domingo, 5 de março de 2017

27

Ontem me juntei ao clube dos 27.

27 anos. Kurt Cobain, Jim Morrissey e Janes Joplin não conseguiram ultrapassar essa marca, por motivos de drogas. E depressão. E um monte de outras coisas ruins. Eu bem pretendo ultrapassar essa idade maldita da melhor forma, mas vou ter que confessar que fazer 27 não tem o mesmo peso de fazer 26. Porque com 26 você ainda se sente meio com 25, que é basicamente o melhor de dois mundos: você tem a vitalidade da juventude, a vontade de desbravar o mundo e o dinheiro pra fazer essas coisas acontecerem. Mas, com 27 eu já meio que me pergunto qual o sentido disso tudo.

Já há algum tempo (desde os 25, na verdade), venho me perguntando se nossa geração não falhou em sua missão de mudar o mundo. Quer dizer, quando a gente tem 15 anos, sempre ouve aquele papo de que somos “o futuro da nação” e fica aquela promessa de que tudo vai ser melhor. Só que chegam os 20 e poucos anos e esquecem de avisar que aquele futuro que falavam lá atrás já é o presente. Essa galera que antes falava de nostalgia de um modo exagerado, agora realmente tem motivos. E já vemos gente “da nossa idade” alcançando um lugar de relevância na sociedade, não de um jeito prodígio, mas simplesmente pelos próprios méritos. Definitivamente não é mais uma geração de promessas e sim de entregas.

E eu me pergunto que tipo de mundo estamos entregando para a nova turma que vai chegar. Porque parece que a geração que um dia foi a esperança ficou egoísta, mesquinha e mais do mesmo. E me dá um pouco de vergonha de ver o legado que a geração Nutella vai deixar. Porque nascemos em uma época em que grandes mudanças eram esperadas e aconteciam, e estamos entregando um mundo mais cinza, mais desigual e mais dividido.

Outro dia mesmo estava assistindo um show do U2 e, pra variar, claro que o show era irado! O estádio cheio, a galera ensandecida, aquela guitarra cortante do The Edge, a bateria rebelde do Larry, Bono Vox passando mensagens de paz, amor, respeito, igualdade... 

E aí fiquei com um pouco de pena do U2, que outrora estava ganhando tudo nos Grammys, não receber o devido valor atualmente porque os caras são muito bons. Mas, ao mesmo tempo, também senti que aquilo tudo agora parecia meio fora de contexto, porque não existem mais bandas como o U2 por aí. Esse negócio de mensagem política e ativismo social, muito comum na década de 80, acabou! Tem gente que diz que o Coldplay é o U2 dessa geração (e eu gosto bastante do Coldplay, principalmente depois de Viva la Vida, e nem sou a maior fã do U2 também, sinceramente), mas... não é a mesma coisa.

Em certos momentos, o show ganha ares quase religiosos, e as letras de Sunday Bloody Sunday parecem mais atuais do que nunca.

I can't believe the news today
Oh, I can't close my eyes
And make it go away
How long
How long must we sing this song?
How long? How long

Só que essa música já tem mais de 30 anos! E mais do que uma canção para chamar de nossa, me envergonha o simples fato de que ela ainda faça tanto sentido! Chega a ser irônico Bono estar há 30 anos se perguntando quanto tempo mais ele vai cantar essa canção! 

Passando a timeline do Facebok, vejo amigos fazendo “protesto de sofá”, ou engrossando o coro dos bolsominions. Vejo gente postando foto na praia e bebendo no carnaval. Gente namorando, noivando, casando, e, o mais difícil de tudo, tendo filhos sem ser por acidente. Não estou preparada para a parte dos filhos. Não mesmo.

E eu me recuso a acreditar que a vida seja só isso. Mas acho que essa parte é melhor deixar para um outro post.

É engraçado você meio que não reconhecer mais seus amigos também. Se há alguns anos, escrevia aqui mesmo neste blog, o quanto era legal ver todo mundo crescendo e conversar sobre o futuro e ver como nada tinha mudado, mesmo que tudo estivesse diferente, não posso dizer que isso ainda seja verdade aos 27 anos. Não que seja culpa de alguém especificamente. Também não posso dizer que seja a mesma desde quando... comecei este blog, por exemplo. Mas é meio esquisito perceber que muito do que vocês viveram está ficando pra trás. É hora de seguir em frente. A vida fica meio agridoce.

Com 27 anos completos, não posso dizer que a vida esteja ruim. Moro sozinha, ganho suficientemente bem para pagar o aluguel de um apê bacana, a carreira também vai bem obrigada, e eu adoro o que eu faço. E pode parecer uma vida chata, mas a verdade é que eu curti à beça a trajetória até aqui. Fiz grandes amigos, encontrei com todos os meus escritores favoritos, fiquei em porta de hotel, ganhei festa surpresa, fui a NY, entrei em cavernas, assisti a um show do Jamie Cullum na fila do gargarejo...

A quantidade de “life achievements” dessa lista dão uma sensação de dever cumprido que é muito legal. Dá um orgulho danado ver um monte de sonhos realizados no currículo. Mas, ao mesmo tempo, me divido entre me cobrar sobre o que ainda falta, e me perguntar o que mais ainda falta. Porque PRECISA faltar. Senão, qual a graça?

Bom, vou parar por aqui porque escrevendo esse post já percebi que tem assunto para uns dois ou três, e além de não elaborar nada, também já não estou fazendo muito sentido no meu devaneio introspectivo de aniversário.

Na falta de palavras melhores, deixo vocês com essa música do John Mayer que a cada ano faz mais sentido.

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