quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Polícia para quem precisa

Eu não sei se você lembra, mas em maio desse ano, um estudante foi assassinato em pleno campus da USP. O alunado protestou por segurança e o reitor na mesma hora já avisara que ia pedir a ocupação da polícia no campus. Os alunos então pediram um plebiscito para decidirem se eram a favor da presença da PM na faculdade, mas o reitor ignorou e colocou a polícia assim mesmo.

Passados alguns meses, a polícia levou para a delegacia alguns estudantes que estavam fumando maconha na universidade. Foi o estopim de uma onda de protestos contra a ocupação da PM na faculdade e mais um monte de outras coisas que culminaram na invasão da reitoria, greve dos alunos e uma baita polêmica no mundo virtual.

Depois de ler um pouquinho sobre o assunto, fica óbvio que toda essa confusão não foi causada só por causa de um baseado.

Na verdade, a questão vai um pouco além da maconha. Tem o problema de o reitor ter tendências ditatoriais, uma vez que não foi eleito pelo corpo estudantil e nem pelos meios oligárquicos da USP. E tem o problema de que esse reitor anda abusando do poder, respondendo a processos na justiça e processando aluno por nada também. A polícia seria apenas mais um instrumento para calar voz dos estudantes e coibir manifestações dos mesmos, o que lembraria ainda mais os tempos de ditadura.

E mídia não divulga, mas, no fundo os alunos até que têm uma luta bacana, com projetos que garantam maior segurança na universidade (como mais iluminação e mais ônibus internos), além da ocupação da polícia. Alguns deles, que a mídia também prefere não entrevistar, não defendem a saída da PM, mas sim um acordo para definir qual o verdadeiro papel da polícia no campus e evitar assim o constrangimento dos estudantes, porque, a polícia, quando quer, também abusa da sua autoridade.

Mas os próprios alunos também não ajudam. Numa votação para desocupar o prédio, foi decidido que eles iriam sair. Ignorando as próprias regras, os mais radicais ficaram. Passado o choque inicial e avaliando apenas um pouco mais a fundo a situação, realmente, o protesto tem causas justas, mas ser iniciado depois do incidente da maconha não deu lá muita credibilidade para o movimento.

Chamá-los de “filhinhos de papai” é errado porque eles estão na faculdade por méritos próprios. Não foi o papai que os colocou lá dentro, como acontece nas faculdades de elite do exterior. Não interessa se eles são ricos ou são pobres. Eles estudaram muito e passaram num vestibular muito disputado, no qual muita gente ficou de fora. Mais respeito aqui.

Agora dizer que eles são “maconheiros” não chega a ser um raciocínio tão infundado até para quem não está na USP, porque quem fez/faz/conhece minimante a universidade pública sabe que os estudantes que geralmente estão envolvidos mais ativamente das questões políticas da universidade são os mesmos que fazem uso da erva. Através dos corredores é possível sentir o odor próximo aos centros acadêmicos, diretórios estudantis e afins, assim como escutar os boatos de outras barbaridades que acontecem dentro das tais salas de reunião.

È ainda mais difícil criar simpatia pelo movimento estudantil quando se percebe que muitos de seus integrantes não vão para faculdade para estudar. E aí eu já nem estou falando fator maconha, que é nojento. Mas do fator política, que é mais nojento ainda.

A escolha da chapa vencedora nas eleições para o DCE é um pouco mais do que o grupo que irá representar os alunos na luta por uma universidade melhor. A maioria delas é apoiada por partidos políticos e a escolha da chapa vencedora significa, também, qual o partido que irá “comandar” os alunos daquele pólo estudantil.

Sim, a universidade também é um espaço para o debate político e, querendo ou não, é através da política que se resolvem os nossos problemas. Mas acontece que muitos desses alunos não estão lá com o objetivo de se formar. Fora os amigos da erva, que vão ficar por lá durante um bom tempo por motivos óbvios (depois dizem que maconha não faz mal...), ainda tem a galera que está na universidade com fins de se lançar na carreira política futuramente e pra eles, quanto mais tempo permanecerem por lá, melhor. E quem está pagando para esse pessoal NÃO estudar é VOCÊ!!!!! (E você vai se surpreender se eu te disser que alguns deles nem matriculados estão!)

Eles se disfarçam de estudantes politizados, quando na verdade são OS PRÓPRIOS POLÍTICOS. Talvez não os políticos de hoje. Mas certamente os vereadores, deputados, prefeitos e senadores de amanhã (ou assessores deles). E pode ter certeza que quando eles chegarem lá, a primeira coisa que farão será dar as costas para o movimento estudantil do qual fizeram parte, como um certo ex-prefeito de Nova Iguaçu.

Ou talvez nem precisem esperar tanto, porque a corrupção já começa no próprio campus. Os aspirantes a políticos são os mesmos que só aparecem na sala de aula no dia da prova (na faculdade eles sempre estão, mas nunca estudando) e sempre desenrolam um jeitinho brasileiro de entregar os trabalhos fora do prazo.

Agora, quando foi que algum desses movimentos tomou o seu partido para reclamar daquele professor que cometeu a maior injustiça? Quando foi que você viu algum aluno indo à aula como você? Quantas vezes ele foi então?

Falta ação nas pequenas coisas, mas sobra revolta contra o imperialismo, os EUA, a Alca e o FMI. Falta compromisso com o curso, mas sobra lábia para conseguir vantagens que os outros alunos não conseguem. Faltam às aulas mesmo, mas espalham fumaça na faculdade!

Pois é, pode ser que eu esteja generalizando, mas é bem mais provável que a história que eu vou contar agora também se aplique a sua universidade, colégio, ou mesmo à USP.

Antes de entrar na UERJ, fiz CEFET, e aí já se vão 7 anos que, com muito orgulho, eu não sei o que é pagar pela minha educação. Lá no CEFET, a gente tinha problemas de infra-estrutura e de ordem política até também. E foi lá que eu aprendi a lutar pelos meus direitos porque, se eu não o fizer, ninguém mais o fará. Ninguém mesmo.

Os integrantes do grêmio dificilmente apareciam nas aulas, pois estavam militando para o partido deles ou tentando eleger chapas amigas em outros colégios/faculdades do Estado ou protestando contra o FMI ou coisa parecida. Sim, eles até ajudaram em algumas conquistas como o passe para entrar nos ônibus que era um problemão. E conseguiram isso graças a seus contatos políticos, é verdade.

Mas por quase não assistirem à aula, não tinham a mínima ideia de nenhuma das revoltas da turma contra professores safados que queriam fazer o que quisessem (e nem se metiam também). E olha que essas revoltas eram muitas! Aquela INFO era fogo! (E falando em fogo, foram alguns integrantes desse mesmo grêmio que participaram do episódio fogo no sítio, mas enfim). Se a gente dependesse de grêmio, estaria ferrado.

Mais revoltante ainda foi ver, depois terminado o 3º ano, a líder do grêmio, que havia sido reprovada (provavelmente por falta) querendo entrar com recurso para conseguir o diploma dela de qualquer jeito! Essa mesma “militante” fez campanha para um deputado nas últimas eleições (por que será???) e disse estar indo ajudar na causa da USP (o que ela foi fazer lá????).

Daí também você já vê como tem gente se aproveitando dessa situação para simplesmente fazer bagunça, protesto e propaganda política ao invés de debater as ideias referentes aos problemas da universidade de um jeito sério.

Apesar disso tudo, não sou a favor da polícia fora do campus, nem de polícia perseguindo aluno que não fez nada ilícito (que por acaso era o que os alunos que foram o estopim para toda essa confusão estavam fazendo) e muito menos de policial que bate em aluno. Ou “aluno”. Torço muito para as coisas se acalmem e, principalmente, se resolvam democraticamente lá na USP. Mas também não vou sair em defesa de nenhuma das partes, porque, sinceramente, nenhuma delas merece.

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