quarta-feira, 28 de março de 2012

Diários de Motocicleta

Confesso que a explicação de que a história estava sendo contada por meio de uma declaração da protagonista para a polícia me irritou um pouquinho. “Sério, Meg? Sério que você vai cair nessa bobagem de ficar explicando porque a narrativa é em primeira pessoa ao invés de começar o livro de uma vez?” Só que acontece que é de Meg Cabot que estamos falando, então, eu resolvi relevar. Não deram 10 páginas e lá estava eu, já completamente imersa na história e apaixonada pelos personagens. (Ah, sim, e no final a tal declaração faz TODO o sentido!)

Quando Cai o Raio é o primeiro volume da série que conta a história de Jessica Mastriani, a menina apaixonada por motos, velocidade e flautas (adorei a parte da flauta!) que é atingida por um raio (dã!) e começa a ter sonhos com pessoas desaparecidas que vê na caixa de leite. E não demora muito para ela atrair os olhos do pessoal do FBI e perceber que “com grandes poderes vem grandes responsabilidades” e que sua nova habilidade pode ir facilmente de “dádiva” à “maldição”. (Não, ela não é o Homem-Aranha, mas o início de Quando Cai o Raio, com Jess adquirindo os poderes, realmente lembra um pouco a introdução dos filmes de super-herói.)

Lançada originalmente no início de 2001 sob a alcunha “1-800-WHERE-R-U” (uma espécie de “0800-KD-VC”), a série só chegou ao Brasil no ano passado já com o nome reformulado, tendo em vista que esta foi relançada recentemente nos EUA sob o título daquele alvejante “Vanished” (Desaparecidos). Só para constar, acho o nome da série antigo mais legal, muito embora o novo seja mais comercial e mais prático de falar.

Eu sei o que você está pensando. Se a série é antiga, a Jess consegue encontrar pessoas desaparecidas só de ver a foto delas e o FBI está na sua cola: POR QUE RAIOS OS EUA DEMORARAM 10 ANOS PARA ENCONTRAR O OSAMA????

Eu explico. Ao contrário da maioria das séries, que tem um volume lançado a cada ano, essa daqui começou num ritmo frenético de lançar um a cada 6 meses! O que significa que já devia estar tudo bem encaminhado, com alguns livros de vantagem já escritos. Além disso, os acontecimentos dos livros são todos em menos de um ano, o que não daria muita margem para o surgimento de Osama Bin Laden nos comentários dos personagens.

Só que nessa época Meg Cabot não era ninguém. Ela ainda tinha que ralar pra conseguir publicar suas coisas, DP ainda não tinha virado filme e ela não conseguia emplacar os livros entre os mais vendidos simplesmente por ter seu nome na capa. Até porque essa série não tinha o nome dela na capa mesmo. 1-800-WHERE-R-U era de outra editora e Meg tinha que assinar Jenny Carrol (relaxa, essa outra personalidade dela é do bem, rs) para não dar conflito nos contratos.

O resultado foi que a série que era para durar 8 livros foi CANCELADA por causa das vendas baixas com somente 4 deles publicados!!!!!!!!

Se essa história de uma série sobre encontrar gente desaparecida e que foi cancelada no meio te faz lembrar coisa de seriado, bom, é porque teve um seriado mesmo.

Apesar do cancelamento, 1-800-WHERE-R-U serviu de base para uma série do Lifetime que durou 3 temporadas (de 2003 a 2006) chamada Missing. Curiosamente, uma das produtoras executivas da série também produziu DP - o filme. E pra variar, diz que o seriado tinha muito pouco a ver com os livros.
* E antes que você coloque toda a culpa na mulher, ela também estava por trás da produção do filme da Irmandade das Calças Viajantes, que, ao menos eu acho, é bastante fiel ao material original.

Felizmente, em 2006, a editora da Meg que publicava DP, com ela já bombando geral, resolveu relançar (pela primeira vez, ainda com o nome antigo) a série sob a assinatura de Meg Cabot (que a essa altura já vendia feito água) e deu-lhe permissão para que esta ganhasse um final digno. Assim, foi lançado seu quinto e último livro, com direito a uma baita passagem de tempo para que a gente não ficasse se perguntando por que a Jess não encontrava logo o Osama.

Dito tudo isso, agora você já sabe que essa série é praticamente uma integrante do selo Meg Cabot Vintage, tendo em vista toda a batalha de publicação e o tamanho de seu “por trás das páginas”. Mas, mesmo que não soubesse, dava pra perceber sozinho, já que os sonhos de consumo de um personagem viciado em tecnologia (mais sobre ele depois) são nada mais, nada menos do que um Mac e um Zip Drive.

E eu tive que rir quando eu vi essas coisas porque, no início dos anos 2000, um Mac* REALMENTE era sonho de consumo de 9 entre 10 pessoas que sabiam o que era computador. Porque Mac era sinônimo de um computador LINDO DE MORRER!
* Se você associou o Macintosh a esse filme clássico do Cinema em Casa, parabéns, você foi uma criança dos anos 90.

Se fosse hoje, é certeza que o negócio ia ser um iPad. Ou uma torradeira que faz previsões do tempo.

Mas eu ri muito mais do ZipDrive, porque, se o Mac, de um jeito ou de outro, ainda existe, o ZipDrive há muito já virou um artigo de museu no mundo informático. E o mais legal de tudo: EU TIVE UM ZIPDRIVE!!!!!! Cara, é nessas horas que eu vejo como eu estou ficando velha! Aposto que você, que nasceu depois de 1995, está se perguntando agora o que ser um ZipDrive. Vou te poupar o trabalho de procurar no Google (uma coisa que também não tinha nessa época).

Esse era um tempo em que os HDs tinham só 4GB, não existia pendrive e pouca gente possuía gravador de CD. Ah, sim, a internet também era lenta pra caramba e fazia aquele barulho bem irritante na hora de conectar. Isso quando conectava! Logo, praticamente a única forma de compartilhar os dados era via disquete de 3 ½ , que é tão rápido como uma tartaruga e só cabe um pouquinho mais que 1MB.

Para acabar com esse sofrimento a Iomega (essa eu tive que pesquisar, não lembrava mais o nome da empresa) criou o ZipDrive.

O ZipDrive era um super dispositivo para ler um DISQUETÃO chamado ZipDisk, cuja a capacidade chegava a uns 250MB (coisa pra caramba naquela época). Durante muito tempo as pessoas olhavam o ZipDrive pela vitrine e babavam, imaginando como seria um mundo em que elas pudessem fazer backup de seus dados sem ficar na dependência daquele disquetinho xexelento.

Só que quase ninguém tinha essa bagaça. As memórias eram menores, e por maior que fosse a velocidade de transmissão do Zip, o negócio ainda era bem lento, e o sistema operacional era aquela PORCARIA do Windows Millenium e quase sempre travava o computador. A portabilidade também não era das melhores e se você quisesse ler o ZipDisk na casa do seu amigo (coisa bem rara de acontecer, já que eram poucas as pessoas que tinham computador mesmo), tinha que levar o ZipDrive junto e instalar o drive via CD na porta serial da impressora e aí dava problema de compatibilidade e se você quisesse imprimir um arquivo do Zip, tinha que copiar pro HD ou utilizar um dispositivo com chaveamento... Um saco!

 Saca só o kit completo do negócio!

Deus abençoe a internet banda larga, as memórias de 1GB, os HDs de 1 Tera, os gravadores de CD, as entradas USB e os pendrives. Amém!

Mas, apesar do ZipDrive (rs!), Quando Cai o Raio não é uma história datada e funciona muito bem nos dias de hoje! Isso porque o livro tem aquilo que todo livro de Meg Cabot tem: coração! E quando eu digo isso, nem estou me referindo ao mocinho misterioso e bad boy que atende pelo nome de Rob Wilkins e que lá para o meio do livro me fez lembrar uma música da Britney (não posso contar qual, a não ser que você já tenha lido o livro, rs) e faria Lorelai Gilmore ter toda a razão em alertar: “Ela não vai subir na sua motocicleta!”, porque, adivinha só, ele tem uma motocicleta mesmo!

Born to be wiiiiiillllld!

Quando eu mencionei que essa é uma história que tem coração, estava me referindo principalmente a Douglas, o irmão mais velho esquizofrênico de Jess que largou a faculdade e passa o dia no quarto lendo quadrinhos. É preciso uma boa dose de sensibilidade para escrever um personagem desses e as discussões da família por causa do problema de Douglas são de cortar o coração, especialmente pra quem já escutou algumas delas na própria família.

Mas, o resto dos personagens também não fica atrás no nível de apaixonabilidade. O diretor da escola, a telefonista Rosemary, Sam, Ruth, Michael...

Peraí, você disse Michael? Ha-ha! Disse sim, espera que tem mais!

Tem gente que reclama que Meg Cabot é às vezes é um pouco repetitiva com suas histórias. Não acho. A mulher já publicou mais de 50 livros. Esse tipo de coisa é inevitável. Além do mais, já incorporei as semelhanças entre as obras. Não é defeito, é estilo. Para mim, grande parte da graça em ler seus livros já está em estabelecer conexões intertextuais, e tentar adivinhar o que dali é vida real e o que não (afinal, quando o negócio se repete muito, é porque não deve ser tão ficção assim). E é por isso que de vez em quando eu me pego rindo nas partes do livro que não são para rir, já que me sinto compartilhando uma pequena piada interna com Dona Meg. Sendo assim, voltemos ao Michael.

E se eu disser pra você que o Michael desse livro é o personagem superinteligente fissurado em computadores? E se eu te disser que a melhor amiga da irmã mais nova dele é apaixonada pelo tal Michael? Parece familiar, certo?

Tá legal, agora você troca o Michael de família e coloca ele como irmão da protagonista, ao invés de irmão da melhor amiga da protagonista, e faz ele ter uma paixão platônica pela menina mais popular da escola e voila, estamos diante de um outro Michael: o Mastriani.
* E me desculpe você que não aguenta mais as minhas interconexões de todos os livros dela com DP. É outra coisa que também é meio inevitável. O Diário é minha série preferida, a maior série da Meg, aquela em que ela imputou mais de seu esforço, e, dá pra perceber só de virar as páginas, a mais auto-biográfica e a que ela mais se divertia ao escrever. Todo o resto da obra vai convergir para DP mesmo. Viva com isso!

(Tem outras semelhanças bobildas com outros livros de Cabot, mas essa é a mais gritante e a mais legal também.)

Mas, já que estamos falando do Diário... A Mia bem fala da Jess numa passagem no livro 8 (corre lá, pág 70). Na mesma passagem, ela chega a citar a Sam também do Garota Americana. (GENIAL, eu sei!) O que ratifica a minha teoria de que as mocinhas da Meg vivem todas no mesmo universo ficcional e me faz imaginar quão divertido seria um encontro de todas elas juntas. (A Mia e a Jess provavelmente conversariam por horas a fio sobre as semelhanças entre os seus Michaels, rs!)

Havia muito tempo que eu não me empolgava com uma série juvenil da Meg, como eu me apaixonei por essa daqui. Com personagens que fogem da caricatura, têm dramas familiares de verdade (e ainda são capazes de rir de si mesmos), um ritmo impecável, uma história com a dose certa de romance, ação, mistério, anacronismos e até nerdismos cabotianos, Desaparecidos é Meg Cabot em sua melhor forma: sem preocupar com o politicamente correto e sem dar a mínima se o seu público alvo vai sacar as referências pop dos anos 80. Mal posso esperar pelo segundo volume.

9 comentários:

  1. Ah, eu nunca me interessei por esse livro. Acho a capa feia e a sinopse muito sem noção pro meu gosto. Aí vem você e diz que tem um Michael e - melhor de tudo - com sobrenome italiano. Serei obrigada a reconsiderar. Mas só depois que eu ler os outros da Meg que já estão esperando há muito tempo, senão vira bagunça.

    Bjos

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    1. Essa capa é horrorosa mesmo. Não dava muita coisa por esse livro, não. Mas é muito legal. Essa do Michael foi um baita easter egg.

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  2. Saudosos anos 1990 e início dos anos 2000 hahaha Adorei essa volta. Sou mais nova que você, então não me lembro muito bem dessas coisas. Mas meu pai e meu irmão sempre foram mais ligados em tecnologia, então... Sei lá, talvez eu tivesse um ZipDrive também, quem sabe?
    Eu gosto dessa série porque ela é ~muito~ Meg Cabot, divertida e como você disse, tem coração. E é Meg das antigas, não aquela coisa que possuiu a nossa autora-diva quando ela resolveu escrever Abandon (não consigo superar).
    Adorei quando a Mia citou a Jess e a Sam, amo quando autores fazem isso (semana passada mesmo estava lendo Senhora e o narrador cita a história de Diva, e eu achei o máximo - mesmo com toda minha implicância com José de Alencar).

    Preciso terminar de ler a série, falta só Missing You. Não sei se você já leu os outros, mas eu acho o quarto livro o mais legal, embora eu goste bastante de todos.

    Beijo!

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    1. Oi Fê! Só li o primeiro volume mesmo, por enquanto, mas precebi que ela tinha futuro. É tão gostosinha! Uma delícia de ler.

      Engraçado que vc tem birra com ela em Abandon. Eu tenho birra com ela em Rainha Fofoca. Achei muito sem propósito. Boba demais, contra as regras do romance. Parecia só que ela queria chocar a sociedade, a protagonista meio besta. Nem terminei de ler a série.

      Mas você sabe que a história da Meg querer escrever Abandon vem de muito tempo, né? Então seja lá qual for o espírito que a possuiu, acho que não é nada relacionado ao sucesso que ela tem hoje em dia. Acho que é bem provável que seja só porque a história não é boa mesmo.

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    2. Eu acho que você comentou isso na minha resenha, talvez? Enfim. Sabia disso. Eu fico triste porque a ideia é tão boa! Mas no fim nem pareceu um livro da Meg.

      Ah, também não gosto muito de A Rainha da Fofoca, mas por insistência de uma amiga que também não tinha gostado, mas leu os outros dois e adorou, resolvi fazer o mesmo. E, olha, acabei gostando bastante. Passa longe de ser minha série favorita da Meg, mas pareceu que ela percebeu que tinha feito tudo errado e resolveu consertar. Mas gosto é gosto, né?

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    3. Aí é que tá! Eu já li o que acontece (rs!). Foi assim que decidi que não valia a pena ler o resto. Talvez eu já tenha comentado isso lá no seu blog mesmo. Não lembro. Não estou dizendo que estou ficando velha, rs?

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  3. Elisa...

    adorei o post.

    Eu li essa série a séculossss... pq demorou muito para traduzir no brasil.

    Mas vc vai adorar! Adorei o post!
    A jéssica é uma personagem unica, adoro ela!

    bjos

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  4. Cadê esse segundo livro que não sai de jeito nenhum? Achei a história super divertida e fiquei doida pra ler o resto.

    Nem fiz essa ligação do Michael porque não gosto d'O Diário da Princesa - só li o primeiro e achei meio infantil demais. :(

    Da Meg, só não me desceu o Cabeça de Vento e o Ela Foi Até o Fim. Rainha da Fofoca é ótimo! Eu tinha desistido dos outros livros por causa de uns spoilers que li, mas depois de um tempo, aceitei e acho que tou pronta pra essa mudança. :)

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  5. gente eu achei o seu blog por acaso e já li um monte de coisa e,cara,ele é incrível!! vc gosta de meg cabot!!!!!!!!!
    aquela mulher sabe fazer personagens engraçadas e q agente ama como ninguém!

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