domingo, 29 de julho de 2012

Extremamente Regular & Incrivelmente Meh

Extremamente Alto & Incrivelmente Perto é dessas histórias que mais querem emocionar do que emocionam de fato. E as tentativas de levar o leitor às lágrimas são tantas que o efeito alcançado é justamente o oposto: a indiferença.

Extremamente Alto... é um livro incrivelmente constante e impressiona por sua regularidade, mas isso não é um elogio. Se fosse representado por uma função matemática, certamente seria alguma do tipo f(x) = K, com K=6, já que está sempre na média, mas em nenhum momento consegue empolgar de fato, contudo, também nunca dá vontade de abandonar a leitura. Obviamente ele tem seus bons momentos mas é tudo muito... morno. Tudo muito...meh!

Oskar é o garoto superdotado (e por vezes bem chatildo) que tenta lidar com a morte do pai, uma das vítimas dos atentados de 11/09. Ele acha uma chave dentro de um envelope que diz apenas “Sr. Black” e coloca na cabeça que não vai descansar até encontrar seu dono, nem que para isso ele tenha que bater na porta dos mais de 600 nova-iorquinos com sobrenome Black. Na cabeça do menino, a busca pelo dono da chave é uma oportunidade de ficar mais perto do pai.

Paralela à história do garoto estão capítulos que, ora são narrados pela avó dele, ora por seu avô, que nunca chegou a conhecê-lo, pois abandonou a esposa assim que soube que ela estava grávida. A razão para tamanha canalhice é desenvolvida ao longo de todo livro e tem início em outra tragédia que ocorrera anos antes, em Desdren, Alemanha. O livro tenta fazer o leitor ficar com pena daquele casal infeliz o tempo todo, e como desgraça pouca é bobagem, pra completar, o velho é mudo e se comunica através de um caderninho e tatuagens na mão com SIM e NÃO.

(Em determinado momento, o livro ainda chega a insinuar que a velha é cega e aí eu me peguei pensando: “NÃO É POSSÍVEL! É MUITA TRAGÉDIA PARA UMA FAMÍLIA SÓ!!!! 2 catástrofes, um cara mudo e a mulher cega! Aí vai ficar muito difícil mesmo!”. Felizmente, era só mimimi da velha e ela conseguia enxergar, sim!)

Se a história do menino ainda desperta algum tipo de simpatia e compaixão, o mesmo não se pode dizer do drama de seus avós (principalmente depois de ter lido o livro todo). Sim, é claro que ambos sofreram perdas traumáticas. Mas, ao passo que Oskar carrega consigo a inocência da infância (e, por mais insensível que seja o leitor, temos que concordar que criança nenhuma merece sofrer por causa da bagunça feita no mundo dos adultos), não dá pra deixar de pensar que os velhos meio que escolheram o caminho da infelicidade e parecem complicar o que já é complicado.


Suas más escolhas são sempre justificadas com base nos acontecimentos traumáticos, sim, mas, em certa altura, também remotos. Como se só eles tivessem o direito de sofrer. Como se ninguém no mundo sentisse dor. Como se, só porque eles passaram por um grande drama, não pudessem fazer nada a respeito e o resto das pessoas simplesmente tivesse que sentir pena e aceitar todas as suas atitudes subseqüentes (e idiotas) como se fossem certas.

Enquanto escrevo isso, percebo que Oskar não parece ter um destino muito diferente de seus avós. Mas, como disse ainda há pouco, ele é uma criança e pode mudar. Ao fim do livro, os velhos descartam essa possibilidade numa escolha que era para ser poética, mas não deixa de ser estúpida em vários níveis.

Realmente não é de meu feitio encarar histórias desse tipo. Mas peguei esse livro porque queria uma leitura diferente, que me desafiasse, e cheguei a ouvir comentários de que era um “História Sem Fim para Adultos” por causa da utilização de recursos gráficos na hora de conduzir a narrativa, que em tese tirariam o leitor do papel de mero agente passivo na busca do menino. E nesse último quesito, o livro cumpre o que promete e brinca o tempo todo com cores, números e figuras (nosso ex-presidente ia adorar!) que compõem elementos orgânicos à história. Mas basicamente é só isso e apesar de ser “infantil”, A História Sem Fim dá de 10 em inteligência e metáfora nesse daqui.

Se as inventividades propostas sustentassem a narrativa, eu faria coro com o resto dos críticos que dizem ser mais um trabalho “genial” de Jonathan Safran Foer. Como a história não convence por completo, até esses recursos visuais, que são o ponto forte do livro, soam apenas como um recadinho presunçoso do autor do tipo: “olha como eu sou f*dão e consigo fazer poesia concreta!”. Infelizmente a presunção não tem razão de ser, já que, aparentemente, ele não sabe que aqui no Brasil se fala português, como deixou transparecer em um trecho no qual Oskar encontra com uma mulher que falava espanhol e acha que ela pode ser brasileira.

Pareço profundo, mas acho que Brasil e Colômbia é tudo a mesma coisa

Tudo acaba quase do mesmo jeito que começa. E isso nem é o principal problema, porque nesse tipo de história, carregada no drama, um final muito diferente poderia soar incoerente, já que a vida não é assim tão simples.

E aí todas as tentativas de parecer profundo e esperto também provocam o efeito reverso e soam apenas...óbvias, já que não levam à lugar nenhum e estão tão na cara que não desafiam o leitor em nada. A revelação do porquê das fotos de fechadura? Méh. Paralelo do genocídio de Desdren? Óbvio. A moral da história de que guerra só traz sofrimento? MAS A GENTE NÃO ESTÁ CARECA DE SABER ISSO?

Mesmo assim, a jornada do garoto ainda rende alguns bons personagens, como o outro velho, centenário, que acompanha o menino durante um tempo (a gente podia ter ficado sem aquela parte de ele não escutar qualquer coisa há uma eternidade, mas enfim) e momentos inspiradores com a mulher que nunca mais desceu do Empire States, assim como a resolução da busca da chave.

Nas mãos de outro autor menos pretensioso, Extremamente Alto podia ter saído incrivelmente mais legal. Mas a presunção do escritor, que até escreve bem, é tanta que acaba por minar quase toda a simpatia que se pudesse ter por seus personagens imperfeitos. Eu bem que queria dizer que não é mais uma história sobre o 11/09, mas... Meh!
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sexta-feira, 20 de julho de 2012

Tina Fey, sua sósia e você no meio das duas

Ok, você não sabe quem é Tina Fey e não quer saber sobre a sósia dela, mas não vá embora do post ainda. O texto tem plot twist e já, já, você vai entender como você tem tudo a ver com a comediante, mesmo que não se interesse pelo trabalho da moça e não tenha a mínima intenção de ler seu livro. O post ficou grande porque comenta de uma vez um livro, um filme, como eles se relacionam entre si e como se relacionam com você aí do outro lado. Eu gostaria muito que você lesse até o final porque no início pode parecer bobo, mas acredite em mim, você vai ver como tem uns debates muito sérios através do post.



Tina Fey

Uma vez em cada geração uma mulher surge e muda tudo. Tina Fey não é essa mulher, mas ela conheceu essa mulher uma vez agiu esquisito perto dela.

Elogios para Tina Fey:

“Você ficaria muito bonita se perdesse peso” (Namorado da Faculdade, 1990)
“Tina é um troll feio, com formato de pêra e superestimado” (A Internet)
“Mãe, cadê os pretzels?” (Tracy Morgan)

Elogios para Bossypants:
“Eu espero que essa não seja a capa de verdade. Isso vai prejudicar as vendas” (Don Fey, Pai de Tina Fey)
“Absolutamente delicioso!” (Um cara que come livros)
“Vale muito a pena” (Árvores)
“Não imprimam essa linda recomendação do livro de Tina Fey antes que eu esteja morto há 100” (Mark Twain)
“Hilário e perspicaz. Muito engraçado – ah, não, uma lua cheia. Não! Arrgh! Saia de perto de mim! Save-se!” (Um cara virando lobisomem)

Com essas recomendações pra lá de confiáveis, eu não pude evitar comprar o livro da minha ídola da TV, Tina Fey. Mas, se você não faz a mínima ideia de quem seja ou não entende o meu fascínio por ela a ponto de comprar o seu livro, eu explico.

Porque eu gosto tanto da Tina Fey

1.Ela é inteligente genial
Responsável pelos roteiros de Meninas Malvadas e produtora de 30 Rock, Tina consegue entregar sempre textos afiados, desafiadores, que falam de coisas sérias sem se levar tão a sério assim. A gente sempre fica com a impressão de que estar vendo um episódio mais genial que o outro.

2. E nerd
Fã incondicional de Star Wars, não perde a chance de usar a saga jedi em seus projetos (Não que eu realmente me importe com Star Wars) e em Meninas Malvadas inseriu toda uma trama com matemática que por muito tempo foi tema de piadas internas entre meus amigos, principalmente quando todo mundo começou a estudar cálculo e descobriu o que era limite e que ele existia, sim senhor. Tina tem aquele ar de nerd rejeitado e modesto, que, apesar do seu potencial, ainda se sente meio esquisita tirando fotografia pra capas de revista e se pudesse ficaria no sofá o dia inteiro de moletom.

3. E engraçada
Ao contrário de muitos comediantes por aí, Tina Fey é engraçada de verdade. Ela não precisa fazer nada que eu já tenho vontade de rir. Adoro quando ela fala alguma coisa mas dá pra perceber que ela está maquinando milhares de outras coisas piores que não vem a público. E ao contrário de muita gente que faz piada denegrindo os outros, uma das maiores virtudes de Tina é tirar sarro de si mesma e sem apelar para baixaria.

4. E parece com a Meg
O senso de humor, o jeito de falar (e de parecer maquinar outras coisas piores enquanto fala), o apreço por Star Wars, o vício de inserir milhares de referências pop por segundo, a veia feminista... Tina Fey é a Meg Cabot da TV.

5. E parece com a minha profª de português do ginásio
Tá legal, você não conhece a professora. E talvez elas não se pareçam mesmo. Mas às vezes eu olho pra Tina e lembro um pouco da Tia Deborah. Eu falei dela (Tia Deborah) e dela (Tina Fey) aqui várias vezes. Os óculos, o olhar míope quando está sem eles e o formato do rosto parecem um pouco. Mas o pior é a personalidade que parecia mais ainda! As tiradas no meio da aula, o jeito insano como funciona a sua cabeça... Acho que eu preciso procurar um psicólogo, sabia? Quase todo mundo na TV me lembra a Deborah! Se bem que na verdade ela tem um semblante bem comum. Talvez eu não esteja tão maluca assim.

Como esperado, Bossypants é engraçado, com piadas que vão desde a orelha do até os agradecimentos, piadas de riso de canto e outras genais tipo “Não vou mencionar o nome dele aqui, mas se você quiser mesmo saber, as letras estão espalhadas por essa página”.

Mas ao seu final fiquei com a sensação de que podia ser melhor. Em parte por culpa minha que não tenho o inglês avançado o suficiente para acompanhar o humor calcado em gírias e expressões idiomáticas de Tina e não possuo o nível de cultura pop necessários para entender algumas piadas. E em parte por culpa do livro também que parece sofrer de falta de foco narrativo no começo e só começa ficar bom mesmo a partir da parte em que Tina passa a narrar os fatos relativos ao começo de sua carreira como comediante.

Como ia dizendo, o livro só fica bom mesmo quando Tina envereda de vez no caminho da comédia em sua vida. Ela entra para um grupo de teatro em que conhece sua best Amy Poheler (outra diva da comédia), o produtor do Saturday Night Live, Lorne Michaels* e o livro ganha ares de bastidores da TV, assim como a aclamada série comandada por Tina Fey, 30 Rock. (Para quem não sabe, 30 Rock é “sobre” os tempos em que Tina era roteirista do SNL. A primeira mulher, inclusive a fazer parte da patrulha. E qualquer semelhança com a realidade não é mera coincidência, é puro descaramento mesmo).
* O SNL - que recentemente ganhou uma versão brasileira que vai ao ar aos domingos (!) liderada por Rafinha Bastos - lembra muito o antigo Casseta e Planeta com sátiras políticas e paródias musicais, mas nos EUA passa nas noites de sábado, que, por aqui é horário do Zorra Total. E nesse contexto acho muito digno dizer que Lorne Michaels seja uma espécie de Maurício Sherman da produção estadunidense, responsável por garimpar novos nomes para o programa e renovar o elenco de tempos em tempos.

De fato há alguns capítulos que falam dos bastidores do SNL e outros em que é possível reconhecer algumas tramas já usadas em alguns episódios de 30 Rock como aquele da jarra de xixi (putz, como esse episódio é nojento!) e o mesmo humor auto-depreciativo de Liz Lemon (e se você até agora não tinha sacado, Liz Lemon é uma versão da própria Tina). Todos os capítulos que tratam sobre o dia-a-dia da TV são ótimos, com destaque para o tempo em que Tina começou a encarnar a candidata a vice-presidente dos EUA, Sarah Palin (mais sobre ela depois) e se viu no meio de toda a corrida presidencial.

(Vale destacar inclusive que o livro tem uma linguagem bastante televisiva, apelando às vezes para gráficos e fotos, e muito parecida com a utilizada em 30 Rock, com flashbacks-relâmpagos a todo momento e piadinhas do tipo piscou-perdeu - e como eu já confessei, eu pisquei à beça. Talvez esse vício de TV também seja o responsável pela falta de foco narrativo que me incomodou tanto no início também.)

Além disso, vale mencionar o capítulo da lua-de-mel em que ela escolheu passar num cruzeiro porque o marido tem medo de avião e acabou que o cruzeiro que quase afundou e teve que voltar de avião pra casa (a história é ótima mesmo e o comentário final sacaneando Titanic é ainda melhor!), o capítulo que conta seu encontro com Mônica Lewinski (sim, aquela do Bill Clinton) e os capítulos que satirizam o ideal de beleza da mídia e discutem um pouco de feminismo. Há uma parte em que ela tira sarro da vida de estrela sexy que tira fotos para capas de revista (aqui Tina desenvolve uma argumentação muito legal sobre Photoshop), outras em que ela finge dar dicas de beleza, e algumas discussões sobre ser uma mulher/comediante e mãe que trabalha fora.

Tina termina o livro emparelhando passado e presente e refletindo acerca de “ter ou não ter” outro bebê. E isso que eu acabei de contar NÃO É spoiler. Spoiler de verdade é saber que em agosto de 2011 ela deu à luz uma menina chamada Penélope Athena (mais grego impossível!).

Sua sósia

Como comentei, um dos destaques do livro é a parte em que Tina conta detalhes sobre os bastidores da imitação de Sarah Palin, a reação do público, o jeito como ficou famosa só porque parece com a mulher (e faz a voz igualzinho!) e passou a aparecer não só nos programas de humor mas também nos canais de notícia tipo CNN, como ela não queria se meter nos rumos da eleição apesar de tudo isso e até um breve encontro com a própria, quando ela foi convidada do SNL.

Aí outro dia passou na telinha Virada de Jogo, um filme feito pela HBO sobre as eleições de 2008 e como a trajetória de Sarah Palin mudou os rumos da campanha republicana. A governadora do Alasca aqui é interpretada por Julianne Moore e não por Tina, e numa excelente atuação a atriz interpreta a personagem com muita dignidade e respeito, sem deixar de incorporar os trejeitos da candidata e sua vozinha irritante que por si só já são engraçados e não precisam estar dentro de uma esquete para fazer rir. A mulher é muito comédia!

Num cenário em que Obama liderava as pesquisas com folga, a assessoria de John McCain foi buscar no “grande estado do Alasca” um ingrediente que traria novas ideias e novos eleitores para a campanha: Sarah Palin. Mulher, conservadora, com visão independente (leia-se "com imagem afastada do governo Bush") e dona de um imenso carisma, Sarah realmente trouxe muitas doações, eleitores e a atenção da mídia que os assessores queriam. O problema é que ela também trouxe muita dor de cabeça porque a atenção que recebia às vezes era pelos motivos errados.

Foram inúmeras polêmicas envolvendo filhos que não seriam dela, a gravidez da filha adolescente e principalmente sua falta de conhecimento de política externa. O filme chega a insinuar que ela havia confundido os atentados de 11/09 com a guerra no Iraque e que não sabia que quem manda na Inglaterra não é a rainha. Em determinados momentos, Tina Fey até aparece no filme zoando a candidata se assistindo na TV, como no famoso diálogo de abertura que fez com Amy Poheler em que satiriza uma entrevista de Palin na qual a governadora dá a entender que EUA e Rússia são vizinhos. O tal diálogo (hilário, diga-se de passagem) está descrito na íntegra no livro, aliás. “Eu posso ver a Rússia da minha casa”, zoava Tina.

Apesar disso, o filme não tira sarro de Sarah Palin e a retrata como uma mulher forte e carismática que apenas foi vítima das conseqüências. Quer dizer, num dia ela estava lá na casa dela cuidando das crianças, resolvendo os problemas locais do seu estado, no outro estava em rede nacional para todo o país (e para todo o mundo até) tendo seu passado vasculhado e respondendo perguntas sobre as quais não fazia a menor ideia.

O mundo todo se perguntou: “COMO É QUE PODE UMA MULHER DESSAS SER CANDIDATA A VICE-PRESIDENTE? Imagina só se o McCain é eleito e morre! Ela não tem condição nenhuma de governar um país!”

E aí é que você, que achava que não tinha nada a ver com a história, entra no meio de tudo isso.

Você no meio das duas

Num primeiro momento, Virada no Jogo pode até contar a história da corrida presidencial estadunidense de 2008, mas numa análise um pouco menos superficial é fácil perceber como ele fala de como funciona a máquina da política como um todo e como ela é capaz de manipular as pessoas sem que elas sequer percebam. E isso você pode aplicar nas próximas eleições municipais que estão por vir.



A seguir “3 Lições que Aprendemos com a história da Sarah Palin”:

1) Em eleições, quanto mais polêmica melhor
Eleição é a maior baixaria. Os candidatos têm sua vida particular revirada, um monte de mentiras são inventadas, boatos espalhados e no fim das contas o que menos se discute é política. Tudo vira uma disputa de popularidade vazia que em alguns momentos chega a lembrar um paredão do BBB. Nos EUA, os candidatos fazem campanha disfarçada em talk shows e programas de humor. No Brasil, o humor fica no horário eleitoral gratuito mesmo.

2) Só confie no argumento “De Mulher pra Mulher” se for comercial da Marisa
Em alguma parte de Bossypants, Tina Fey comenta sobre a diferença entre homens e mulheres na comédia (que é nenhuma!) e como, depois de ter ouvido de alguns diretores que o número de mulheres em esquetes deveria ser restrito, seu sonho na verdade era com o dia em que homens e mulheres pudessem disputar em pé de igualdade, utilizando-se do argumento de quem era mais engraçado.

O mesmo pode ser aplicado na política. Na ânsia de “roubar” o eleitorado feminino que apoiava Hillary Clinton nas prévias contra Obama, Sarah Palin foi escolhida às pressas principalmente porque era mulher. E não porque era boa. E seu “fracasso” se deve não ao fato de ser mulher, mas sim porque não estava preparada o suficiente. Ou melhor, porque ela não PARECIA estar preparada o suficiente (mais sobre isso depois).

E, sim, agora temos uma presidente, quer dizer, presidenta também que, no caso, se elegeu por causa do carisma de seu antecessor. Mas há um pouco mais de 10 anos, quase tivemos uma candidata com intenções de se eleger às custas do rótulo: "Vote em mim porque sou mulher". A senhora em questão era Roseana Sarney, filha do senador que todo mundo hoje quer ver fora do congresso mas continua votando para que ele se reeleja, e não fosse a descoberta de um escândalo da SUDAM talvez tivesse até chegado ao Palácio do Planalto.

3) Em eleições, mais importante do que saber é parecer que sabe
Mas, é claro que, além do “Fator Feminino”, Sarah também foi escolhida pelos ideais que representava e por incomensurável seu carisma. Os republicanos precisavam de alguém que fosse uma estrela de cinema assim como Obama (ou como o nosso Lula). E conseguiram! A mulher roubou a cena e ganhou até filme!

O problema é que ela deixou transparecer que “tinha faltado a algumas aulas de geografia”. Ninguém é obrigado a saber tudo. Mas espera-se que alguém que vá ocupar um cargo de tanta responsabilidade saiba o que está fazendo e não dê vexame. Acho até que todo mundo é capaz de aprender. O Brasil mesmo teve um presidente que não terminou nem o fundamental e fez um bom trabalho. Na política (e até na nossa vida mesmo), muitas vezes não precisa SABER de verdade. Mais importante é PARECER que sabe.

É claro que no caso do Lula todo mundo sabia que o cara não tinha muita instrução. Mas quantos mais políticos vocês acham que se elegem sem a formação necessária? E eu nem estou falando dos casos mais extremos tipo Tiririca, porque, se você for ver mesmo, nenhum deles está preparado de verdade para o cargo. Estamos votando no escuro o tempo todo, baseados apenas no carisma dos candidatos!

Aí você pensa: “Ah, mas para os cargos do poder executivo, a gente pelo menos pode avaliar os candidatos nos debates!”. Debate pra quê? Até os livros de história já contam sobre a edição pela Globo em favor do Collor em 1989! E mesmo que não aconteça mais esse tipo de coisa, de nada adianta você achar que vai conhecer melhor um candidato, quando na verdade o que aparece na TV não passa de um cara que foi devidamente adestrado para repetir sobre os mesmos temas a toda hora!

Em certo momento do filme, quando ficou claro que não seria possível ensinar Sarah Palin a responder as perguntas, os assessores simplesmente a fizeram decorar as respostas e orientaram-na a voltar para um tema que tivesse domínio caso ela não tivesse a menor ideia do que responder! E ela arrebentou no tal debate!

E é claro que essa não foi a primeira nem será a última vez que isso acontece por lá, e vai acontecer (aliás, já está acontecendo!) por aqui diante dos nossos olhos mais uma vez!


Antes do tal debate, Sarah Palin, irritada com tanta gente lhe dizendo o que fazer, grita: “EU NÃO SOU UM FANTOCHE!!!!” É sim, Palin. E o pior é que todos nós somos.
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quinta-feira, 12 de julho de 2012

Patrulha da Vergonha

Há algumas semanas a Karol do Literatura Pop publicou uma postagem que há muito eu esperava para comentar. Quando eu vi o texto no ar, meus dedos coçaram para comentar 1, 2, 3 vezes. Queria me apropriar da discussão, queria responder todo mundo aquilo que estava entalado aqui na garganta. Acabou que eu respondi num comentário gigante sim, como é de meu costume e como a situação pedia, mas consegui me controlar e deixar ela mediar o debate, afinal de contas, o blog é dela.

E ainda bem que eu atei meus dedos porque, ao acompanhar o resto da discussão, percebi que eu não estava por dentro da real gravidade de mais uma polêmica na blogosfera literária. E agora que acho que saquei mais ou menos a profundidade do buraco, trago a discussão para o Inútil, porque aqui sim eu posso me estender o quanto for necessário. Peço permissão para a Karol, para incorporar partes dos meus comentários lá no Literatura Pop no decorrer do texto (acho que não preciso pedir permissão, na verdade, já que fui eu que escrevi, né?).

O assunto em questão era a inquisição que se instaurou nos blogs, procurando textos com erros de português, textos mal-redigidos, editoras que gostam de passar a perna nos leitores, blogueiros que gostam de passar a perna nos leitores, blogueiros que gostam de passar a perna nos outros blogueiros, entre outras coisas.

É a Patrulha da Vergonha que, assim como alguns super-heróis, denunciam anonimamente as mazelas da sociedade (no caso a virtual-literária), atuando como justiceiros na falta de uma polícia atuante.

(E por Patrulha da Vergonha eu me refiro não só aos envolvidos oficialmente no projeto, mas principalmente a todos os que se juntam para rir, tripudiar e apontar o dedo na cara dos outros)

E salvo nos casos em que há plágio ou má fé envolvidos (e comprovados), a atitude prepotente e inconseqüente da Patrulha me envergonha muito mais do que o conteúdo denunciado.

Seje Feliz
A partir do momento em que a pessoa faz um blog literário, pressupõe-se que ela saiba ler (e mais do que juntar palavras, eu quero dizer INTERPRETAR) e que a leitura provoque na mesma o poder de ensinar a escrever também. Mas nem sempre é o que se encontra por aí. Existem sim (muitos) textos (muito) mal-escritos sem nenhum tipo de reflexão acerca daquilo que foi lido e sem nenhum apreço por algum mínimo de gramática. No caso de alguns erros de concordância e ortografia, mais do que ignorância, chega a ser até um pouco de preguiça, já que bastava pesquisar no Google ou usar o corretor ortográfico.

Mas acredito que tirar uma foto desse texto e colocar no Mural da Vergonha para ridicularizá-lo seja uma p*** falta de sacanagem e não gostaria nadinha se acontecesse comigo. Porque isso NÃO FAZ o blogueiro melhorar.

Em casos de erros de português mesmo, se a pessoa, de um blog que você não frequenta, escreve "Hospedar da bicicreta é de prástico", e você ficou muito incomodado a ponto de achar que a pessoa deve saber que o certo é "Os pedais da bicicleta são de plástico", você vai e, com toda a educação, tenta entrar em contato com o autor do post para que ELE possa consertar. Acho até que ele vai ficar muito agradecido do toque que você deu. E se não, você não quer se intrometer do trabalho do coleguinha, deixa ele lá no canto dele escrevendo "bicicreta", não volta mais ao site e “SEJE” FELIZ!

Eu, particularmente, acho a situação toda muito incômoda e, até em blogs que gosto, fico meio sem jeito de dar um toque no blogueiro às vezes. Só se a gente já tiver uma intimidade bem maior. É igual encontrar alface no dente do outro, sabe? Você nunca sabe se avisa a pessoa ou não.


Mas, não satisfeita em defender o português correto (eu sei que eles avaliam a situação e entendem quando foi “pobrema” de digitação, quando é "intensional" – apesar de isso tudo ainda causar alguma “discurssão” -, etc), a Patrulha ainda se acha no direito de julgar a coerência, coesão e o nível de profundidade dos textos alheios!!!

Amigo, se a pessoa tem um texto que VOCÊ considera raso, quem é você para ficar apontando o dedo na cara dos outros? Não é como no caso da “bicicreta” que todo mundo sabe como escreve. Porque aqui, estamos falando de uma questão de OPINIÃO. (E se você acha que aquele texto raso é porque a pessoa não leu o livro, ou o que quer que seja, ainda assim é uma OPINIÃO!) E você pode muito bem guardá-la para si, se ninguém te perguntou nada a respeito. Mais uma vez, clique no botão de fechar a página, não volta mais ao site e “SEJE” FELIZ!

Você gostaria que alguém tirasse uma foto da sua sala, colocasse na internet, e juntasse uma galera pra ironizar a disposição e qualidade da sua mobília? Não, né? Então deixa o canto dos outros em paz!

Deixa acontecer naturalmente
Uma vez o Felipe, aqui mesmo no blog, criticava o meu alto nível de expectativa para com as resenhas que encontrava por aí. E ele estava corretíssimo na sua afirmação. Sou chata mesmo, mas nem por isso fico tripudiando em cima dos blogs que fazem essas resenhas que EU acho de araque. Respondi a ele na época: “Acho que seria muito injusto da minha parte exigir que TODO MUNDO tivesse uma visão aprofundada sobre os livros que lê. Poxa vida, só porque a pessoa não reparou naquele detalhezinho ínfimo, ela não pode ter uma opinião sobre o livro? Eu seria muito prepotente se pensasse assim. Em suma: Gostaria que todas as resenhas fossem inteligentes e divertidas? Sim. Posso exigir isso de todo mundo? Não.”

E não posso exigir isso de todo mundo porque as pessoas são diferentes!!!!! Têm histórias de vida diferentes, níveis de educação diferentes, visões de mundo diferentes!!! Se essa pessoa é uma leitora de verdade, ela vai aprimorar sua capacidade de interpretação e um dia quando ela voltar pra visitar o texto novamente, ELA vai sentir vergonha. Garanto que VOCÊ quando começou o seu blog era bem pior do que é agora. É um processo natural que não cabe julgamentos de outrem. Então, apliquemos a sabedoria das letras do Grupo Revelação e paremos de propagar tanta tristeza e ódio no mundo cibernético: "Deixa acontecer naturalmente/Eu não quero ver você chorar/Deixa que o amor encontre a gente/Nosso caso vai eternizar"

Por que tanto ódio?
Agora entra a parte que demorei pra entender. A razão de as pessoas terem tanto ódio no coração e gastarem tanto tempo fiscalizando o blog dos outros não é SÓ porque está na essência do ser humano ser perverso, malvado e gostar de se sentir superior às custas dos outros. O problema é mais grave do que parece e esbarra naquilo que eu já cansei de falar aqui que não são de Deus. Vamos ver se você adivinha, dou-lhe 1, dou-lhe 2, dou-lhe 3. 

Acertou se você disse “Parceria”. Plim, plim, plim! *Luzes piscando* 

(Sério, gente, esse negócio é um câncer na blogosfera. Só traz desgraça, PQP!

Amigos, vocês têm colocar na cabeça que para manter blog não precisa de apoio de ninguém importante não, sério! Tanto é que todo mundo achou um absurdo quando o Ministério da Cultura autorizou uma verba altíssima para a Betânia montar o dela!!! Os blogs de TV não têm acordo com ninguém e conseguem sucesso e popularidade produzindo apenas conteúdo de qualidade! Muitas vezes são blogs muito mais inteligentes e criativos do que os literários! A galera se diverte muito mais e se leva muito menos a sério! E você vê muito menos picuinhas do que na blogosfera literária também! E olha que é TV, um produto "inferior" à literatura, hein! Pensem nisso!)

A fiscalização da blogosfera passa pela Parceria a partir do momento em que algumas editoras só querem saber de audiência e não fiscalizam o conteúdo de seus parceiros.

Aí a Patrulha da Vergonha assume o papel de justiceiro dos blogs fracos e oprimidos que não têm apoio comercial para seguir sobrevivendo (como se para se ter um blog de mais qualidade, as pessoas precisassem realmente desse apoio) e têm menos seguidores do que aqueles que publicam resenhas sem alma e sorteios fajutos.

A editora legitima um blog “mais ou menos” (na OPINIÃO de alguns) e o resto das pessoas se sente na obrigação de esculachar com o blog alheio porque, obviamente, elas possuem um blog muito melhor do que aquele escreve “bicicreta” sem dó nem piedade da língua portuguesa. Uma atitude pra lá de deselegante e que eu, sinceramente, acho muito mais vergonhosa porque demonstra o quanto as pessoas podem ser mesquinhas quando querem.

(E aí a gente entra novamente na questão do status, da profissionalização dos blogueiros, das confusões causadas pelas parcerias e das vantagens de NÃO tê-las que já foram discutidas aqui)

Tô contigo, Sandra!

Fazendo a sua parte
Você que reclama desses blogs “universitários” (o termo aqui é utilizado no mesmo sentido que em Sertanejo Universitário, que quanto mais estudo diz ter, mais iletradas são suas canções), é muito fácil de contribuir para uma blogosfera mais legal, e você pode fazê-lo SEM acionar o Disque-Denúncia!

Se as editoras dão força para blogs do tipo “Eu quero Tchu, Eu quero Tcha”, é só não dar audiência para eles, não fazer fila nos sorteios e não divulgar esse tipo de prática (pelo menos quando forem nos blogs que você não gosta mesmo)!

Não vai machucar ninguém, vai fazer um bem danado pra você que não vai ser obrigado a aturar tanta baixaria e pode ser que um dia, quando os blogueiros e as editoras perceberem que esse *modelo de negócio* não é de Deus e não funciona mais, os blogs sejam mais bem escritos e não haja tantas promoções obscuras!!!!

(E aí entra também uma outra discussão muito legal sobre a mudança do perfil de consumo do brasileiro, a expansão do mercado literário e a multiplicação dos blogs que a gente começou lá no cantinho da Karol)

E continue produzindo textos bacanas que você gostaria de ler! O simples ato de escrever bem melhora não só o seu próprio blog, mas também os blogs alheios, que, através da leitura, vão aprender inconscientemente como fazer um blog melhor. Vão aprender muito mais do que uma gongada sarcástica, aliás. O resultado pode não vir em popularidade, em números, mas vem em amigos e satisfação, que são muito mais legais!!!!!

Finalizando
A blogosfera não precisa de controle de qualidade, de polícia, de fiscalização. 

Ela precisa de VERGONHA. NA CARA.

Vergonha na cara pra parar com essa palhaçada de competição em quantidade de seguidores. Vergonha na cara pra parar de querer enganar os outros. E vergonha na cara pra deixar de ser tão infantil e começar a olhar mais pro seu próprio umbigo do que vigiar a grama do vizinho, que muitas vezes nem é mais verde, mas causa inveja só porque tem mais gente pisando, também.

Mostre que você tem classe e não se deixe levar por essas polêmicas sem sentido. Ao fazer isso, aí sim você estará sendo uma pessoa superior.

Obs. Como sempre, quero deixar claro que não sou a dona da verdade (o post critica justamente como algumas pessoas se esquecem que também não são) e não tenho a intenção de tirar o site de ninguém do ar. Quando comentei no blog da Karol, os ânimos estavam bem mais aflorados do que agora. E vejo muitas virtudes no projeto, inclusive, como o combate ao plágio e a cobrança em cima de algumas editoras que se acham “ixperrrrtaxxx”, das quais não tinha conhecimento antes. Não escrevi o post por nenhum acontecimento em específico e não acompanho os detalhes da Patrulha. Só queria expandir o assunto iniciado no Literatura Pop um pouco mais e mostrar que nem sempre agir ativamente é o melhor caminho. Se você chegou até o fim deste texto e ele te fez pensar nem que seja só um pouquinho, já me sinto com o seu dever cumprido. E como sempre, a caixa de comentários está aberta a argumentações, desde que o nível seja mantido e não ofenda ninguém. Abraços!
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segunda-feira, 2 de julho de 2012

House goes home

E terminou dia 21/06 (para quem acompanha pelo Universal) uma das séries mais importantes e mais assistidas da TV: House.


Interpretado brilhantemente por Hugh Laurie, House era o médico ranzinza que sofria um problema na perna e tomava altas doses de vicodin para aliviar a dor. Com a ajuda de sua equipe, House diagnosticava os casos dos mais inusitados a cada semana, sempre depois de um momento de epifania, e quase sempre depois de uma conversa com o amigo oncologista Wilson.

House e Wilson. Única relação duradoura e estável da série, os dois viveram um bromance para ninguém botar defeito. Os amigos não cansavam de implicar um com o outro, mas também não conseguiam viver a companhia da respectiva cara metade. House, a mente brilhante. Wilson, o parceiro de coração derretido. Dentre todos os outros personagens, somente Wilson fazia House repensar suas convicções. Todas as vezes em que tentou se afastar, Wilson acabou voltando e perdoando House. House e Wilson. Wilson e House. Holmes e Watson.

A homenagem dos criadores da série para com Sherlock não se limitava aos nomes dos personagens. Entre outras brincadeiras plantadas pelos produtores, House, assim como o detetive inglês, possui vício em substâncias ilícitas, mora no apartamento 221B e analisa o caráter psicológico das pessoas para resolver os casos mais impossíveis.

E enquanto tentava desvendar as doenças das quais ninguém nunca tinha ouvido falar, House se metia na vida pessoal de seus colegas de trabalho, flertava com a diretora do hospital e ainda debochava e desconfiava do paciente. Afinal, para ele “Todo mundo mente”. O doutor também utilizava de métodos pouco ortodoxos com o objetivo de salvar vidas, o que colocava em pauta discussões sobre o limite da ética na medicina, entre outros temas que beiram a filosofia. E é exatamente neste quesito que House se diferencia das demais séries médicas existentes.


Se fosse na vida real, obviamente House não ficaria empregado nem uma semana, porque por mais inteligente que fosse o médico, hospital nenhum acobertaria suas pegadinhas, o jeito como trata os pacientes, ou as toneladas de processos decorrentes de sua atitude arrogante.

Mas como é tudo televisão, House ficou no ar por bastante tempo. Tempo demais até. Em 8 anos o seriado já tinha aproveitado todo seu potencial e, embora nunca tivesse abandonado a série, saber que ela ia acabar em breve foi na verdade um grande alívio.

Sim, House sempre teve fórmula. E isso não é exatamente um problema, nem quer dizer que seja uma série mais fácil de ser produzida por causa disso. Concordo com David Shore quando ele diz que é ainda mais difícil fazer um programa em que o público espera ser surpreendido, como é o caso de House.

E durante 3 temporadas, pelo menos, a fórmula deu conta do recado. Mas como o próprio personagem dizia naquela finale de arrasar (um dos melhores episódios sem dúvida aquele do cubano que vinha ilegalmente para os EUA para que a mulher se consultasse com o doutor!), era hora de mudar. 

Então, depois de 3 anos incríveis, os produtores não se acomodaram e fizeram questão de ignorar a máxima de que em time que está ganhando não se mexe ao inventar um reality show para escolher os novos integrantes da equipe. O reality trouxe novo fôlego à série e mexeu um pouco com a estrutura do programa por um tempo, até que tudo voltasse a ser como antes. Desde então, ano-sim-ano-não, o seriado prometia mudar tudo para dois ou três episódios depois as coisas voltarem a exatamente ao mesmo lugar. 

Do sexto ano em diante, a série passou a ser diagnosticada com "esgotamento da fórmula aguda". Tudo o que ia ao ar tinha uma sensação de Deja Vu e aquela surpresa que David Shore comentava ser difícil de ser aplicada já não surpreendia mais ninguém. Mas foi na sétima temporada mesmo que as esperanças do público em ver a série que gostava de volta (apesar de ainda parecer praticamente a mesma) se foram.


Com o crescimento da audiência (House chegou a ser a série mais assistida do mundo por diversos anos), o seriado virou refém de si mesmo. Passou a investir cada vez mais nas pegadinhas do Doutor, no desenvolvimento de personagens que não interessavam e em romances que quase nunca faziam a diferença. Com exceção de Chase e Cameron, que transportaram para a telinha o relacionamento que já tinham na vida real, o público bocejou com a falta de química de 13 e Foreman e também com o casal House e Cuddy, cuja tensão sexual prometia desde o primeiro episódio.

No final da 5a temp, os produtores é que pregaram uma baita pegadinha no público ao mostrar uma transa dos dois que não passava de uma alucinação do médico. Eles só vieram a se acertar mesmo no final da 6ª temp, e no decorrer do 7º ano, a gente percebeu que House e Cuddy juntos não era uma ideia tão boa assim. E foi justamente o relacionamento com a diretora do hospital, que prometia transformar o médico ranzinza, o responsável por enterrar a série de vez. 

House sempre foi um personagem complexo. Não gosta da felicidade alheia e por isso é fadado a viver sozinho e ser infeliz. Sua essência é a dor e como ela lhe transformou num viciado e idiota completo. Mas, nos últimos anos, vimos o Sherlock da medicina amolecer e até resistir e controlar o uso excessivo de Vicodin. A humanização do personagem através do amor parecia piegas mas até que funcionava porque ele nunca deixou de ser o canalha, inconsequente e mentiroso do início. É lógico que no fim os dois iam perceber que o House nunca ia mudar, mas o aguardado relacionamento não durou nem meia temporada, e o que mais doeu foi ver que dali em diante, com House voltando a ser estúpido e viciado, a série não tinha mais para onde ir.

É claro que, com tanto tempo no ar, é quase impossível para um programa conservar o seu elenco original. No quarto ano, Cameron, Chase e Foreman se desligaram da equipe para virarem coadjuvantes e integraram o novo time 13, Taub e Kutner. Naquela mesma temporada, Foreman voltaria para o time como supervisor de House. E mais tarde, em momentos distintos, se despediriam do elenco, a Dra. Cameron, Kutner e 13, e Chase voltaria a trabalhar para House. No último ano, com a saída de Lisa Endelstein, Foreman virou Cuddy e House renovou mais uma vez sua equipe. Mas no fundo os novos personagens eram apenas sombras de Cameron, Chase e Foreman, cumprindo exatamente o mesmo papel exercido pelos antigos assistentes: darem diagnósticos diferenciados e sacanear e serem sacaneados por House. 


No oitavo ano, a série já respirava com ajuda de aparelhos e foi um verdadeiro alívio para os fãs saber que ele seria o último. Um episódio negativamente marcante para mim nessa temporada foi quando o diagnóstico final foi Ascaridíase. Qualquer médico de quinta categoria já teria acertado o que o paciente tinha com muito mais rapidez ao passar um simples e rotineiro exame de fezes. Se os personagens já não tinham mais como se desenvolver, estava claro que nem os casos da semana eram mais interessantes. Mas, com o anúncio do final da série, os roteiristas parecem ter colocado a preguiça de lado a fim de dar um fim decente ao seriado.

Numa temporada em que tudo já parecia perdido, em seus últimos episódios foi introduzido o elemento que serviria de preparação e motivação para seu final: a iminente morte de Wilson, que havia sido diagnosticado com câncer e não queria passar seus últimos dias definhando como um de seus pacientes.

Incrivelmente, o final da temporada e da série conseguiu amarrar bem a pendência deixada no fim do 7º ano e início do 8º, em que House acabou preso, e não terminou como se os piores dias da série fossem em vão. A irresponsabilidade do médico, que tanto aprontara e havia atirou um carro contra a parede da ex-namorada e entupido o encanamento do hospital, faria seu melhor amigo pagar o preço, ao passar seus últimos dias sozinho, quando mais precisava da companhia. 

Mas esgotamento da fórmula de House era tanto que até os episódios que supostamente saíam da fórmula tinham fórmula. E nem o episódio final conseguiu fugir da mesma, uma vez que as alucinações de House ecoavam o final da 4ª temporada, com House no ônibus tentando descobrir quem era o passageiro desaparecido, ou o próprio desenvolvimento de toda a 5ª temp., com a mente de House tornando-se cada vez mais criativa e descontrolada.

A “fórmula para sair da fórmula” possibilitou o aparecimento de diversos personagens que um dia integraram o elenco principal da série. Kutner, Cameron, 13 e até Stacy (!) deram as caras em formato alucinógeno. (Só faltou a Dra. Cuddy, que não teve a mínima consideração de dar adeus ao seriado do qual fez parte por tanto tempo.) Esses personagens por sua vez colocavam House contra a parede e questionavam-no acerca de seu papel na medicina e se valia a pena continuar naquela vida tão repleta de dor (e agora sem Wilson), evocando algumas outras discussões filosóficas que permearam a série durante todos esses anos.

Sempre achei que o único final plausível em House seria a morte do médico, sacrificando-se por algum paciente. Assim, ele alcançaria sua redenção e mostraria que têm mais compaixão do que parece, ao mesmo tempo em que representaria um ponto final definitivo para o programa. Ou isso ou ele morrer de lúpus.


Mas acabou que, durante a cena do enterro, embora até desejasse esse final com a morte do doutor, não gostei dele. Porque essa era uma morte egoísta e covarde. E por mais egoísta que fosse, House, o anti-herói mais querido da TV, não merecia um final assim. E felizmente o destino apresentado foi indiscutivelmente digno. 

De certa forma, House “morreu”. Abdicou dos enigmas e da medicina para proporcionar os últimos momentos de felicidade ao único que esteve ao seu lado em todos os momentos.

E se a série foi baseada na dupla de detetives, nada mais justo do que focar os episódios finais na única relação de House que sobreviveu a todos esses anos: a de House com Wilson. Wilson com House. Holmes e Watson. A resolução do relacionamento dos dois lembra o destino do detetive em O Problema Final. (Vale lembrar que Swan Song, o especial que passou antes, dava todas as dicas do que estava por vir). A semelhança é tanta que o post de hoje poderia se chamar House goes Holmes. E se a relação dos dois sempre foi pautada pelas inúmeras pegadinhas, nada mais justo do que House terminar a série com a maior de todas: forjando a própria morte.

O que será de Wilson quando estiver muito doente? O que será de House quando Wilson já não estiver mais lá? O que será de nós, agora que House acabou? 

David Shore prefere não responder a essas perguntas e deixar no ar a esperança e a lição de Carpe Diem, tirada diretamente de Sociedade dos Poetas Mortos, ironicamente o papel de maior expressão de Robert Sean Leonard antes de encarnar Wilson (ri demais quando House faz a citação ainda no início do episódio).

Foi extremamente emocionante, aliás o especial exibido antes da series finale. Ver Hugh Laurie fazendo teste ainda sem os cabelos brancos, e a equipe se despedindo, mostrando cenas de episódios antológicos que me fizeram lembrar por que House conquistou tanta gente ao longo desses 8 anos. Porque apesar dos casos e dos enigmas, do “nunca é lúpus” (na verdade houve um caso só em que o diagnóstico era lúpus mesmo) e da punção lombar, House era uma série sobre pessoas (hehe), e era feita com muito cuidado e carinho. Tanto é que no último episódio os famosos “diagnósticos diferenciados” foram retratados apenas como “Blábláblá”, afinal, ninguém liga para eles mesmo.


Pode não ter sido o melhor final de todos. Mas está longe de ser o pior. Agridoce e coerente, o episódio honra toda a trajetória do seriado, encerrando-o com dignidade.

E depois de 2 semanas, já deu até pra sentir saudade de uma série que teve seus altos e baixos sim, mas, sem dúvida alguma, entra para o rol de maiores seriados de todos os tempos, por ter revolucionado seu gênero. E eu me sinto privilegiada de ter acompanhado isso tudo acontecer.


Obs.: O carinha que foi o paciente da semana na series finale é o piloto do avião que caiu na season finale de Grey's Anatomy!!!!! Onipresença nas finales!!!!
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