terça-feira, 27 de outubro de 2015

17 outra vez (ou não)

Tem 6 anos desde que Meg lançou o último Diário da Princesa. Na época ela não prometeu nada, disse que a série tinha acabado, mas todo mundo sabia que, mais cedo ou mais tarde, a gente IA TER um livro contando sobre o casamento da princesa que cresceu com toda uma geração. E depois que do Príncipe William casou, então, um livro do casamento não era só mais um desejo dos fãs. Era uma necessidade. Porque o Diário tem essa característica de acompanhar as notícias e não deixar as situações passarem em branco. Tanto é que o que encorpou mesmo o livro, foi a descoberta da irmã perdida de Mia, que a princípio eu odiei - Pra que mexer na origem das coisas? Pra quê? Pra quê????? -, mas que, depois que descobri da onde a Meg tinha tirado essa ideia, tive que dar o braço a torcer. A vida já tinha imitado a arte uma vez e essa era uma história muito boa pra não ser aproveitada. Não sei se eu não faria também. (E depois que eu fui vendo que a abordagem da nova personagem ia ser totalmente diferente e que a série de Olivia Grace podia ser uma boa desculpa pra gente ter um pouquinho mais de Mia e seus amigos, resolvi dar um voto de confiança, porque é da Meg que a gente está falando, né?)

Lembro bem do dia em que anunciaram o novo Diário, com o casamento, e a nova série com a irmã da Mia. Eu estava em um cliente lá na Barra, em uma época da minha vida em que estava dando tudo errado, eu peguei o celular na hora do almoço e... PIREI!!!!!! Ganhei meu dia, meu mês, meu ano ali naquela mesa de restaurante. E desde então venho acompanhando todas as notícias do lançamento do livro como se tivesse 15 anos outra vez. Especulações sobre a capa, as sinopses, as primeiras páginas, as entrevistas que Meg dava, o book trailer (SENSACIONAL!!!!) e outros materiais extras que ela soltava na internet... Não me empolgava assim com um livro tinha muito, muito tempo. A animação era tanta que nem os "spoilers" de coisas que eu não achava tão legais me desanimavam. A oportunidade de re-encontrar mais uma vez com os personagens que viraram amigos ao longo da adolescência era mais forte do que o pessimismo do medo da mudança de um final que tinha sido absolutamente impecável há 6 anos. É claro que eu tive que comprar o livro em inglês. Não ia aguentar até o livro sair traduzido. A ansiedade era tanta que o livro ia sair em junho lá fora, mas eu comprei no pré-venda EM FEVEREIRO!!!!!

Aquele momento em que você chega em casa e tem um pacote da Saraiva te esperando

Achei que tamanha empolgação fosse suficiente para me fazer aceitar que aqueles personagens agora eram tão adultos quanto eu (ou um pouco mais). Não foi. Nem os nerdismos da série Coisas que só a Elisa nota, como o fato de que a Meg colocou de novo uma frase com "mentira" nas primeiras linhas do livro, como ela sempre faz nos volumes que são marcantes para a série, a exemplo do que ela já tinha feito em DP1 e DP10. Ou o fato de que a frase da Princesinha, ali nos prefácios, já tinha sido usada em DP6, há muito tempo atrás.

ADORO RIMAS NARRATIVAS!!!!

A verdade é que, por mais que eu já tivesse lido o primeiro capítulo, e as sinopses e tal, eu não estava preparada para vê-los "crescidos" e maduros, fazendo piadas sujas, nesse mundo cada vez mais maluco em que a gente vive. Talvez por isso tenha achado o início um pouco...esquisito.

Pela primeira vez na vida, eu que sempre a defendi, achei a Mia chata. Achei que ela estava reclamando demais pra alguém que já está nessa há mais de 10 anos. Quer dizer, paparazzi e repórteres e boatos nas páginas da internet (porque revista é coisa do passado) já são coisas que ela devia estar acostumada! Sem contar que o que eu mais gostava na Mia era que ela era uma menina NORMAL! A parte de ser princesa era só uma pequena parte disso. E ali no início, era tudo o que se falava. Estava difícil a identificação.

E depois também tive a impressão de que o mundo está um lugar muito mais cinza e chato de se viver, com esse negócio de câmeras pra todo lado, e o politicamente correto tomando conta, e o excesso de problematização das coisas, e haters, etc. Fora a chatice que é que na vida adulta você simplesmente não pode encontrar seus amigos sempre, e tem que se contentar com FaceTimes, e Whatsapps da vida.

Eu não precisava do Diário da Princesa, dentre todos os outros livros, pra me lembrar disso.

Mas, olhando de maneira mais fria, O Diário da Princesa sempre foi e sempre será, a série mais auto-biográfica da Meg. E talvez esse início tenha sido um desabafo da escritora, que tirou um tempo de folga, porque estava meio de saco cheio. Mas depois percebeu que não dava pra parar. E chegou a conclusão de que ela tinha muito mais coisas pra agradecer, do que pra reclamar. E então que no tempo de folga dela, ela foi lá e escreveu 3 livros (Te amo, Meg!).

E daí que aquilo que lá no dia que saiu a notícia de um novo livro da série me deixou mais receosa, foi o que colocou as coisas nos eixos e desencadeou as partes que eu mais gostei no livro todo. A descoberta da irmã há muito perdida trouxe de volta aquela Mia que mete os pés pelas mãos pra consertar tudo no final, que faz a coisa certa a qualquer custo, e que coloca os outros acima de si mesma não importam as consequências... Além de trazer Tina e Lilly para mais perto do que mensagens no Whatsapp, e uma nostalgia cintilante dos livros anteriores com força total. (Era ISSO que eu queria num eventual DP11!!!!)

Mas, principalmente, a entrada de Olivia Grace na história me fez ver o quanto a Mia cresceu. E deu o maior orgulho de ver a minha personagem favorita dando conselhos para a irmã mais nova. E aí aquela identificação que estava faltando ali no início chegou com tudo, porque eu percebi que, não adianta, EU TAMBÉM tinha crescido pra caramba nesses 6 anos. Foi difícil, foi doído e foi esquisito à beça, mas a verdade é que não dá pra negar que isso aconteceu.

Então, em determinado momento, a Mia soltou a seguinte frase: "Eu ainda não sei o que eu vou ser quando crescer". E nessa hora o tiro foi certeiro! Eu, que já estava balançada de ver a minha Mia do coração, sendo madura e centrada, e mostrando que agora não era mais a aconselhada, mas dava os conselhos (como tem acontecido também na minha vida um pouco), fui nocauteada de vez. Nesse momento o livro me ganhou de corpo e alma, e tudo o que veio antes passou a fazer sentido também. Não importa o quão adulto você seja, e o quão estranho e malvado seja o mundo, você sempre terá um coração adolescente batendo forte lá dentro, junto dos amigos que você conquistou durante essa fase super maluca que todo mundo tenta rotular. E isso é o que torna os dias insuportáveis, como aquele em que eu descobri que ia sair o novo volume da série, muito mais legais.

Além da Olivia, havia algumas outras especulações que eu achei que não fosse gostar.* Mas no final, acabei achando... certas, sabe? ** Quando eu olho para o meu EU de 6 anos atrás, eu também não fazia a mínima ideia do que o futuro me reservava. E acabou que saiu tudo diferente dos planos que eu fiz. E acho que está sendo até melhor do que aquilo que eu tinha planejado. Às vezes é bom quando a gente joga o mapa fora e começa a ditar os passos da própria vida.
* [SPOILER] Como Mia e Michael NÃO FUGIREM para casar, como o pai da Mia renunciar, como eles todos irem se mudar para Genovia, ou como a Mia não ter dado continuidade a sua carreira como escritora...
** Não ia ser realista os dois fugirem pra casar mesmo (além de repetitivo), e o pai da Mia tinha que largar o osso da política em algum momento, e NY já estava um saco de se viver, e não é como se a Mia não estivesse ajudando as pessoas, como ela sempre quis fazer... [/SPOILER] 

Ah, sim, ao fim do livro, eu fiquei muito orgulhosa de ver meus personagens favoritos crescidos e adultos, mas ainda exatamente do jeito que a gente se lembrava deles. Assim como nós leitores, eles estão por aí, fazendo a diferença no mundo, tentando fazer dele um lugar melhor.

Adorei reencontrar Tina (só amor), Lilly (hilária e quase uma Chloe de Smallville, nesse livro), Grandmére (ótima como sempre!), Lars e principalmente o Boris (sensacional ele ser um cantor pop-mela-cueca, com fãs enlouquecidas, estilo Beliebers. YES! YES! YES! Boaaaaa, Meg!) novamente. Ah, sim, claro! Adorei suspirar um pouco mais pelo Michael. Nosso mocinho favorito está bem safadeeeenho, mas nunca menos apaixonante. Adoro seu senso de humor, e como ele mergulha de cabeça em nas histórias amalucadas da família dela, e a apoia em tudo, sem se abalar com nada. Fora aquele romantismo superprático que é a cara dele. (Só achei o pedido um pouco óbvio. Por mais perfeito que tenha sido, você sabe fazer melhor do que isso, Michael! Cadê a criatividade, homem?)

Como já havia mencionado, DP tem a atualidade em seu DNA e deu muito orgulho ver Meg mandando ver na trama dos refugiados que ecoavam as notícias do jornal. Dei gargalhadas com as críticas à "modinha" das histórias envolvendo futuros distópicos (É pra ISSO que eu queria um outro livro!!!!) e adorei a brincadeirinha velada com o incidente do topless da Kate Middleton também (Way to Go, Diário!). Pois é, o senso de humor da série continua afiadíssimo. E a capacidade de Dona Meg escrever histórias amarradinhas que deixam a gente com aquela sensação de bem estar ao fim do livro também.
* Ok, que tia Meg ficou devendo uma piadinha com a música da Lorde, mas tudo bem, eu perdoo.

Não, DP11 não foi exatamente aquilo que eu sonhei ler durante todos esses anos. Eu só esperava um livro com Mia e Grandmere brigando sobre a cor da toalha de mesa, mas encontrei muito mais.

No final das contas, apesar do título, O casamento da princesa NÃO É um livro sobre o casamento. Aí está a grande pegadinha. Na verdade, ele só uma pequena parte disso. Assim como todo o resto da série NÃO É sobre a realeza, e sim sobre crescer, e valorizar seus amigos, e fazer coisa certa, e tentar fazer do mundo um lugar melhor, o último volume da série é um livro sobre família e gratidão. E sobre aceitar que ser adulto talvez não seja tão ruim assim. E que às vezes as surpresas que a vida nos reserva podem ser MUITO MELHORES do que o que a gente imaginava. Ainda bem.

PS. Maior ironia a Mia dizer que não ia casar até o casamento gay ser liberado (e um mês depois a Suprema Corte legalizar nos EUA). Ri sozinha no dia.
PS2. [SPOILER] Curti à beça Mia casando grávida. Reforça o caráter vanguardista da série (geralmente o bebê vem sempre depois), e de que quebra não deixa de ser uma baita ironia com a história da própria mãe dela. [/SPOILER]
PS3. Adorei que o Crazy Ivan's tem uma filial no Rio também. Hahahahahaha!
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