segunda-feira, 30 de junho de 2014

A fórmula do amor - Pt 2

Pt 2

O início do meio

No episódio anterior, entendemos um pouco como John Green é cria da internet, porque demorou tanto para aterrissar (ou seria alçar voo?) no Brasil, e como é difícil encontrar livros com personagens que gostem de matemática, que dirá um em que a matemática seja assunto principal.

E quando eu procurei Katherine pela primeira vez, essa era a minha expectativa quanto ao livro. Uma história que se desenvolvesse em função (ha!) da matemática. Acontece que eu estava muito enganada. O Teorema Katherine é sim, sobre um garoto que quer descobrir a fórmula do amor. Mas, acima de tudo, é uma história sobre contar histórias.

Porque, como comentei no post anterior, escritores escrevem sobre o que conhecem. E é impossível dissociar Colin da própria personalidade de John Green, que pode até ser escritor, mas é um apaixonado pelo conhecimento, acima de tudo. Daí as curiosidades ao longo de todo o livro, as frequentes notas de rodapé e a subtrama que quando chega no final é de arrepiar. 

Embora Colin seja um gênio querendo criar um teorema matemático, sua real paixão são as palavras. O menino faz anagramas com a mesma frequência que os movimentos de sua respiração (três vivas para a tia Renata, que traduziu esse livro dificílimo) e fala 10 idiomas fluentemente.

Mas é na personagem de Lindsey que John Green entrega sem nem disfarçar sobre o que realmente importa e dá uma verdadeira aula de narrativas. A menina do interior ensina a Colin o be-a-bá da contação de histórias e fala com todas as letras todos os elementos que uma boa deve ter. Além disso, a própria estrutura do livro, com flashbacks fora de ordem dos namoros com as outras Katherines* reforça a teoria de que a matemática é só uma pequena parte disso e que a alma do livro está é nas palavras.
* A busca de Colin pelo que deu errado em seus namoros anteriores faz de Teorema Katherine uma espécie de Alta Fidelidade para adolescentes, e com matemática, ao invés de música. 

E é uma satisfação enorme quando no final, as duas tramas (a dos números e a das letras) acabam por se completar, e Colin entende o sentido das duas e a solução de seus problemas (com trocadilho, por favor).

O fim do meio

Antes de Katherine, se eu tivesse que usar uma palavra para descrever John Green, essa palavra seria... cool. E atribuía seu sucesso muito mais à base internética que tinha conseguido montar. E isso explica sim o imenso fascínio que ele tem junto ao público adolescente.

Mas é a sua sensibilidade latente que faz com que seus livros também sejam tão bem aceitos junto ao pessoal que já passou dessa faixa etária há algum (ou há muito) tempo. Uma vez vi um vídeo do próprio dizendo que não escrevia “PARA adolescentes inteligentes”, mas “SOBRE adolescentes inteligentes”. Talvez aí esteja o seu segredo também.

John Green foge dos arquétipos tão comuns do universo high school e enxerga as pessoas por trás dos óculos ou dos pom-pons das líderes de torcida, tornando a identificação universal. Ele entende como poucos as angústias da idade, e as desenvolve sem melindres, ou nenhum tipo de condescendência, como bem fazia um certo John que fez muito sucesso na década de 80. Um tal de John Hughes.


E já que falamos de filmes, Teorema Katherine daria um ótimo longa-metragem (acho que já compraram os direitos do livro, até). A história tem uma estrutura que lembra os road movies, com os dois amigos saindo de casa em busca do desconhecido, e voltando com uma inesperada experiência de auto-conhecimento depois da estadia na pequena cidade do interior.

Seus personagens são adoráveis e cada um enfrenta seus próprios dilemas ao longo do livro. O senso de humor de Hassan é incrível e o gordinho é exatamente aquele melhor amigo que todo mundo precisa (que está lá nos momentos mais difíceis, mas não deixa de falar as verdades quando necessário). Lindsey, por sua vez, sofre com o dilema de não querer ser mais do que pode, além de querer ser aquilo que não é. E o Colin, por mais irritante que fosse por muitas vezes, era extremamente parecido...comigo. Não a parte de ser prodígio, mas praticamente todo o resto. A cobrança excessiva, a fome de conhecimento, o medo de errar, a dificuldade em se comunicar, a capacidade de fazer mil associações por minuto...

Mas, se tem uma angústia que aproxima os três protagonistas é a dificuldade em descobrir não a si mesmo, como também o seu lugar no mundo. Preocupação essa que talvez seja a maior na cabeça de 10 entre 10 adolescentes. E que volta e meia ainda rodeia nossa mente, mesmo depois de passados os anos terminados em "teen".

O fim

Ao longo do livro, em meio a fragmentos dos antigos namoros de Colin, Lindsey mostra ao menino prodígio a fórmula para contar uma boa história. Início, Meio, Fim, Romance, Aventura, Suspense e uma Lição no Final.

E vou te dizer: QUE FINAL!

John Green junta todas as subtramas que vinha construindo até ali e nosso gênio ordena presente, passado e futuro num final catártico que coloca as entrevistas com os moradores de Gutshot, os flashbacks do próprio livro e suas próprias memória e jornada em perspectiva. Arrebentou, apenas.

Como Lindsey bem ensinou, para aqueles que estão sentindo a pressão das altas expectativas, o livro deixa uma lição legal sobre ser você mesmo e não se preocupar tanto porque O FUTURO É IMPREVISÍVEL e a sua história é você quem faz.

Parafraseando outra personagem que gosta de matemática: 
O limite não existe.

Como eu disse, esse não é um livro sobre matemática. É sobre contar histórias. E Katherines é uma das boas. Dessas que nenhuma fórmula consegue descrever.
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segunda-feira, 23 de junho de 2014

A fórmula do amor - Pt 1

Pt 1 – O início

Muito antes de ficar hiper-super-ultra-mega-blaster-famoso por A Culpa é das Estrelas, eu já era fã do John Green. Não, nunca tinha nem lido nada dele, pecado esse que só fui reparar recentemente com Katherine. Mas apaixonei-me por sua persona praticamente à primeira vista. Acho que o ano era 2008 (ou seria 2009?), as pessoas ainda usavam MSN, o Orkut ainda bombava, o Twitter não existia, e nossas vidas ainda não tinham sido dominadas pelo smartphone. Foi nessa época que eu descobri John Green, totalmente por acaso.

Num tempo em que podia me dar ao luxo de fuçar a internet até enjoar, um dia eu estava no teenreads olhando a lista dos livros recomendados e Katherines me chamou atenção pela capa cheia de símbolos matemáticos e sua sinopse que prometia:

Após seu mais recente e traumático pé na bunda - o décimo nono de sua ainda jovem vida, todos perpetrados por namoradas de nome Katherine - Colin Singleton resolve cair na estrada. Dirigindo o Rabecão de Satã, com seu caderninho de anotações no bolso e o melhor amigo no carona, o ex-criança prodígio, viciado em anagramas e PhD em levar o fora, descobre sua verdadeira missão: elaborar e comprovar o Teorema Fundamental da Previsibilidade das Katherines, que tornará possível antever, através da linguagem universal da matemática, o desfecho de qualquer relacionamento antes mesmo que as duas pessoas se conheçam.

Quer dizer, um livro sobre um garoto que quer encontrar a tão famosa fórmula do amor do Leoni tinha que ser legal. E mesmo se não fosse, pelo menos seria uma experiência diferente nesse mar de histórias sobre escritores. Porque se escritores escrevem sobre o que conhecem, nada mais justo que eles criem personagens jornalistas, romancistas, roteiristas, etc. Só que geralmente escritores são escritores justamente porque odeiam os números. Daí é muito, muito, muito difícil você encontrar um personagem que goste de matemática.

Vamos + Fazer = Amor + a 2 
A verdadeira fórmula do amor também conhecida como Relação de Euler.
Quem lembra da aula dessa aula do Welerson?

Mas, enfim, voltando ao meu primeiro encontro com John Green. Daí, como eu estava com tempo livre, entrei no blog do John Green e descobri que ele era um cara muito, muito, muito legal! Tipo, ele tinha um movimento chamado Nerdfighters que mobilizava os adolescentes a serem pessoas mais legais, e um vlog junto com o irmão no qual postava vídeos bacanérrimos comentando sobre tudo (com opiniões muito inteligentes, ainda por cima), e indicava bandas de Wizard Rock, e pedia as namoradas dos fãs em casamento, e não penteava o cabelo e fazia músicas tipo I’m not Edward Cullen no auge da era crepusculete (na verdade quem fez a música foi o irmão dele, mas tudo bem. Aliás, as músicas do Hank são muuuuuuiito boas!)... Enfim, não tinha como não amar.

(Depois teve várias outras coisas legais que eles fizeram também tipo o canal pra ensinar História, e assinar todas as cópias vendidas no pré-venda de...acho que era Paper Towns, o livro, e incentivar ajudar as pessoas que mais precisam, etc)

Outra fórmula do amor

John Green ganha a vida com os livros, mas suas principais conquistas estão na vanguarda da internet. Seja fazendo vídeos, lançando tendências, interagindo com o público, discutindo ideias e... a parte mais legal: fazendo do mundo um lugar melhor.

Sabe aquele professor que é super amigo da turma e faz coisas diferentes toda aula e todo mundo quer assistir a aula dele? Acho que é mais ou menos esse o sentimento entre John Green e seu público.


Acontece que, mesmo o cara fazendo um sucesso estrondoso lá fora, demorou muito para as editoras brasileiras acordarem e trazerem suas obras para cá. (Meu palpite é que A Culpa é da Saga Crepúsculo, como tudo de ruim que aconteceu no mercado literário na época. Ah, sim. Isso e as famigeradas parcerias). Só no final de 2010 é que a Martins Fontes foi lançar Looking for Alaska sob o título de Quem é você, Alasca?, cheia de medo de não dar certo.

Embora tenha sido o livro mais premiado do escritor, talvez realmente não tenha sido a melhor opção para apresentá-lo ao público brasileiro (tanto é que a temática sombria – e digo “sombria”, como característica de alma, e não aludindo ao gênero do terror – não me atraiu também), e então só em 2013 uma editoria tupiniquim voltou a acreditar no autor e a Intrínseca lançou A Culpa é das Estrelas (ACEDE, pros íntimos), com toda a pompa e circunstância que John Green merece.

E aí a internet EXPLODIU! A nerdfighteria fez a sua parte e promoveu John Green até ele ficar umas 10 semanas em primeiro lugar nos mais vendidos, desbancando 50 tons de Cinza e recuperando a fé na humanidade.


Só que A Culpa é das Estrelas também não era o livro que eu queria ler do John Green. Meu coração pertencia à Katherine (que por sinal, é o nome da esposa do Hank, irmão do John). E agora que o autor estava dominando a lista dos bestsellers, foi questão de tempo até eu encontrá-la nas nossas prateleiras para fazer reparação histórica na minha linha do tempo literária. E se você já leu Katherine, sabe que o que eu acabei de falar tem tudo a ver com livro.
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