quinta-feira, 23 de junho de 2011

Balanço no Busão (2)

Minha irmã tem aversão a transporte público. Vou falar até pra ela fazer uma coluna Eu Odeio Transporte Público aqui pro blog. Quando eu falo pra ela pra gente ir a algum lugar e acrescento que a gente tem de ir de ônibus, ou trem, ou qualquer outro meio de transporte em que se tenha que pagar passagem, ela descarta na hora. Vocês tinham que ver a cara de espanto dela quando visitou a Central do Brasil outro dia e viu que lá tinha Mc Donald’s, supermercado, loja de bolsas, entre outras coisas. A única coisa que não tinha era a Fernanda Montenegro escrevendo cartas para pessoas iletradas.

Mas, ao contrário da Esther, eu gosto de andar de trem. Ela até fica me sacaneando dizendo que eu tenho espírito de pobre porque pra tudo quero pegar o Japera, mas acontece que é o meio de transporte mais rápido e mais divertido que existe. Quem nunca pegou trem não sabe o que é vida.

Ano passado eu fiz um post mais ou menos nessa linha depois de ter presenciado um pocket-bus-show e um palhaço (é, um palhaço de verdade, daqueles de circo) no ônibus, mas acontece que depois dele me lembrei de algumas outras situações, escutei outras de amigos e principalmente (vi)vi mais algumas histórias absurdas que só quem freqüenta o transporte público pode contar.

Apertem os cintos, o piloto sumiu!
Mentira, ele não sumiu. Mas era um piloto do barulho. Quem passa ali no Aterro do Flamengo no sentido Centro sabe que tem uma curva bem fechada que se passar muito rápido, sentimos na pele a 1ª Lei de Newton de que “Um corpo em movimento tende a permanecer em movimento”. Eis que um dia um motorista engraçadinho passa ali por aquela curva tão empolgado que fala lá da frente: “Atenção Senhores passageiros, apertem os cintos. Máscaras de ar cairão acima de suas cabeças...”

Saudades do São José
Antes do Lindberg conceder o passe para os alunos das escolas federais também poderem pegar os ônibus municipais de Nova Iguaçu (na época quem operava as linhas municipais que passavam lá em frente ao Cefet era a falecida Elmar), os estudantes tinham que lotar o famoso São José “vermelho”, que fazia aquela volta lá por Ponto Chic, já que este era intermunicipal.

Gente, o São José era muito velho. Teve uma vez que eu olhei um daqueles documentos que ficam grudados ali perto do motorista a respeito da documentação do carro e vi um negócio datado de 1990 e tal! Não que o Elmar fosse muito melhor, mas o São José era brabo.

Mas enfim. Num dia como outro qualquer, o São José cheio pra caramba e os alunos entulhados como sardinhas enlatadas, quando estávamos ali quase chegando no Cefet, virando na esquina do atualmente moribundo Colégio Atual, eis que o São José, PRA VARIAR, enguiça. O motorista briga com a marcha, tentando fazer o motor voltar à vida.
Eu abro a mochila pra pegar alguma coisa e como o negócio não tinha espaço, acabo por deixá-la um pouco aberta. Eu estava lá na frente, perto do motorista - já que a roleta era atrás (eu falei que o ônibus era velho), os estudantes entravam pela frente e como fui uma das últimas a entrar não deu pra ir muito pra trás – e o piloto avisa que a bolsa estava aberta e que tinha um biscoito ali dentro. Até aí tudo bem, o problema foi que o cara simplesmente PEGOU O MEU BISCOITO E COMEU!

Acabou que o ônibus conseguiu pegar de novo e a gente não teve que ir andando até a escola. Mas quem disse que eu não gostava do São José? Apesar de velho e com motoristas abusados, o ônibus tinha um serviço diferenciado para seus passageiros. Nunca vou esquecer do Rafael comentando sobre um banco que estava com as costas caindo: “Olha só, depois vocês reclamam do São José. O ônibus tem até poltrona reclinável! Tá melhor até que o Tinguá!”.

Condutor Carlos
Essa quem me contou foi o Juliano (se eu contar errado, pode corrigir, Juliano). Quem é PhD em metrô/trem sabe que antes de dar sua partida, o maquinista sempre se apresenta, diz pra onde vai, quanto tempo leva de viagem, e desejam um bom dia. Acontece que em horários de pico, aquele tempo estimado nunca é cumprido, mas os caras o falam mesmo assim. Mas Condutor Carlos não está no meio desses caras.

Bom dia, eu sou o Condutor Carlos, e esta composição tem como destino a estação final Pavuna. Tempo Estimado de Viagem... Hmmm... Hmmm... Tenham todos uma boa viagem” Hahahahahaha!

Condutor Carlos, o sincero! Depois disso fiquei até torcendo pra pegar um metrô com ele só pra poder dizer que “conhecia” o famoso Condutor Carlos!

O verdadeiro trem bala
Teve um dia que foi engraçado também, eu estava voltando pra casa, partindo da Central, e aí o maquinista foi fazer essa saudaçãozinha e se enrolou todo:

“Boa noite, senhores passageiros, eu sou o maquinista José (não lembro o nome dele), este trem é direto para Japeri. Próxima parada: estação Engenheiro Pedreira...”

O povo do trem ficou tudo espantado, porque tipo, Engenheiro Pedreira é a última estação antes de Japeri. Logo depois o cara se consertou, dizendo que a próxima estação seria Engenho de Dentro, mas aí a galera já estava zoando horrores: “Aê, galera! Quem vai descer em Nova Iguaçu é melhor sair antes de o trem dar a partida, porque esse aqui só para em Engenheiro Pedreira. Esse aqui é o verdadeiro trem bala!”

Vagão Feminino
Há alguns anos, Rosinha Garotinho aprovou uma lei que reservava um vagão para as mulheres viajarem tranqüilas nos horários de pico. Durante muito tempo a tal lei foi simplesmente ignorada, mas no fim de 2010, depois de uma reportagem no RJTV, a SuperVia resolveu fiscalizar os Vagões Femininos.

Então, com o apoio dos guardinhas que expulsavam os caras do trem, as mulheres se encheram de atitude e também começaram a colocar os homens para fora. Agora até que todo mundo já se acostumou mais com a idéia e os próprios homens quando vêem que é Vagão Feminino desistem de entrar porque sabem que vão ter que sair e acabar perdendo o trem, mas antes, tinha que ver, era muito engraçado a mulherada gritando: “Tarado! Tarado! Tarado!”  ou então “Só mulher! Só mulher! Só mulher!” e se unindo “Alô, Tropa de Elite, não vamos deixar os homens entrar, não!”.  Hilário.

Teve uma vez que rolou até um debate de que o cartaz de aviso do vagão feminino era muito pequeno e que aí os homens não viam e acabavam entrando, e então uma moça deu a idéia de fazer um carro patrocinado pela Marisa todo rosa pra ninguém mais confundir.

Eu sou a favor! SuperVia tem que ouvir mais seus clientes, tá cheio de idéia boa!

Balada Ambulante
Além do Vagão Feminino, em determinados horários, o trem também é quase como aquela parte de Meninas Malvadas em que são mostradas as várias panelinhas da escola. Porque, sem brincadeira, tem uma galera que sempre pega o trem junto e acaba ficando amiga e vão conversando o caminho inteiro, mas isso aí é o de menos. Outro dia eu vi uma Festinha de Aniversário que aconteceu antes de o trem partir! Isso fora os já conhecidos Vagões do Culto, Vagão do Carteado e até o Vagão do Pagode!

(Quando eu vi o Vagão do Pagode pela primeira vez, lembrei de um .ppt que  Fe fez há muuuuuito tempo atrás, quando ela não tinha mais o que fazer e ficava fazer .ppts, sobre a diferença entre o transporte rodoviário e o transporte ferroviário – a matéria do bimestre na época – em que ela falava que de ônibus não dava pra levar a galera toda e fazer um pagode. Na época eu não sabia que realmente tinha um Vagão do Pagode, mas quando eu vi que existia, tive que rir por conta dessa lembrança). 

Sério, e quem acha que só tem gente inculta, eu já presenciei uma discussão sobre Nietzsche e Kafka em pleno Japeri!!!

Casal Preso na Roleta
Estava eu chegando na faculdade cedinho ali na estação da Mangueira quando escuto uns gemidos estranhos vindo da roleta de entrada. “Ai, ai, ai” À princípio nada, né, porque aquela roleta machuca mesmo e eu já fiquei com alguns hematomas por causa da minha pressa em passar e a preguiça dela em girar. Mas acontece que os gemidos não vinham de uma pessoa, mas de duas, e elas ainda pediam ajuda: “Ai, ai, socorro! A gente não consegue sair daqui”. Me virei pra ver o que estava acontecendo e vi um casal preso na roleta. E eles gemiam e riam de si mesmos porque a situação era bem ridícula, mas a melhor parte mesmo foi que eles ainda estavam brigando. “A culpa é sua! Eu falei pra comprar 2 passagens! Mas não! Quis economizar, agora a gente tá aqui preso”. Hahahahaha! Histórias do trem...

Gordo Chato
Se você pega trem todo dia, provavelmente conhece o Gordo Chato do Trem (e é assim mesmo que ele se apresenta). O Gordo Chato do Trem é simplesmente o vendedor MAIS LEGAL da SuperVia. O cara é um showman! Quando ele entra, a galera já começa a rir. É a alegria da viagem. Ele diz que só vai embora quando acabar o estoque e acredite, o maluco VENDE TUDOOOO! Um dia filmaram ele e colocaram no YouTube, agora ele se despede sempre falando: “Acessem o meu vídeo no YouTube – O Gordo Chato do Trem”. Confira você mesmo:



(Tem vários vídeos dele. Eu vi num comentário no Youtube que o cara uma vez fez um casal se beijar DENTRO DO TREM!)

Vendedor que imita gay
Mas é bom o Gordão se ligar porque a concorrência tá chegando. Agora tem um outro cara que vai vendendo imitando homossesexual, chamando as mulheres de amigas e os homens de bofe que está fazendo o maior sucesso também. O cara vende 5 escovas de dente por 4 reais!!!! (Cara, como assim? 5 escovas por 4 reais! Não sai nem 1 real cada escova!)

E aí ele mesmo completa: “Gente, não é roubado. Olha pra minha cara! Vê se eu tenho cara de ladrão” Aí o povo que já nem gosta de gastar com ele faz cara de tipo “Tem sim!”. E ele completa: “Eu juro pela minha sogra mortinha debaixo do Japeri que não é roubado”. E assim ele vai passando pelo vagão cheio, vendendo e fazendo o povo rir. Tem gente que nem quer comprar nada, mas o cara é tão engraçado que leva só pela cara de pau.

Teve um dia que o cara desafiou com piada: “Tá bom, tá bom, antes de tudo tem que contar uma piada, né? Olha só, eu vou fazer a pergunta e quem acertar, leva uma escova de graça! O que a galinha foi fazer na igreja?” Uma mulher acertou: “Assistir à missa do galo!” e ele teve que dar a escova.

Tem gente que reclama do preço do transporte público, mas sério, um pouco mais de 2 reais e ainda assistir a praticamente um show de stand up, eu acho digno. Aliás, acho até que os donos das concessionárias deviam dar uma porcentagem pra esses caras, por fazerem das nossas viagens mais divertidas. Esther não sabe o que é bom.

Mas então, chega mais e conte você também a sua história inusitada de transporte público. Porque vida de pobre é sofrida, mas pelo menos a gente tem esses causos pra contar.

4 comentários:

  1. Epa! Um pouco mais de 2 reais nada! É um pouco menos de 3 reais, né? R$ 2,85 não é pra qualquer um não.

    Mas então, nem tudo eu acho tão divertido assim. Deve ser porque eu pego o trem das 5:47 e estou morrendo de sono, qualquer barulho mais exagerado já me irrita. Depois de muitas decepções, alta experiência, eu já sei os vagões que posso ou não entrar.
    Primeiro vagão, nem pensar - Turma do baralho: palavrão e futebol o tempo todo.
    Segundo vagão, não dá MESMO - Turma da luluzinha: Meu Deus, como aquela mulher consegue ser tão escandalosa de madrugada! Gritaria e risadas o tempo todo. E quando eles fazem uma "oração" (em pseudo-latim!) para o povo que está sentado levantar! E as vezes eles conseguem, a pessoa fica tão constrangida/irritada que levanta mesmo.
    Pulo também o vagão do Pagode (óbvio) e por incrível que pareça o do Culto também. O povo canta umas músicas muito antigas e cantam mal! Acho que nenhuma pessoa é tocada por Deus ali, só ficam com raiva. Eu sinto vergonha alheia, não do evangelho mas da falta de sabedoria. O culto nos vagões é proibido por lei! Será que eles não leram na Bíblia a parte de respeitar as autoridades???

    Também tem muitos casos no metrô. Lugar com muita gente por metro quadrado só pode dar nisso. E quando os condutores/maquinistas esquecem de desligar os microfones, todo mundo fica ouvindo a conversa entro da cabine e eu já ouvi coisas desse tipo: "E aí vi o safado na casa da Fulana! Cachorro! Ah, mas ele vai me pagar!" o.OOO
    Aí todo mundo: "Uuuuuu! Ueeepaaaaa!" Hahahahah

    O vagão feminino deveria ser - além de toda rosa - piscante. Eu já entrei em um sem perceber, só depois de umas 3 estações é que fui ver que só tinha mulher! Minha cara ficou VERMELHA mas pelo menos ninguém me expulsou rs

    É nessas de "O motorista sumiu", teve aquela vez que o trem andou sozinho sei lá quantas estações! o.O

    PS: COMO ASSIM o motorista comeu seu biscoito??? Que buso!
    PS2: Lisa, seus últimos textos estão GIGANTES!

    ResponderExcluir
  2. Também não sou nenhuma apaixonada pelo transporte público. Principalmente porque em Belo Horizonte só tem uma linha de metrô que liga o nada a lugar nenhum e os ônibus... Bom, deixa pra lá.

    Ah, tá brincando que o piloto, ops, motorista falou isso?

    Hoje eu vi um vagão feminino. O ruim é que não dá pra saber em que parte exatamente o vagão feminino vai parar. Então os caras tem que correr pra outro, deve ser horrível pra eles.

    Essa do casal na roleta, ninguém filmou isso pra colocar no youtube, não?

    Não gosto da Central. Tive que pegar ônibus lá nas férias e foi terrível. Os ônibus pra Niterói só passavam lotados, um monte de gente olhando estranho, eu com um label de "mineira" na testa. Ah, não! Prefiro pegar o metrô até uma estação que tenha ônibus pro terminal, rs.

    Bjos

    PS1: Felipe no vagão feminino kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
    PS2: Os textos são gigantes, mas são legais.

    ResponderExcluir
  3. O texto está grande mas mto bom. E os comentários não ficam atrás (nos dois quesitos).

    Eu ODEIO transporte público. Acho que pago caro, nunca vou sentada e, às vezes, ainda topo com umas baratinhas indo pro Term. Parque Dom Pedro II. Mas é a vida, né?

    Antes, quando ia pro colégio com o pessoal era mais divertido, tenho histórias memoráveis de ônibus: amiga caindo do banco do meio do fundão, as meninas e eu batendo fotos dos meninos bonitos dentro do onibus... rs Mas isso passou.

    Hoje em dia a soma ônibus+metrô+horáriodepico+sãopaulo causam um graaande estresse no meu dia-a-dia.

    ResponderExcluir
  4. Não curto transporte público tbm não ,mas não chego a ter aversão husahsaushau
    Bom, a minha história mais recente foi a da moça vendendo artigos eróticos no ônibus hsuashaushaushau com a revista lá, fazendo mó propaganda, explicando como usava...só tava faltando ela dizer "pode comprar gente, eu já usei e é muito bom"

    ResponderExcluir

Não seja covarde e dê a cara a tapa.
Anônimos não são bem-vindos.
O mesmo vale para os spammers malditos. Se você fizer spam nesse blog, eu vou perseguir você e acabar com a sua vida.
Estamos entendidos?