isso também. Mas não fica esperando só, não, viu? Se eu não estudasse, entrasse nos emails, clicasse nas coisas e enviasse as respostas, nada disso teria acontecido.

Me desejem sorte,
Lisa
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