segunda-feira, 30 de março de 2015

Cinderella só na sapatilha, ô-ô

Na história da Cinderella, ao sair correndo à meia-noite para não perder a carruagem antes de virar abóbora, a gata borralheira deixa pra trás o salvador sapatinho de cristal. Então, o príncipe (desnaturado, diga-se de passagem) vai de porta em porta a todas as casas do reino a fim de encontrar a dona do pé que se encaixaria perfeitamente no sapato.

Alguns contos de fada são de difícil adaptação para os dias de hoje. O da Cinderella não. Tanto é que tem a fatídica piada da Cinderella que teve a abóbora transformada em O.B. que não me deixa mentir.

A carruagem saída à meia-noite obviamente seria o último horário do metrô (porque a Cinderella é pobre e não tem dinheiro pra bancar as 100 pratas do táxi vindo da Zona Sul ou da Barra). E o sapatinho de cristal seria facilmente substituído por um par de sapatilhas.


Porque vou te contar, Cinderella é uma mulher forte pra aguentar a noite inteira num sapato de vidro. Imagina a dor no pé! Não me admira que tenha deixado um pé pra trás. Ela já não devia estar aguentando mais aquilo machucando o calcanhar, isso sim! Com certeza tinha levado um chinelo na bolsa pra trocar no fim da noite.

Mas, igualmente forte é a mulher trabalhadora que, pra aguentar a batalha do dia-a-dia (by Gordo do Trem), sacrifica os pés nas aparentemente confortáveis e inofensivas sapatilhas da morte.

Numa sapataria são inúmeros os modelos e nos mais variados preços para caber em todos os bolsos. Difícil mesmo é arrumar algum que preste.

Até bem pouco tempo atrás, meus únicos pares de sapatos eram tênis. Porque são confortáveis, dá pra andar o dia todo e não extrapolam o pé. Mas, por causa do trabalho, passei a usar sapatilha. Porque eu também sou pobre Cinderella que anda de trem, venho em pé, às vezes subo escada o dia todo e não posso estrupiar minha coluna e meus membros inferiores no salto.

Acabou que eu gostei das sapatilhas e tenho algumas até para os dias de lazer agora. São práticas de calçar, não precisa amarrar, é só colocar no pé e pronto. O que não quer dizer que seja fácil de comprar.

Se ela não fica apertada, fica muito larga e então são impossíveis de andar, porque ficam saindo do pé. Às vezes apertam na frente, às vezes friccionam todo o calcanhar até deixar em carne viva, às vezes machucam se ficar muito tempo parado. Às vezes tem alguma costura mal-feita, maldita e mal colocada que incomoda a vida. 

E esse tipo de coisa é praticamente impossível de identificar na sapataria. Por mais que a gente ande de um lado pro outro na loja, só depois que começa a usar mesmo é que as safadilhas se revelam. Aí o jeito e apelar para o dispositivo auto-colante de primeiros socorros que salva vidas: o esparadrapo.

E aí quando você encontra uma que serve direitinho e não machuca, começa a usá-la direto, e então, a desgraçada só dura uns três meses. Tinha uma assim que já estava no osso. Mas continuei usando a coitada, mesmo estando totalmente acabada, até encontrar uma substituta.

Assumindo que o sapato de cristal da Cinderella era mágico e, mesmo feito de vidro, não machucava, fico aqui imaginando a felicidade da gata borralheira em encontrar novamente o sapatinho quando o príncipe chega à sua porta. Talvez tenha ficado mais feliz em achar o sapato do que em ver o próprio príncipe. Quer dizer, um carinha rico, legal, que dança bem e esquece do nosso rosto a gente até encontra de novo. Agora, um sapato mágico que dá pra dançar a noite toda e não machuca o pé: isso aí sim é um item em falta no mercado.

PS. Aproveitando a oportunidade, deixo aqui o meu manifesto contra o desperdício de piadas prontas incentivado por Paula Pimenta em seu conto da Cinderella na coletânea lançada pela Record há um tempo. Quer dizer, eu podia apostar um saco de pão de queijo que a mineira iria dar aquela piscadela esperta para o leitor ao incluir alguma história com a dificuldade em lidar com horário de verão. Aqueles que leram FMF me entenderão. Aliás, outro desapontamento está em fazer um conto sobre uma princesa ligada à música e não citar na trilha sonora (sempre tão presente nos livros da autora) esse crássico do pagode nacional. 


Tá legal, essa do pagode é brincadeira, mas o negócio do horário de verão eu senti falta mesmo

PS2. E já que estamos falando do livro da Record, vale a observação de que, dos 4 contos adaptados, quase todos praticamente todos os príncipes viraram celebridades. Seriam elas a realeza do mundo atual? Pensem nisso.
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segunda-feira, 16 de março de 2015

O mistério do emoji desaparecido

Não era um dia como outro qualquer. Era aniversário de Zezinho e Walesca queria andar uma mensagem felicitando o amigo. Pegou o smartphone e digitou os parabéns no grupo XYWZ, um acrônimo do nome dos seus quatro integrantes (Xande, Yara, Walesca e Zezinho).

Hoje é o dia do Zezinho!!! Ele que sempre manda vídeos engraçados no meio do dia, passa correntes das mais variadas, não deixa de compartilhar todos os memes que viu no Facebook, mas não contamina o grupo com boatos duvidosos de políticos, nem com pornografia. Zezinho, você é mais do que um amigo. É um irmão. Que Deus possa iluminar todos os seus caminhos e que você tenha muita saúde e muito sucesso porque você merece! Muitas felicidades!!!!

Walesca apertou o botão de enviar e, como de costume, procurou emojis de aniversário para ilustrar a mensagem.

Postou várias cornetas com confetes, balões, bolos com velinhas, coraçõezinhos... Até se dar conta do desaparecimento de seu emoji preferido de aniversário: o emoji da língua de sogra.

Sem ele, as mensagens parabenizando Zezinho não tinham o mesmo impacto. Logo o Zezinho, um membro tão participativo do grupo! Ele não merecia tamanha desilusão. Como pode o emoji estar lá num dia e no outro sumir assim, sem nem dizer adeus?

Por que o Whatsapp se preocupava tanto em colocar os ticks azuis indicando a leitura das mensagens que só incentivavam as brigas nos relacionamentos? Pra quê ele fazia tanta questão de melhorar os recursos de mensagem de voz? Se ela quisesse falar com o Zezinho, ligava pra ele, oras!

O que Walesca queria mesmo era expressar toda a sua felicidade com o aniversário do amigo. E isso só aquele emoji alegre, cheio de vida, soprando sua inocente língua de sogra poderia fazer!

Walesca ainda procurou nas outras abas de emojis para se certificar de que ela não estava ficando maluca ou que o emoji tinha ido parar naquela parte das setas que ninguém usa (nessa hora ela ficou com ainda mais raiva de todos aqueles sinais sem graça que pareciam ter saído das AutoFormas do Word), mas foi em vão. O emoji da língua de sogra havia sumido de verdade. De vez. Pra sempre.

Teve então a idéia de fazer uma pesquisa para saber se o emoji festeiro havia sumido apenas de sua paleta de carinhas. Postou em outro grupo onde só ouviu risadas. Perguntou no Twitter, mas ninguém lhe deu atenção. No Facebook então, nenhuma curtida durante todo o dia, até que recebeu uma notificação de resposta. Walesca se ergueu num pulo, cheia de esperança. Infelizmente nada que ajudasse. Apenas um reaça dizendo que a culpa era do PT.

Walesca não teve outra escolha a não ser acionar a polícia. Foi à delegacia registrar o B.O. Ficou tão agradecida com a dignidade do tratamento recebido que pediu para tirar uma foto com o policial. Não sabe por que, ficou com a sensação de já conhecê-lo de algum lugar. Postou no XYWZ. 

Gente, vocês conhecem esse cara de algum lugar?

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terça-feira, 10 de março de 2015

25, 15 e 10

E eis que nos últimos dias se passaram duas datas de grande importância.

No dia 28/02 fez exatamente 10 anos da minha primeira aula do Cefet. Enquanto alguns dias depois, completei 25 anos de vida.

E aí é impossível não fazer a comparação sobre a visão de mundo que tinha aquela menina prestes a completar 15 anos que começava a tomar conta do próprio destino e descobrir quem ela era com a de 25 que, por mais que ainda carregue muito da menina de 15, já não tem os mesmos medos de 10 anos atrás e adquiriu outras preocupações.

Acho que não preciso falar muito sobre o quanto o Cefet significou na minha vida porque é assunto recorrente por aqui e vocês já estão carecas de saber. Foram os 4 anos mais incríveis que eu já vivenciei, com as pessoas mais legais que poderia conhecer. As pessoas de um modo geral têm uma relação de amor e ódio com a própria adolescência.

As que olham para essa época com uma boa dose de nostalgia, se lembram de um tempo em que as únicas preocupações eram se a Flavinha tinha ficado com o Beto ou passar na prova de matemática. As que não suportam só lembram das intrigas, das fofocas e de se sentir deslocado num mundo que parece não te entender.

Acho que é bem óbvio que faço parte do primeiro grupo. Mas tenho certeza que não seria a mesma coisa se o Cefet não entrado no meu caminho.

Porque eu vejo muita gente falando com nostalgia desses anos dourados. Mas...ainda assim, o carinho que os ex-cefetianos nutrem pela instituição e por esse tempo é diferente. É especial. E é unanimidade. Não tem uma viva alma que saia do Cefet sem se sentir totalmente transformado, ou com a sensação de que foram os melhores anos da sua vida.

Tem gente que diz que a adolescência começa aos 13, 12, alguns dizem começar até com 10 anos (acho exagero). E nessa época me lembro que detestava o rótulo etário.

Aos 15 eu começava a aceitar o fato de que ser adolescente não precisava ser uma fase ruim como muita gente fazia acreditar. E bom, acho que a mesma sensação sobre a vida adulta parece ter chegado agora aos 25. 

Durante os primeiros anos da casa dos 20, as dúvidas sobre o que você quer ser, ou se você vai conseguir ainda são latentes. E assim como os primeiros anos da fase em que a gente passa a ter 2 dígitos na idade, outro sentimento que toma conta é o da negação.

Daí, pelo menos no meu caso, veio uma fase de adolescência tardia em que fica rebelde, e não quer ouvir conselhos e tenta descobrir quem você é, até finalmente chegar à fase de querer aproveitar cada minuto porque sente que a vida está passando muito rápido e ficar parado não vai ajudar em nada.

Mas aos 25 a gente finalmente entende que crescer não é uma escolha. A gente simplesmente tem que aceitar isso. O que não quer dizer que seja necessariamente ruim. É claro que o tempo passa a ser um recurso cada vez mais escasso e marcar de ver as pessoas que você gosta fica ainda mais difícil. Mas tem um monte de outras coisas legais sobre ser adulto também, como poder dirigir (não que eu tenha tido algum sucesso nessa parte), juntar dinheiro para viajar, ou ir naquele show daquele artista que você adora, e sem ter que pedir permissão para ninguém.

Aos 25 você sente vontade de viajar o mundo todo e visitar todos os lugares. E de repente a sua própria casa e a cidade em que viveu desde criança ficaram pequenas demais pra você.

Aos 25 a vontade de ter o seu próprio canto ultrapassa a comodidade de ficar na casa dos pais. E você começa a pensar seriamente que está na hora de abandonar o ninho. E descobre que sair de casa não é tão fácil quanto parece porque os aluguéis estão caríssimos e vão consumir todo o seu salário do mês. Daí surge a necessidade de começar a pensar na vida a pelo menos a médio prazo, se inteirar dos melhores investimentos e traçar novas metas até os 30 anos.

Aos 25, você começa a ser convidado para um monte de casamentos. E alguns dos seus amigos já têm filhos. E você percebe que está muito longe de realizar qualquer uma dessas coisas. E de repente você também passa a ser a pessoa de referência para aquele seu estagiário de 19 anos (e pensa que TEM MUITO TEMPO que você não tem 19 anos!).

Aos 25 você ainda é mais parecido com o adolescente de 15 que conheceu os melhores amigos há 10 anos do que imaginava. O que na verdade é uma coisa boa, porque isso significa que (i) você não foi um adolescente tão babaca quanto podia ser (ou talvez você continue a ser tão babaca quanto era, vai saber) e (ii) você ainda está transbordando jovialidade apesar das porradas da vida. 

Aos 25 você ouve o Continuum do John Mayer e se identifica totalmente com as letras, e pensa como você pôde ser tão idiota de ter achado essa pérola do pop entediante aos 16. E se pega chorando em filmes com muito mais freqüência do que antigamente. E você se pega chorando de verdade em diversas outras situações com muito mais frequência do que antigamente. Porque tudo começa fazer mais sentido e o sentimento de empatia pelos problemas dos outros só aumenta.

Aos 25 a gente vai ficando um pouco mais amargo, um pouco menos paciente e ao mesmo tempo um pouco mais complacente. Prefere não brigar, mesmo que tenha razão, só pra evitar a fadiga, mas se pega bufando com a incompetência alheia muito mais vezes.

Mas acho que a principal mudança em se ter 25 anos é saber o significado da dor. A dor da saudade que bate quando lembra das pessoas queridas que nem sempre dá pra encontrar, a dor da responsabilidade que cai sobre os ombros, a dor que é entender o sentimento de perda, a dor de andar 3 horas no sol e não conseguir descer as escadas no dia seguinte (rs!).

Mas aos 25 a gente começa a superá-la mais rápido, e sabe que tudo vai ficar bem no final, afinal de contas, já passou por isso algumas vezes.

Aos 25 a gente aprende meio na marra que, não importa que os filmes que você assistiu digam o contrário, a verdade é que não se pode ter tudo. Fazer escolhas não é uma opção. É uma necessidade. Por mais paradoxal que isso seja. Mas, não necessariamente isso é uma coisa ruim. Afinal de contas são as nossas escolhas que determinam quem somos. E aos 25, depois de fazer algumas escolhas decisivas, encara-las já não é tão assustador quanto há algum tempo atrás. Na verdade, elas mostram que a gente é que está no poder. E isso é muito bom. 

Aos 25 você tem a sensação de que o mundo é muito grande, e a vida é muito curta e que o tempo está passando rápido demais. E acha um desperdício ficar em casa vendo Faustão no domingo. O que, vamos combinar, é uma bela de uma mudança de perspectiva.


Aos 25 você entende por que 10 entre 10 fãs do John Mayer têm essa música como preferida 
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