domingo, 30 de junho de 2013

CV e RP

Passei os últimos meses pensando pra caramba. Pensei tanto que deve ter saído até fumacinha da minha cabeça. Coloquei algumas coisas na balança, fiz algumas projeções para o futuro e para todas as perguntas que fiz a mim mesma obtive “Não” como resposta. Relutei um pouco para admitir, mas decidi que do jeito que está não dá pra ficar.

Por um tempo foi legal, mas não dá pra viver refém do seu trabalho. Como se fosse a teoria mauthusiana, a responsabilidade cresce em progressão geométrica ao passo que a remuneração em progressão aritmética. E mesmo que o fosse, existem coisas na vida que o dinheiro não compra.

Senti que era hora de me mexer, e então lá fui eu atualizar meu currículo. E tive uma grata surpresa até. Lembro que quando fui preencher meu primeiro CV, tive muita dificuldade, afinal, o que escrever, quando não se tem experiência? Sempre achei essa história toda um bando de papo furado. E nunca soube mentir, o que torna situação ainda mais incômoda.

Mas com dois anos de auditoria, percebi que nenhuma das qualidades ali mencionadas era mentira. Fiquei feliz em saber como tinha evoluído desde então. E como agora já não é qualquer anúncio que desperta minha curiosidade.


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Até que uma dessas headhunters me ligou outro dia. Fez aquelas perguntas naturais de o que você faz, onde você está, pra onde você quer ir. Pra começar é difícil pra caramba explicar o que eu faço. Quem não é do meio não faz ideia do que seja. Dali em diante me arrependi das respostas. Podia ter falado a mesma coisa de outro jeito. Estava meio nervosa, fui pega de surpresa, com medo de falar alto e alguém ouvir. Ouvi a mulher rir do outro lado. Logo me arrependi do que disse. 

Tinha esquecido como esse processo de entrevistas e "marketing pessoal" era idiota. Falar com gente que não faz a mínima ideia de quem você é e muitas vezes também não faz a mínima ideia do que é preciso saber para determinada posição. De como nessas horas o "parecer" é muito mais importante do que o "ser". De ter que responder a questões estúpidas envolvendo animais da floresta e ficar à mercê da subjetividade de quem quer que esteja do outro lado.

Percebi que, por mais que muitas coisas daquilo que os avaliadores gostem de ouvir sejam de fato verdade, ainda é preciso muita conversa na frente do espelho pra treinar a lábia e eventuais mentiras. Ou pelo menos verdades menos assustadoras.

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No meio disso tudo, eu comecei a ler Obrigado por Fumar (já comentei do filme aqui). E sim, o livro é tão legal quanto o filme. Um pouco diferente também. O livro foca um pouco mais nos próprios personagens, na história do cigarro e acaba com um final um pouco moralista, até. O filme é muito mais sobre a capacidade de manipular a verdade e o poder de convencimento de um discurso bem feito do que sobre a indústria tabagista em si.

Acontece que, diante desse meu dilema, passei a prestar atenção nas técnicas que ele usava para defender a indústria do cigarro. E se ele consegue convencer as pessoas de que o cigarro não faz mal à saúde, com um pouquinho de convicção e cara de pau, é possível dobrar qualquer um em qualquer assunto.

Representante do tabaco que abraça crianças com câncer. Nick é desses.

Quer dizer, a propaganda é a alma do negócio. Quantas vezes você já não comprou alguma coisa no trem/ônibus só pelo carisma do vendedor? Esses caras são marketeiros populares. E dos bons! Porque o cara tem que ser muito bom pra discorrer as mil e uma utilidades da "caneta calendário". Não sei o que eles estão fazendo nos trens, sinceramente, quando deviam era estar dando cursos pra gerentes de multinacionais que não sabem nada sobre vendas.

E a bem da verdade é que todo executivo faz um cursinho desses com Nick Nalylor ou com um camelô de sucesso. Porque ao mesmo tempo em que o candidato floreia suas qualidades, quem contrata também enfeita ou esconde os defeitos do empregador para tornar aquela oportunidade mais apetitosa.

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E no meio disso tudo, tive uma dessas conversas sérias de feedback, conselhos, futuro com uma pessoa que eu admiro à beça. E enquanto ela falava, eu ria comigo mesma porque só corroborava aquilo que eu já tinha sacado algumas semanas antes, por causa do incidente mencionado ainda há pouco.

O conflito incoerente sobre o “ser” e o “parecer”. A sinceridade que em 99% das vezes é vista como qualidade, mas pode ser um empecilho nos outros 1%. A falta de jeito para fazer propaganda de si mesmo. A inabilidade de “fazer social” com gente que não tem nada a ver comigo.

Porque a bem da verdade eu nunca precisei dessa palhaçada toda. E não me fez falta. Porque sou o tipo de pessoa que os atos falam mais do que a boca. E quem me conhece sabe de tudo isso.

O problema é fazer com que as pessoas certas, que ainda não me conheçam, saibam também.

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Preciso de profissional de RP experiente em ensino de lábia e atenuações da verdade.Favor mandar CV para inutil@nostalgia.com.br 
Obrigada!

Taí, acho que vou contratar o Luke!

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